Executivos da Renault e da Michelin assumem lugar de Ghosn na montadora

Carlos Ghosn está preso no Japão desde novembro do ano passado

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Boulogne-Billancourt (França) | AFP

O presidente da Michelin, Jean-Dominique Senard, foi eleito nesta quinta-feira (24) presidente do conselho de administração da Renault, enquanto Thierry Bolloré, que já estava à frente da montadora francesa desde que Carlos Ghosn foi preso, foi nomeado presidente-executivo.

Os dois cargos eram acumulados por Ghosn, que dirigia a Renault desde 2005 e está preso no Japão desde 19 de novembro do ano passado. Carlos Ghosn pediu demissão da presidência na quarta-feira (23) à noite. 

"É importante hoje encontrar serenidade após os eventos particularmente extraordinários que acabamos de viver", declarou Senard depois da reunião do conselho administrativo em Boulogne-Billancourt, perto de Paris.

O conselho insistiu, na prioridade que o novo presidente deve dar à aliança com Nissan e Mitsubishi, que se encontra numa situação delicada desde a prisão de Ghosn, que também liderava o grupo.

"O conselho deseja supervisionar ativamente o funcionamento da aliança e decide confiar a seu presidente a plena responsabilidade por conduzir a Aliança em nome da Renault, em colaboração com o diretor geral". 

"Senard será o principal representante da Renault nos órgãos diretivos da Aliança", acrescentou.

O ministro da Economia da França, Bruno Le Maire, elogiou as nomeações. 

"Uma nova página da história da Renault começa a ser escrita. Desejo sucesso a Jean-Dominique Senard e Thierry Bolloré. A aliança Renault-Nissan deve continuar como número um mundial e continuar a ser motivo de orgulho de seus funcionários", escreveu em uma publicação no Twitter.

"A aliança Renault-Nissan precisa de uma governança sólida e estável para superar os desafios", acrescentou.

Ele também frisou que o estado francês será "extremamente vigilante" quanto ao processo de saída de Ghosn. 

O ex-executivo é alvo de três acusações, por suposta quebra de confiança e ter omitido das autoridades da Bolsa quase 5 bilhões de ienes (US$ 44 milhões) de seus rendimentos entre 2010 e 2015.

A Nissan também faz outras acusações, como a compra de residências de luxo em Beirute, Rio ou Paris, doações a universidades no Líbano ou o suposto emprego fantasma de sua irmã no Brasil, tudo pago pela montadora japonesa.

O julgamento, que pode levar Ghosn a uma condenação de 15 anos de prisão, ainda vai demorar meses.

Jean-Dominique Senard (à esq.), novo presidente do conselho da Renault, e Thierry Bolloré, presidente-executivo
Jean-Dominique Senard (à esq.), novo presidente do conselho da Renault, e Thierry Bolloré, presidente-executivo - Philippe Wojaze/Reuters

ALIANÇA

 Senard tem o importante apoio do governo francês, uma vez que o estado é o primeiro acionista da Renault, com 15% do capital e cerca de 22% dos direitos de voto.

Já Thierry Bolloré, que ocupa o cargo de diretor geral interino desde o final de novembro, representa a continuidade dentro do grupo, ao qual se juntou em 2012.

Ele conhece bem o mercado asiático, em particular o japonês, uma vantagem neste momento em que a futura relação entre a Nissan e a Renault é permeada de dúvidas.

Embora o presidente-executivo da Nissan, Hiroto Saikawa, insista que a aliança entre Renault e Nissan, construída por Carlos Ghosn, não está "absolutamente em perigo", as dúvidas são grandes.

Quem, por exemplo, vai presidir a aliança, número um mundial do setor em 2017, com 10,6 milhões de veículos vendidos, incluindo 3,76 milhões para Renault e 5,81 milhões para a Nissan? A sucessão parece um quebra-cabeça, mesmo que o estatuto diga que o presidente-executivo da entidade deva ser nomeado pela Renault, enquanto a Nissan escolhe o vice-presidente.

A Renault detém 43% da Nissan, que por sua vez detém 15% da Renault (sem direito a voto) e 34% da Mitsubishi. 

Mas a Nissan pesa quase o dobro da Renault no mercado de ações e a situação gera ressentimento no Japão.

Primeiro sinal de distensão entre os dois grupos, a Nissan anunciou nesta quinta-feira a realização de uma assembleia geral extraordinária em meados de abril para ratificar a demissão de Ghosn e nomear um novo líder, uma demanda da Renault que o aliado japonês evitava até agora. 

Uma revisão da aliança, da qual Carlos Ghosn era a pedra angular, poderia significar uma perda de influência da Renault.

No domingo passado, Bruno Le Maire negou veementemente informações da imprensa japonesa de que representantes do Estado francês teriam pedido uma fusão entre a Renault e a Nissan. Um cenário que "não está na mesa".

Carlos Ghosn lega uma empresa com boa saúde financeira, depois de ter aumentado o volume de vendas globais em mais de 50%, para quase 4 milhões de veículos (excluindo Nissan e Mitsubishi).

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