Após ano de lenta recuperação, comércio festeja vendas de Natal

Último mês do ano elevou a confiança do setor, que agora atinge o maior nível desde 2013

Arthur Cagliari
São Paulo

Depois de meses com movimento fraco e oscilante, o comércio surpreendeu neste fim de ano com o crescimento das compras de Natal. O resultado do último mês do ano elevou a confiança do setor, que agora atinge o maior nível desde 2013.

Segundo dados da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), as vendas natalinas avançaram 5,5% sobre o Natal do ano passado.

"Foi acima do que esperávamos, porque vínhamos em um movimento muito fraco de vendas. Diria que o Natal ajudou a salvar o ano", afirmou o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun."

A associação atribui o resultado, entre outros, ao pagamento do 13º salário, cuja segunda parcela caiu no dia 20 de dezembro, a manutenção da Selic, a taxa básica de juros, na mínima histórica de 6,5% e inflação em baixa —nos 12 meses encerrados em novembro o índice estava em 4,05%.

Em todo o ano, as lojas em shoppings faturaram R$ 156,3 bilhões, segundo a associação --uma alta real (descontada a inflação) de 2,2% sobre 2017.

A associação não tem dados do Natal, o SPC Brasil estima movimentação de R$ 53,5 bilhões apenas na data.

"Após um período de retração da economia, observa-se uma perspectiva positiva do cenário pós-eleições, que estimulou muitos consumidores a irem às comprarem neste Natal", disse a economista-chefe do SPC, Marcela Kawauti.

A CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) afirmou que este foi o melhor Natal em cinco anos. Pesquisa da confederação, em parceria com o SPC, estimou em 2,66% as vendas a prazo na data, o segundo resultado positivo depois de três anos de quedas.

Outra entidade do setor, a FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), também registrou resultado positivo. 

Segundo cálculos da entidade, feitos com base em dados da Boa Vista SCPC, as vendas do setor no país entre 13 e 20 de dezembro --semana antes das comemorações natalinas --, cresceram 3,8%, ou R$ 1,7 bilhão a mais que em 2017.

O maior crescimento no Natal veio das vendas pela internet, cujo faturamento subiu 13,5%, para R$ 9,9 bilhões, segundo a Ebit/Nielsen.

No saldo anual, o faturamento do ecommerce deve fechar com alta de 12%, chegando a R$ 53,5 bilhões.

Os resultados positivos do fim do ano, depois de meses de altos e baixos --de acordo com Sahyoun, a paralisação dos caminhoneiros, a Copa do Mundo e o período pré-eleitoral travaram um melhor desempenho do setor ao longo do ano--, elevaram o otimismo dos comerciantes.

Em linha com o que disse Kawauti, do SPC, o presidente da Alshop afirmou que o clima de otimismo aumentou após a eleição e com a definição dos ministros do novo governo.

De perfil liberal, Paulo Guedes, escolhido por Jair Bolsonaro para comandar a pasta da Economia, foi bem recebido pelo mercado.

"Acreditamos que a economia deve entrar num processo de retomada forte de crescimento, ainda mais depois de o [futuro] ministro da Economia nos colocar que vai desonerar a folha de pagamento e vai começar a privilegiar os empresários", disse Sahyou.

OTIMISMO

A expectativa dos comerciantes por resultados melhores daqui para a frente foi captada pelo Índice de Confiança do Comércio, da FGV/Ibre.

Segundo a pesquisa, o índice subiu 5,7 pontos em dezembro, para 105,1, o maior nível desde abril de 2013"‚(índices acima de 100 indicam otimismo; abaixo, pessimismo).

"A confiança do comércio encerra 2018 com alta expressiva no quarto trimestre. É a primeira vez desde março de 2014 que o índice ultrapassa os 100 pontos, limite que identifica a transição para níveis elevados de confiança", disse o coordenador da FGV/Ibre, Rodolpho Tobler.

Esse aumento significativo da confiança é reflexo de que a movimentação do varejo no último mês de 2018 não ficou restrita à semana do Natal.

"Depois de passar por períodos turbulentos ao longo do ano, como a greve dos caminhoneiros e o período eleitoral, os comerciantes esperam aumento de vendas neste final de ano e têm boas expectativas para o começo de 2019", completou Tobler.

De modo geral, o brasileiro está mais otimista com a economia, de acordo com a última pesquisa Datafolha.

Segundo o instituto, 65% dos entrevistados acham que a situação econômica do Brasil vai melhorar nos próximos meses, ante apenas 23% que diziam isso no levantamento anterior, de agosto deste ano.
Já 67% dizem acreditar que estarão em melhor situação econômica pessoal à frente. Em agosto, eram 38%.

O Datafolha ouviu 2.077 pessoas em 130 municípios nos dias 18 e 19 deste mês.

Neste levantamento, acham que a economia brasileira vai piorar 9% --eram 31% em agosto. Já os que acreditam em estabilidade caíram de 41% para 24%. Na avaliação das finanças pessoais, os pessimistas passaram de 14% para 6%.

Os entrevistados que veem a situação igual à frente passaram de 44% para 25%.

Outro índice que apresentou variação positiva foi o Índice de Expectativas da FGV, que avançou pela terceira vez consecutiva, chegando a 112,58 pontos -- maior nível desde fevereiro de 2011.

Tobler, porém, faz uma ressalva. "A sustentação dessa recuperação dependerá da continuidade da melhoria do mercado de trabalho e da redução da incerteza".

Segundo o último relatório da IFI (Instituição Fiscal Independente do Senado), a economia brasileira se recupera, mas ainda de forma insuficiente para recolocar o país nos níveis de 2014, quando a crise econômica iniciou, o que deve ocorrer apenas em 2020.
Com agências de notícias

 
Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.