Grupos espanhóis são principais vencedores de leilão de transmissão recorde

Serão firmados contratos para construir 16 lotes de linhas de transmissão, com investimento total de R$ 13,2 bilhões

Taís Hirata
São Paulo

O leilão de linhas de transmissão de energia realizado nesta quinta-feira (20) atraiu forte concorrência entre grandes grupos do setor e gerou investimento recorde para um certame do gênero: R$ 13,2 bilhões.

Foram leiloados 16 lotes, com 7.152 quilômetros de linhas e subestações em 13 estados do país.

Tal como nos últimos leilões de transmissão, os descontos oferecidos pelas empresas foram altos. 

O deságio médio foi de 46%, mas chegaram a uma máxima de 59% em um dos lotes. No setor elétrico, os preços nos leilões têm tetos. Quanto maior o desconto (deságio), menor será o valor que o consumidor vai pagar na tarifa.

Fila em frente à sede da B3, no Centro de São Paulo, para entrar no leilão de transmissão de energia
Fila em frente à sede da B3, no Centro de São Paulo, para entrar no leilão de transmissão de energia - Taís Hirata/Folhapress

A concorrência ficou clara logo no início, pela longa fila em frente à sede da B3, no centro de São Paulo, onde o leilão foi realizado. O certame estava marcado para iniciar às 9h, mas teve atrasos devido à grande quantidade de participantes e problemas no credenciamento.

O grande vencedor do leilão foi a Neoenergia, empresa controlada pelo grupo espanhol Iberdrola. 

A companhia arrematou quatro dos maiores lotes ofertados: dois deles no Sul do país e outros dois no Rio de Janeiro. Ao todo, o grupo deverá investir R$ 6,1 bilhões nos próximos anos e receber uma receita anual de R$ 500 milhões pelo contrato. 

Com isso, a empresa elétrica, que também atua em distribuição e geração de energia, mais do que dobrará sua participação no segmento de transmissão, segundo Cristiane da Costa Fernandes, representante da Neoenergia. 

“[A expansão no segmento] É uma decisão estratégica que já existe desde o primeiro leilão [de transmissão em que participamos], em 2017”, diz ela.

Outro grupo que se destacou foi o consórcio Chimarrão, formado pela Cymi, também espanhola, e a Brookfield. Eles arremataram um lote no Rio Grande do Sul, com previsão de investimentos de R$ 2,43 bilhões e receita anual de R$ 219,5 milhões. 

Os indianos da Sterlite Power, que foram os grandes vencedores do último leilão de transmissão, realizado em junho deste ano, fizeram lances em diversos lotes, mas levaram apenas um deles, também no Rio Grande do Sul, com investimento de R$ 776 milhões e receita anual de R$ 74,7 milhões. 

Outros grandes grupos fizeram ofertas, mas não tiveram sucesso. É o caso da francesa Engie, da Equatorial e da chinesa State Grid, que só arrematou lotes por meio de sua controlada CPFL.

Entre as novas linhas que serão construídas, há uma concentração na região Sul do país. Grande parte delas fazia parte de um contrato, recentemente rescindido, com a Eletrosul, subsidiária da Eletrobras. A estatal não teve condições financeiras de construir as linhas, e estas tiveram que ser relicitadas. 

A competitividade dessas linhas não foi tão alta porque o valor das obras era maior, o que eleva a barreira de entrada no leilão, segundo Sandoval Feitosa Neto, diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). 

Apesar disso, ele comemora o resultado e ressalta que a solução de relicitação foi favorável ao consumidor. 

As concessões terão duração de 30 anos, e o prazo para que os empreendimentos entrem em operação comercial varia entre 48 e 60 meses —o que significa que boa parte desses recursos serão investidos já nos próximos cinco anos.

A programação de leilões de energia para o próximo ano já está em estudo e estará pronta até março.

“Provavelmente haverá dois leilões de energia nova [para contratar usinas geradoras] e, no mínimo, um leilão de transmissão no início do segundo semestre”, diz Moacir Bertol, secretário-adjunto de Planejamento do Ministério de Minas e Energia.

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