Retomada dos investimentos não virá do governo, diz Guardia

Ministro da Fazenda participou de evento da Febraban

Eduardo Guardia
Eduardo Guardia
Anaïs Fernandes
São Paulo

A retomada do investimento no Brasil não virá do governo, afirmou o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, nesta terça-feira (4).

Falando para uma plateia de dirigentes do setor financeiro, Guardia rebateu aqueles que criticam a imposição do teto aoa gastos públicos.

"Não tenhamos ilusões. Fomos criticados em referência ao teto porque houve redução do investimento público. A retomada do investimento na economia brasileira não virá do setor público", disse Guardia, acrescentando que é preciso que haja um arcabouço regulatório que atraia investidores.

De saída do cargo, que será assumido por Paulo Guedes, à frente do superministério da Economia, Guardia disse ainda que, sem a aprovação de uma reforma da Previdência, o teto não se sustenta. 

"Sem a reforma da Previdência não é crível a sustentação do teto do gastos e, sem o teto, não tenho ilusão de que, dada a situação fiscal, a alternativa não será inevitavelmente o aumento de impostos", afirmou.

Guardia disse que o ajuste não deve vir pelo aumento da carga tributária, mas afirmou também não ser possível no momento uma reforma que reduza impostos.

"Precisamos de uma reforma tributária que avance na simplificação e melhora da qualidade dos tributos, aperfeiçoando o PIS, revendo o imposto da pessoa jurídica."

Segundo Guardia, sua mensagem é de otimismo, mas o ministro pediu foco do próximo governo para enfrentar o ajuste fiscal. 

"A boa notícia é que o governo está comprometido com as reformas e o teto", disse, reforçando que as ações demandarão clareza de direção e agilidade.

"As reformas são difíceis, exigem diálogo e podem levar a desgaste do governo. Por isso, é importante começar com o cerne, que é a reforma fiscal", afirmou. 

Guardia disse que as questões no Brasil são muito judicializadas, o que vai exigir das autoridades um esforço para explicar ao judiciário e ao legislativo o impacto de temas econômicos.

"O Brasil ainda tem chances de fazer um ajuste gradual. Outros países não conseguiram e tiveram que recorrer a medidas de curto prazo."

O ministro passou ainda um "recado claro" de que as perspectivas de um cenário externo menos favorável  reforçam a urgência na continuidade das reformas.

"Sabemos as nossas vulnerabilidades e temos que enfrenta-las antes que o mundo fique mais adverso", disse.

Guardia falou em almoço da Febraban (federação dos bancos). No evento, o presidente da instituição, Murilo Portugal, anunciou uma campanha publicitária e o lançamento de um livro em que o setor traça sugestões para a redução das taxas de juros no Brasil.

"Bancos não gostam de juros altos. Para quem empresta, com juros menores é possivel emprestar mais a um número maior de clientes e diluir o risco", disse Portugal.

Segundo ele, é necessário reduzir o custo da intermediação financeira e incentivar a competição para que haja uma redução nos spreads bancários (diferença entre o custo de captação pelos bancos e o cobrado para emprestar).

"Nossa expectativa é, depois da posse, pedir uma audiência com o presidente [Jair Bolsonaro] para apresentar essa proposta. Mas eu já fiz alguns contatos e dei exemplares do livro para o ministro Paulo Guedes", disse Portugal.

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