O memorando enviado por Carlos Zarlenga, presidente da General Motors Mercosul, aos funcionários da montadora mostra a fragilidade dos negócios neste período de retomada tímida no Brasil e crise na Argentina.
Apesar de ser líder no mercado desde 2016, o executivo disse aos empregados que, após perdas nos últimos anos, a operação atingiu “um momento crítico que exige sacrifícios de todos”. A filial sul-americana tem sido pressionada pela matriz.
A GM iniciou sua renovação de produtos no Brasil há seis anos, quando lançou o Chevrolet Onix. A montadora passava por um momento difícil nos EUA, recebendo ajuda do governo Obama após estar à beira da falência.
Porém, por não ter recursos para investimentos pesados em novas plataformas —era preciso socorrer a matriz naquele momento—, a filial nacional baseou seus produtos no antigo Corsa europeu.
Era uma solução em dia com o mercado brasileiro, mas precisava de um grande volume de vendas para tornar a operação rentável. Os novos carros concorreriam em faixas de entrada do mercado, com menor rentabilidade.
Onix, Prisma, Spin e Cobalt obtiveram boas colocações em vendas, mas as bases de comparação tornaram-se rasas a partir de 2014, quando o mercado teve grande retração devido à crise.
Faltava à General Motors do Brasil um produto de maior valor agregado que vendesse bem apesar da recessão. Esse carro seria um utilitário compacto nacional, que não foi lançado. A importação do Tracker mexicano, em baixo volume, não foi suficiente.
Por não vender tanto quanto o esperado antes da crise, a filial teve dificuldades em recuperar os investimentos feitos na renovação da linha de produtos.
A montadora teve ainda problemas com a ociosidade da fábrica de São José dos Campos (interior de São Paulo) e o baixo volume de seu único carro de passeio nacional de maior preço, o Cruze.
A General Motors está prestes a renovar globalmente sua linha de produtos com uma plataforma unificada, projeto já anunciado pela matriz. A China será o ponto principal: é lá que estão nascendo os novos Onix, Prisma e Tracker.
O Brasil ainda deve assumir um papel de protagonismo nesse desenvolvimento, apesar de os departamentos de engenharia e design da marca no país terem perdido prestígio. Contudo, ainda precisa pagar os investimentos feitos na última renovação de veículos, que teve início entre 2011 e 2012.
Caso não apresente bons resultados neste ano, há o risco de o Brasil continuar em descompasso com outros mercados de características similares em que a GM atua.
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