Meta do governo Bolsonaro de superávit primário em dois anos é desafiadora, diz Fitch

Para 2018, projeção é de um déficit de R$ 126 bi, segundo instituições financeiras consultadas pelo Ministério da Fazenda

Danielle Brant
Nova York

O objetivo do governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), de obter superávit primário [receitas menos despesas, sem considerar o pagamento de juros] em dois anos é desafiadora, afirmou nesta quinta-feira (12) Shelly Shetty, diretora sênior de ratings soberanos da agência de risco Fitch.

As declarações foram dadas em conferência sobre panorama para a América Latina em 2019, em Nova York.

“Se você olhar a agenda econômica, eles [os membros da equipe econômica do governo] querem conseguir um superávit primário em dois anos. Isso parece muito desafiador, no nosso ponto de vista”, afirmou. “Você não pode fazer isso apenas ajustando gastos.”

Para 2018, a projeção é de um déficit primário de R$ 126 bilhões, segundo instituições financeiras consultadas pelo Ministério da Fazenda. Para 2019, está em torno de R$ 100 bilhões.

Shetty avaliou ainda que a reforma da Previdência é fundamental para que o país consiga cumprir o teto de gastos, mas não é o suficiente. 

“Tem que ser complementada por outras medidas de corte gasto. Muita coisa tem que ser feito no primeiro ano do governo”, reconheceu.

Para a diretora da Fitch, é preciso aguardar para saber o que o governo conseguirá implementar de sua agenda econômica. Há dúvidas, por exemplo, sobre a privatização. 

“Dificilmente será algo fácil de tocar no Brasil. É difícil politicamente, encontra muita resistência no Congresso. A privatização da Eletrobras está levando mais de um ano”, disse.

No papel, esses objetivos e outros, como a independência do Banco Central, “parecem ótimos.”

“Dito isso, acho que o único risco no Brasil é execução, execução e execução.”

Por outro lado, a diretora da Fitch lembra que o presidente eleito conta com grande capital político. Além disso, o partido de Bolsonaro, o PSL, vai se tornar a segunda maior força política na Câmara dos Deputados, atrás apenas do PT.

“Isso dá mais força política para conseguir coalizões.”

Sobre o rating do país na Fitch, BB- com perspectiva estável --o que significa grau especulativo--, Shetty afirmou que uma alteração na nota de crédito vai ser influenciada mais pelos fatores econômicos do que por outras preocupações, como as críticas que o governo vem sofrendo por acenar com medidas controversas no campo de direitos humanos.

“Nossos modelos de rating incorporam indicadores de governança, que devem piorar. Mas a ênfase agora é no crescimento do país e nas finanças públicas”, afirma.

“Se tivermos progresso em reformas, crescimento e estabilização da dívida, seria um cenário mais positivo para os ratings do Brasil”.

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