Equipamento de energia solar da Huawei ameaça rede dos EUA, dizem legisladores

Hackers poderiam permitir a terceiros desacelerar ou interromper suprimento de energia

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Kiran Stacey
Washington | Financial Times

As vendas de equipamentos de energia solar da Huawei nos Estados Unidos representam uma ameaça a toda a rede elétrica do país, advertiram congressistas, criando mais uma frente de conflito entre os políticos americanos e a companhia chinesa.

Legisladores do Partido Democrata e do Partido Republicano disseram que os equipamentos de energia solar da Huawei poderiam ser alvo de "hacking" e permitir que terceiros desacelerassem ou mesmo interrompessem o suprimento de energia dos Estados Unidos.

Os alertas deles surgem apenas seis semanas depois que as autoridades canadenses detiveram Meng Wanzhou, vice-presidente de finanças da Huawei e filha do fundador da empresa, Ren Zhengfei, em Vancouver, em razão de acusações americanas de que ela teria violado as sanções dos Estados Unidos contra o Irã. A ação exacerbou as tensões comerciais entre Pequim e Washington.

Tom Marino, deputado federal democrata pela Pensilvânia, escreveu ao secretário de Energia americano, Rick Perry, se declarando "preocupado com a entrada da companhia nos mercados de energia solar em larga escala e residencial, que pode representar uma ameaça à infraestrutura de nossa nação".

Bob Latta, republicano e membro do comitê de energia e comércio da Câmara dos Deputados, disse que "garantir que nossa infraestrutura de energia esteja segura e protegida, e seja resistente, é uma questão criticamente importante.

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Stand da chinesa Huawei durante a CES, feira de tecnologia em Las Vegas - Steve Marcus/Reuters

Dados os esforços documentados de agentes estatais para violar nossa infraestrutura de energia, é essencial que sejamos mais vigilantes que nunca quanto à tecnologia que usamos".

Jerry McNerney, deputado federal democrata pela Califórnia, disse que "se estivermos usando equipamentos fabricados por fornecedores menos que confiáveis, estaremos nos posicionando para abuso. As agências de inteligência americanas alertaram as empresas dos Estados Unidos de que a Huawei não merece confiança, e isso é algo que precisamos levar a sério".

McNerney apelou ao governo Trump que obrigue a Huawei a revelar exatamente o que os equipamentos de energia solar que ela vende nos Estados Unidos contêm.

As declarações dos deputados intensificam a pressão sobre a Huawei, que é vista com suspeita há muito tempo pelas autoridades americanas. Congressistas e representantes do governo Trump expressaram preocupação com a possibilidade de que a tecnologia da empresa seja usada pelo governo chinês para espionagem ou ataques cibernéticos.

Os Estados Unidos estão pressionando seus aliados, nos últimos meses, para que restrinjam as vendas de equipamentos da Huawei usados em redes de telecomunicações 5G de alta velocidade, enquanto a Justiça leva adiante seu caso contra Meng.

Na quarta-feira, um grupo bipartidário de legisladores americanos anunciou um projeto de lei que proibiria a venda de componentes americanos a companhias chinesas que violem sanções decretadas pelos Estados Unidos. Analistas dizem que se essa restrição fosse aplicada à Huawei, os negócios mundiais da empresa poderiam ser paralisados.

Também na quarta-feira, o The Wall Street Journal noticiou que procuradores públicos federais americanos estavam conduzindo uma investigação criminal sobre a Huawei por suposto roubo de segredos comerciais de parceiros americanos de negócios, entre os quais a T-Mobile. A Huawei disse que não comentaria "esse tipo de notícia", acrescentando que a disputa entre ela e a T-Mobile havia sido encerrada por acordo.

No começo da semana, Ren, fundador e presidente da Huawei, deu uma de suas raras declarações públicas, negando que sua empresa tivesse espionado para a China em qualquer ocasião.

Mas sua negativa não acalmou os temores dos congressistas americanos, que alertam que a companhia representa um risco não só no mercado de telecomunicações mas com suas vendas de equipamentos de eletricidade.

A Huawei vende inversores, que ajudam a transferir a eletricidade gerada por painéis solares para a rede elétrica. No momento, ela responde por cerca de 20% dos inversores vendidos nos Estados Unidos para uso comercial em pequena escala, de acordo com analistas.

Os inversores também fornecem informações a terceiros sobre a quantidade de energia que passa por eles, o que gerou preocupações de que possam ser acessados, e mesmo desativados, por esses terceiros.

A companhia disse que não existem provas de vulnerabilidades em sua tecnologia, mas que estava disposta a cooperar com as autoridades e realizar testes, se necessário.

Andy Purdy, vice-presidente de segurança da Huawei Technologies USA, disse que "não existem provas, e jamais ouvi qualquer acusação específica, de que nossos produtos apresentem vulnerabilidades maiores que os de qualquer outra empresa".

Bates Marshall, gerente geral das operações de energia solar da Huawei nos Estados Unidos, disse que "tudo que fazemos nos Estados Unidos está de acordo com as regras de segurança cibernética".

O Departamento de Energia dos Estados Unidos não respondeu a um pedido de comentário.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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