Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Reforma fatiada pode gastar capital político de Bolsonaro, diz economista

Para especialistas, negociar propostas para Previdência em partes impõe risco político

Flavia Lima
São Paulo

Economistas se dividem ao avaliar a proposta do presidente eleito Jair Bolsonaro de fatiar a reforma da Previdência e começar as mudanças pela adoção de uma nova idade mínima de aposentadoria.

Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute, em Washington, diz que fatiar a reforma significa gastar capital político várias vezes, o que, em sua avaliação, não faria sentido. “Para um governo que é virgem em negociação, me parece ser uma péssima ideia.” 

Bolle teme que, ao apreciar a idade mínima, o Congresso dê o assunto por encerrado e passe a se voltar para as agendas que interessam aos grupos que apoiam o futuro presidente, como a de costumes, cara à bancada religiosa. 

Fabio Klein, especialista em contas públicas da Tendências Consultoria, afirma que a estratégia de natureza "procedimental" tende a ter efeitos mais negativos do que positivos, pois o governo correria o risco de perder o foco e, junto com ele, o esforço de mobilização. 

No sentido contrário, Luiz Gustavo Bichara, sócio do Bichara Advogados, diz que fatiar a proposta pode fazer sentido em um contexto no qual grandes mudanças podem gerar discussões intermináveis. 
“Parece uma estratégia política e legislativa mais inteligente”, diz Bichara.

Fábio Silveira, sócio da consultoria MacroSector, diz que a proposta faz sentido se as fatias aprovadas forem coerentes com o todo que se pretende aprovar. “Mas o mais importante é como esse todo será trabalhado com o desejo da maioria da população." 

Para Silveira, se as mensagens do governo eleito continuarem sendo “atrapalhadas e confusas”, há o risco razoável de o governo queimar o capital político em poucos meses. Para evitar esse desastre, afirma, cabe definir logo o que o governo central pretende economizar com os gastos previdenciários. 

“O futuro governo tem a obrigação de ter esse número. E mais do que isso. Como pretende repartir esse sacrifício entre setor público e setor privado. Se essas referências não ficarem claras na largada, vamos ingressar num debate infinito, cujos danos podem ser enormes para o país”, diz Silveira. 

Bolle, do Peterson Institute, teme que a tentativa de passar a reforma em pedaços reduza a proposta à questão da idade mínima. “E a idade mínima é só uma casquinha. A reforma da Previdência terá que ser muito mais do que isso se a intenção for reequilibrar as contas”. 

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