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Como a Holanda conseguiu plantar sua primeira safra de bananas sem usar terra

Pesquisa coordenada pelo cientista Gert Kema pode ajudar a contornar o chamado 'mal do Panamá'

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Alejandra Martins
BBC News Brasil

A Holanda conseguiu produzir a sua primeira safra de bananas. Mas, diferentemente das colhidas no Brasil, no Caribe e em outros países onde essa fruta dá em abundância no solo, a banana holandesa foi feita em laboratório, longe da terra.

A ideia foi do cientista Gert Kema, numa tentativa de combater um dos maiores inimigos das plantações de banana: o chamado "mal do Panamá", causado por um fungo transmitido pelo solo. A doença é "uma ameaça à produção mundial" da fruta", destacou à Kema à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Professor de patologia de plantas tropicais da Universidade de Wageningen, na Holanda, Kema afirma que a "solução" para o problema foi "tirar a banana do solo". "As plantas cresceram muito bem com a aplicação de nutrientes", afirmou.

Kema cultivou 60 plantas de banana em estufas. Em vez de terra, utilizou fibra de coco (obtido da casca do coco) e lã mineral ou de pedras (fibras obtidas da rocha basáltica).

Dessa forma, ele evitou a presença do fungo que causa o mal do Panamá. "Não se trata de bananas hidropônicas porque as raízes não estão numa solução à base de água", destacou o cientista.

"Acrescentamos nutrientes através de irrigação por conta gotas". Cultivar bananas em meio artificial permite controlar cada aspecto do processo e evita a perda de nutrientes, de acordo com Kema.

"É um exemplo de agricultura de precisão, que permite criar uma separação maior entre as plantas que recebem mais luz e amadurecem mais rápido."

Kema e sua equipe cultivaram 60 plantas de banana em estufas
Kema e sua equipe cultivaram 60 plantas de banana em estufas - Corteria Gert Kema/BBC News Brasil

AMEAÇA

As bananas são um alimento essencial à dieta de cerca de 400 milhões de pessoas no mundo, segundo a Universidade de Wageningen.

E até agora não tem sido possível conter a expansão do mal do Panamá nas bananas, que vem afetando principalmente países da Ásia e da África.

A doença, que leva o nome de Panamá porque foi detectada lá pela primeira vez, aniquilou a banana mais exportada dos anos 50, a variedade Gros Michel.

O mal do Panamá é causado pelo fungo Fusarium oxysporum. É um agente patogênico muito difícil de combater, porque nasce na terra e se propaga muito facilmente pela água e as partículas de terra, especialmente no contato com sapatos, roupa e ferramentas.

O mal não pode ser controlado com fungicidas. Após o desaparecimento da banana Gros Michel, os produtores se concentraram em outra espécie chamada Cavendish, menor e menos saborosa, mas mais resistente e mais apta a exportações, por não serem tão suscetíveis a contaminações.

No entanto, as bananas Cavendish não são resistentes a variações do fungo chamadas TR4 ou raça tropical 4.

As bananas são cultivadas por Gert Kema usando lã de rochas ou fibra de coco
As bananas são cultivadas por Gert Kema usando lã de rochas ou fibra de coco - Getty Images/BBC Brasil News

TESTES NAS FILIPINAS

Será que o método Kema poderia ser replicado em maior escala, inclusive na América Latina?

"Potencialmente, sim. A plantação em substratos já é usada na horticultura, por exemplo, de tomates e pepinos", destacou Kema.

"Acredito que esse método tem muito potencial e permitirá evitar perdas por doenças e pestes. Poderia contribuir para o controle do mal do Panamá de outras doenças transmitidas pelo solo que ameaçam produções mundiais."

A empresa suíça Chiquita, de produção e distribuição de bananas, expressou interesse no trabalho de Kema.

"Fizemos um teste nas Filipinas em colaboração com a Chiquita", disse Kema à BBC Mundo.

"Esperamos fazer outros testes, ainda que não tenhamos definido onde. E nos interessaria muito experimentar a técnica em alguma região do mundo afetada pelo fungo TR4."

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