Não é fácil explicar o que está acontecendo com o mercado financeiro

Bolsas americanas tiveram, na semana passada, o pior resultado desde a crise de 2008

Katie Martin
Londres | Financial Times

Encontrar uma narrativa para os grandes movimentos de mercado é basicamente o motivo para que analistas existam.

Comentaristas financeiros de televisão, estrategistas e até mesmo jornalistas dedicam boa parte de seu tempo para explicar por que o “grande evento político/macroeconômico X” gerou a “resposta de mercado Y”.

Não é um exercício despropositado, e a resposta nem sempre é errada —longe disso. Mas a prática tem limitações.

Prova disso são os esforços em curso para atrelar as oscilações nas ações dos Estados Unidos, e por extensão nas de todo o planeta, a um grande tema (comércio, petróleo, o fim da sustentação monetária, preocupações quanto ao crescimento americano etc.).

As Bolsas americanas tiveram, na semana passada, o pior resultado desde a crise de 2008.

É bem possível que os observadores estejam buscando respostas nos lugares errados. Talvez não haja um grande tema. Talvez alguns fundos de hedge simplesmente tenham errado.

É essa a sugestão de Pravit Chintawongvanich, estrategista de derivativos no banco Wells Fargo, em Nova York.

Em nota a clientes, ele apontou que nem todas as ações americanas são iguais. As variações recentes em seu desempenho foram pronunciadas, enquanto a volatilidade geral dos índices se mantinha surpreendentemente baixa.

Podemos estar diante de uma excentricidade sazonal: o período que antecede o Natal é quase sempre lento e firme.

Mas o mais importante é que o declínio que o S&P 500 (queda de 6,9% na última semana) vem registrando em dezembro não afeta igualmente todos os componentes do índice, e a correlação entre ações individuais é mais baixa do que em viradas recentes de mercado, como a de fevereiro de 2018 ou a de agosto de 2015.

“Isso aponta para a liquidação de posições compradas/vendidas de ações como móvel primário”, ele propõe.

De semana a semana, setores diferentes sofreram, começando com o de matérias-primas e a indústria, seguidos pela energia e pelas grandes ações de tecnologia, sucedidas pelo setor financeiro.

Isso sugere que os fundos que operam com uma mistura de posições compradas e vendidas de ações —essencialmente “stock pickers” [seletores de ações— estão enfrentando dificuldades.

“Eles não encontraram lugar para se esconder, já que todas as posições compradas favoritas terminaram por ser expostas”, disse Chintawongvanich.

De fato, esses fundos perderam 7,6% desde que a onda de vendas começou de verdade, em outubro, até a primeira semana de dezembro —mais ou menos o dobro da escala das perdas de fevereiro deste ano e de agosto de 2015.

Uma vez mais: por quê? A questão se transformou numa versão do velho debate sobre o ovo e a galinha. Mas pode ajudar a compreender o que estamos enfrentando, hoje.

O que virá a seguir, portanto? Ou isso continuará a pesar sobre o índice mais amplo, que despencará quando o pânico surgir, com “fuga ao risco maciça”, ou o processo seguirá seu curso e a onda de vendas vai parar.

“Isso se alinha também com a falta de demanda por ‘tail hedges’ [operações de hedge contra eventos altamente improváveis] e com a divergência entre as ações e a volatilidade da economia, que de acordo com a maioria dos indicadores vai bem”, escreveu Chintawongvanich.
 

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