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Com biodigestor, bactérias trabalham a favor da economia

Resíduos de banheiros e restos da cozinha vão gerar gás para restaurante de São Paulo

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São Paulo

Aproveitando o recesso do final de ano, em pouco mais de 15 dias, a Casa Jaya, espaço que tem restaurante, café e salas para aulas e palestras, em Pinheiros, São Paulo, quebrou o piso, escavou o jardim, instalou novas tubulações e fechou um ciclo importante. Foi construído ali um biodigestor.

Construção de um biodigestor na Casa Jaya, em São Paulo
Construção de um biodigestor na Casa Jaya, em São Paulo - Divulgação

Com ele, a promessa de usar resíduos de forma integral e cortar pela metade a conta de gás em dois ou três meses.

As obras começaram em 22 de dezembro de 2018 e, no dia 9 de janeiro de 2019, estavam concluídas.
A Casa Jaya serve 110 refeições por dia, com bufê de saladas orgânicas e dois pratos quentes, com preço médio de R$ 38. 

O biodigestor é uma construção em forma de cilindro, alimentada por matéria orgânica, que é decomposta por bactérias. O processo é anaeróbio - por isso a estrutura deve ser fechada - e produz dióxido de carbono e metano. O metano pode ser usado para geração de energia elétrica ou térmica.

A estrutura é feita com manilhas de concreto e os tubos são de PVC.

Foi o primeiro biodigestor para restaurante que a Ecosapiens Soluções em Sustentabilidade fez em São Paulo. Segundo o ex-publicitário e permacultor Felipe Acea, um dos sócios da empresa, a estrutura deve suprir metade da demanda de gás da Casa Jaya. 

"O mais caro do projeto foi a tubulação, porque o terreno é grande e os banheiros são mais distantes. Mas a obra é rápida, simples e barata", afirma. "Em três meses de uso com a capacidade máxima a conta estará paga", diz.  

Na Casa Jaya, o biodigestor vai ser alimentado por fezes e urina dos sanitários, de um lado, e de restos das preparações da cozinha, que passarão antes por um triturador. O biogás gerado vai ser enviado para os fogões. No processo, também o esgoto é beneficiado, pois a água resultante é devolvida para a rede em padrão compatível com a infiltração no solo. 

Como subproduto, o lodo que se acumula nas caixas de passagem do sistema pode servir de adubo.
Na reforma, foi feito um sumidouro para receber água de chuva que é captada através de um piso drenante.

Pátio da Casa Jaya, que tem biodigestor
Pátio da Casa Jaya, que tem biodigestor - Divulgação


"Com o biodigestor, colocamos as bactérias para trabalhar. O resíduo vira gás e adubo e fazemos o ciclo completo, do prato à horta e ao prato", diz.

A engenheira ambiental e permacultora Thais Simoni fez o levantamento preliminar das condições do local, como volume de água, quantidade de resíduos, vazão dos banheiros. "O sistema é seguro", afirma.

 
"Os banheiros são muito utilizados, mas é da cozinha que virão mais resíduos. O biodigestor vai trabalhar. A cada 20 litros de resíduo que entra no sistema, é gerado gás suficiente para 2 horas de trabalho na estrutura atual do restaurante", diz Thais. 

Felipe Acea diz que será instalado um medidor no salão do restaurante para deixar que os clientes acompanhem a geração de gás do novo Biodigestor. "É educativo", diz.

"A ideia vem de tempos. Desde que entramos na casa, que é uma construção antiga, queríamos ter uma boa solução para o esgoto. Com o biodigestor, fazemos nosso papel na redução de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) e entregamos uma água melhor para a rede", diz Julio Avanzo, proprietário da Casa Jaya.

A instalação diminui a "pegada ecológica" da casa, que já capta água de chuva em uma cisterna de 4,8 mil litros. A água é usada para lavagem de pisos, rega de jardins e da horta e para as caixas acopladas dos banheiros, nas descargas.

Ali também se faz compostagem dos restos de comida do restaurante e do café, usando o sistema termofílico. Por mês, é gerada 1 tonelada de composto, vendido a R$ 0,35 o kg para os produtores de orgânicos, gerando abatimento na conta das compras para a cozinha.

"100% sustentável não dá para ser, claro, porque é impossível. Mas em dois ou três meses, que é o tempo de alimentação inicial do biodigestor, esperamos ter autonomia total de uma das cozinhas", diz Avanzo.

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