Desastre da Vale pode levar compradores a buscar mais minério de ferro da Austrália

Margens menor nas siderúrgicas chinesas também trabalha contra fornecedores de minério de alta qualidade como a mineradora brasileira

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Melbourne e Pequim | Reuters

O catastrófico rompimento de uma barragem da Vale em Minas Gerais pode derrubar a brasileira de seu posto de maior exportadora global de minério de ferro, uma vez que um salto nos preços da commodity após o desastre leva compradores a buscar rivais que oferecem minério mais barato, disseram fontes da indústria nesta quarta-feira (30).

O colapso da barragem, que matou ao menos 84 pessoas e deixou centenas de desaparecidos, provavelmente mortos, gerou movimentos do governo para apertar a regulação do setor.

A própria Vale disse na terça-feira (29) que irá paralisar a operação de cerca de 10% de sua produção para descomissionar um total de dez barragens em um período de até três anos, um movimento que deverá retirar do mercado de minério de ferro até 40 milhões de toneladas por ano.

Isso pode tirar a Vale do trono de maior vendedora de minério ao exterior e beneficiar rivais australianas como Rio Tinto, BHP e Fortescue Metals Group, disse Vivek Dhar, do Commonwealth Bank.

"A Rio Tinto é cerca de 23% a 24% do mercado de exportação, e a Vale tem 24%. Se tivermos uma queda maior [nos embarques da Vale] eu acho que a Rio poderia se tornar o maior 'player'", afirmou ele.

Margens menores nas siderúrgicas chinesas também trabalham contra os fornecedores de minério de alta qualidade, uma vez que operadores chineses têm cortado custos nos últimos meses.

Essa tendência vinha beneficiando desde o final de 2018 a Fortescue, que produz o minério de menor teor, mas a continuidade do movimento também poderia impulsionar vendas de outras mineradoras australianas.

"O que provavelmente ocorrerá é que se virmos o minério de alto teor da Vale sair [do mercado], você terá uma demanda maior por graduações medianas. Isso vai favorecer mais o minério da BHP e da Rio", afirmou Dhar.

Fabricantes de aço e operadores na China têm se preparado para uma queda na oferta da Vale no período após o Ano Novo Lunar chinês. Mas um consumidor com contrato de longo prazo com a Vale na província de Hebei, pólo siderúrgico, disse que não foi notificado pela mineradora brasileira sobre mudanças no fornecimento.

Um comerciante de minério de ferro em Qingdao disse que a redução de produção de 40 milhões é um montante bem grande. Ele afirmou esperar que a Vale vá priorizar o fornecimento às usinas com as quais assinou contratos de longo prazo, o que significaria que o volume que a Vale colocará no mercado spot será menor.

Segundo esse comerciante, os preços saltaram, não se sabe por quanto tempo. Se as usinas não aceitarem preços assim tão altos, elas buscarão alternativas de suprimento mais baratas na Austrália, ele disse.

A Vale afirmou que o impacto será compensado por um aumento na produção em outras áreas, mas analistas veem uma rápida alta na produção como improvável.

"Quando sua licença social para operar está sob ameaça, começar novas operações ou aumentar a produção pode ser algo que suscitará análises maiores", disse o analista Matthew Keane, da corretora Argonaut.

Enquanto as ações da Vale caíram 23% desde sexta-feira, os papéis da Rio avançaram 8,4%, a BHP ganhou 4,7% e a Fortescue valorizou-se em 12,9%.

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