O executivo Carlos Ghosn teria recebido indevidamente US$ 9 milhões de compensação de uma joint venture entre a Nissan e a Mitsubishi, disseram as montadoras japonesas nesta sexta-feira (18), levantando a possibilidade de que seu presidente deposto enfrente uma nova acusação de peculato.
As montadoras afirmaram terem descoberto, por uma investigação interna, que a joint venture Nissan-Mitsubishi B.V., com sede na Holanda, realizou os pagamentos sem o conhecimento dos outros dois diretores da unidade: Hiroto Saikawa, presidente-executivo da Nissan, e Osamu Masuko, à frente da Mitsubishi.
Ghosn, que está detido em Tóquio desde 19 de novembro, é alvo de três acusações, por abuso de confiança e outras infrações financeiras, como por supostamente transferir temporariamente perdas pessoais com investimentos para a Nissan e por ocultar parte sua renda durante três anos. Ele nega todas as acusações.
"Que tal má conduta também ocorreu em nossa afiliada está além de chocante, é triste", disse Masuko a repórteres.
Tanto a Mitsubishi quanto a Nissan disseram que considerariam maneiras de recuperar a quantia de Ghosn. O advogado da Mitsubishi, Kei Umebayashi, afirmou que uma acusação criminal também é possível.
"A acusação mais provável para isso seria peculato", disse.
De acordo com a equipe jurídica da Mitsubishi, entre abril e novembro de 2018, Ghosn recebeu cerca de € 5,8 milhões de euros (US$ 6,61 milhões) em remuneração anual por seu papel de diretor administrativo, uma taxa de assinatura de € 1,4 milhão e um incentivo não revelado da JV.
A unidade destinava-se a financiar despesas para a parceria, incluindo honorários de consultoria, atividades promocionais conjuntas, uso do espaço de trabalho e jatos corporativos, disse Masuko.
"Desde o momento que a unidade foi estabelecida até quando me disseram sobre os pagamentos, eu não tinha absolutamente nenhuma ideia de que a unidade estava sendo usada para tais pagamentos", acrescentou Masuko.
O advogado de Ghosn, Motonari Otsuru, não pôde ser contatado imediatamente para um comentário.
A prisão de Ghosn, que liderou a recuperação da Nissan há duas décadas, e a lista de acusações contra ele abalaram a indústria automobilística, enquanto turvam as perspectivas da aliança tripartida da Nissan com a Mitsubishi e a francesa Renault.
Nos últimos dias, a Renault sofreu muita pressão de seu maior acionista, o governo francês, para substituir Ghosn como presidente-executivo e presidente do conselho.
A montadora francesa, no entanto, confirmou na quinta-feira (17) que estava considerando uma nova liderança, depois que o ministro das Finanças, Bruno Le Maire, convocou publicamente uma reunião do conselho para tratar da sucessão.
O pagamento de Ghosn tem sido assunto muito debatido nas assembleias de acionistas da Renault, onde ele perdeu uma votação sobre o assunto há alguns anos.
A Renault possui cerca de 43% da Nissan, a maior empresa na aliança por vendas e que por sua vez tem participação de 15% sem direito a voto na Renault. A Mitsubishi tornou-se o menor membro quando a Nissan assumiu em 2016 uma participação de 34%.
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