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Acordo Boeing-Embraer passa por sustos, mas militares saem satisfeitos

Dúvida levantada por Bolsonaro fez executivos correrem para explicar detalhes ao governo

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São Paulo

Desde a sexta passada (4), quando Jair Bolsonaro levantou dúvidas sobre a venda da divisão de aviação civil da Embraer para a Boeing, as empresas tentaram acalmar o novo governo acerca daquilo que o presidente chamou de "nosso patrimônio".

Fotos combinam os logotipos da americana Boeing e da brasileira Embraer, que fecharam acordo
Fotos combinam os logotipos da americana Boeing e da brasileira Embraer, que fecharam acordo - Eric Piermont - 18 e 23.jun.2018/AFP

O ponto que incomodava a FAB (Força Aérea Brasileira) e que acabou externado de forma atabalhoada por Bolsonaro era a possibilidade de a Embraer vender a qualquer momento os 20% que terá da nova empresa a ser formada.

A fala foi desastrosa para a Embraer, cujas ações caíram 5%. Novas conversas aconteceram e o governo foi convencido de que não interessa à "velha Embraer", empresa remanescente de defesa e aviação executiva, se desfazer no horizonte visível dos 20% que terá da "nova Embraer" porque essa será uma de suas principais fontes de renda.

Foi explicitado ao governo que a cláusula foi uma exigência da Embraer e que ela deveria ser lida pelo lado inverso também: a Boeing não pode nem forçar a venda dos 20% brasileiros, nem promover um processo de diluição acionária dessa participação.

De todo modo, o uso do pronome possessivo pelo presidente reflete a cultura militar que gestou a Embraer em 1969 e que garantiu a viabilidade de seus projetos militares a partir de demandas da FAB.

A carta foi sacada mesmo quando vazou a negociação entre as fabricantes de aviões em dezembro de 2017. O então presidente Michel Temer (MDB) falou que nunca "venderia a Embraer", uma meia bravata, já que ele poderia vetar o negócio.

Nacional a Embraer já não era há muito tempo, desde 1994, tendo cerca de 85% de seu controle na mão de acionistas estrangeiros.

Incentivada pelo Estado, a empresa sempre foi, seja por meio dos subsídios de exportação de produtos basicamente feitos com peças estrangeiras ou pelas encomendas domésticas militares, mas essa é outra discussão.

A cartada de Temer deu certo, e o grupo de trabalho do governo que negociou durante 2018 com americanos e brasileiros conseguiu basicamente tudo o que pediu.

A presença no grupo do expoente liberal Mansueto Almeida, secretário do Tesouro que permaneceu no cargo com Bolsonaro, sinalizava contudo a disposição de Temer em autorizar o negócio.

O ponto de saída foi tenso. Os americanos queriam comprar toda a Embraer, áreas de defesa e de aviação executiva inclusas. A FAB teorizou um cenário no qual encomendasse um novo tipo de avião à fabricante, como fez no caso do cargueiro KC-390, e tivesse suas exigências submetidas à boa vontade do Congresso americano.

A pressão também veio dos suecos da Saab, que montarão seu caça Gripen em instalações da Embraer, com transferência tecnológica prevista. Rivais da Boeing no mercado, ameaçaram deixar o contrato se tivessem seu aparelho sob supervisão dos americanos.

Assim, a excisão da divisão militar norteou toda a negociação e culminou no desenho final apresentado em dezembro e que recebeu o sinal verde do Planalto nesta quinta (10).

Ele ainda veio com um bônus, a joint-venture para novos contratos do KC-390 com controle brasileiro. O cargueiro é o mais promissor produto militar da Embraer, e já vinha sendo promovido pela Boeing em mercados internacionais.

O acordo é afilhado de Temer, mas seu parteiro é Bolsonaro. Não deixa de ser ironia histórica que um militar será acusado pela esquerda e sindicatos de "entregar nosso patrimônio" ou algo do gênero.

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