"A GM quer colocar a questão da continuidade das plantas de São José e São Caetano para que possa trazer novos investimentos. Ela está condicionando isso a alguns setores. Até agora não sabemos o que a GM pretende com os sindicatos, não foi apresentada pauta. Estamos flexíveis às negociações, mas deixamos claro que não abrimos mão de direitos", disse Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, do sindicato dos metalúrgicos de São Caetano.
O encontro desta terça foi anunciado em um comunicado de Zarlenga divulgado nas fábricas brasileiras.
Nele, a GM alerta funcionários de que novos investimentos locais dependem de um doloroso plano para a operação voltar a lucrar no país, após as fortes perdas dos últimos três anos.
Zarlenga escreveu que o braço brasileiro vive um momento crítico e que 2019 será um ano decisivo para a operação, levantando temores entre sindicatos de que unidades no Brasil poderiam ser fechadas.
A carta de Zarlenga cita comentários recentes feitos pela presidente mundial da montadora, Mary Barra, sobre desafios na América do Sul, onde a GM é líder. "Não vamos continuar empregando capital para perder dinheiro", disse ela.
Questionados sobre a possibilidade de fechamento das unidades de São José dos Campos e São Caetano do Sul, os prefeitos disseram que o desinvestimento leva à inoperância das linhas de produção.
"[Zarlenga] deu uma explicação clara de que a situação na indústria automobilística não funciona assim. O que existe é desinvestimento e, no momento em que optamos por isso, o ciclo de um produto acaba e ela [a fábrica] deixa de ter importância", afirmou Ramuth.
"Em um primeiro momento, não se cogitou o fechamento de fábrica. Cogitou-se a possibilidade de novos investimentos, mas é notório que, não os trazendo, vai levar ao fechamento gradativo das plantas", disse Cidão.
Em 2014, Barra esteve no Brasil para anunciar a aplicação de R$ 6,5 bilhões até 2019, dinheiro que seria usado para modernizar fábricas e lançar novos carros. Um ano depois, em plena crise, a montadora divulgou que dobraria a aposta.
O investimento total seria de R$ 13 bilhões em um período maior, entre 2014 e 2020. Ao menos R$ 4,5 bilhões foram aplicados até o ano passado. Mas ainda há um valor não especificado que deveria ser investido na renovação dos produtos.
Para Luiz Carlos Prates, o Mancha, do sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos, a situação financeira da GM é estável no momento e não há necessidade de demissões. "Esse projeto de reestruturação busca descarregar nas costas dos trabalhadores uma crise que não existe", disse.
Segundo os prefeitos, o "ponta pé inicial" para as negociações foi dado pela GM e novas reuniões devem ocorrer. "O trabalho agora tem que ser feito de forma ágil e rápida. Temos pouco tempo para que todos os atores cheguem a um entendimento", disse Ramuth.
A diretoria da GM se encontra novamente com representantes dos metalúrgicos de São José às 15h desta terça, e com o sindicato de São Caetano às 9h de quarta-feira (23). Os sindicalistas esperam que, nessas reuniões, sejam apresentadas pautas mais claras, que seriam, então, encaminhadas a assembleias da trabalhadores.
A GM fabrica o carro mais vendido no Brasil atualmente, o Chevrolet Onix, produzido na fábrica de Gravataí (RS) e que fechou 2018 com mais de 200 mil unidades emplacadas.
No início do ano passado, a GM anunciou investimento de R$ 1,2 bilhão, como parte do plano total até 2020, para modernizar a fábrica de São Caetano do Sul e ampliar sua capacidade anual de 250 mil veículos para 330 mil. Uma nova linha de SUV inicia em dezembro, segundo Auricchio Júnior.
De acordo com dados divulgados pela General Motors, o último grande investimento na fábrica de São José dos Campos ocorreu em 2010, quando R$ 800 milhões foram aplicados para produzir a geração atual da picape S10 e o utilitário Trailblazer. A unidade tem 4.800 funcionários e trabalha atualmente em dois turnos.
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