Novo ciclo de investimento da GM depende de renegociação com governos

Presidente da montadora se reuniu com sindicatos e prefeitos de São José dos Campos e de São Caetano

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São José dos Campos
Esgotado o plano de investimentos de R$ 13 bilhões até 2020, um novo ciclo de aportes da General Motors em fábricas brasileiras como as de São José dos Campos (interior de SP) e São Caetano do Sul (Grande SP) vai depender de renegociações com governos, sindicatos e o restante da cadeia, afirmaram prefeitos das duas cidades após reunião com a diretoria da montadora nesta terça-feira (22).
 
Sob pressão, o presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga, se encontrou com representantes dos sindicatos das regiões e os prefeitos tucanos Felicio Ramuth, de São José dos Campos, e José Auricchio  Júnior, de São Caetano.
 
"Foi uma conversa franca e clara. O momento que a GM passa é delicado. Acompanhamos os últimos movimentos da GM global, com fechamento de fábricas. No Brasil, existe a oportunidade de investimento, mas São José dos Campos, São Caetano e o Brasil têm de fazer a lição de casa", afirmou Ramuth.
 
A GM não falou com a imprensa no local e informou que não irá comentar.
 
 
Sem falar em valores ou demandas apresentadas pela GM, os prefeitos disseram que um novo ciclo —mais curto, de produtos consolidados e testados pela fabricante, segundo Auricchio Junior—, poderia ser iniciado na fábrica de São Caetano entre 2021 e 2022, e entre 2022 e 2023 na unidade de São José. 
 
"Desde que exista êxito nesse novo estudo de investimentos", disse o prefeito de São Caetano. Ele citou quatro pilares de negociação para a GM: com os governos estadual e municipal ---onde, segundo Auricchio, as conversas estão andando com velocidade positiva--, com revendedores, que já teriam sido abordados pela montadora, além de sindicatos e fornecedores.
 

A GM se reuniu com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em cinco ocasiões, de acordo com Ramuth. "Como empreendedor e empresário, Doria sabe da importância de manter as fábricas e os empregos proporcionados pela GM. Já estivemos em contato com o governador também", afirmou. 

À Folha o secretário de Fazenda e Planejamento do estado, Henrique Meirelles, disse que o governo de São Paulo estuda socorrer a GM com antecipação de créditos de ICMS (Imposto sobre Circulação de Bens de Serviços) sobre os quais a empresa tem direito.

Sem mencionar valores, Meirelles falou também da possibilidade de oferecer benefícios fiscais de ICMS, mas ressaltou que eles dependem de aprovação do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária), cuja reunião está marcada para abril. O governo de São Paulo, segundo Meirelles, vê com o órgão a disposição de fazer uma reunião extraordinária.

 
"A GM quer colocar a questão da continuidade das plantas de São José e São Caetano para que possa trazer novos investimentos. Ela está condicionando isso a alguns setores. Até agora não sabemos o que a GM pretende com os sindicatos, não foi apresentada pauta. Estamos flexíveis às negociações, mas deixamos claro que não abrimos mão de direitos", disse Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, do sindicato dos metalúrgicos de São Caetano.
 
O encontro desta terça foi anunciado em um comunicado de Zarlenga divulgado nas fábricas brasileiras.
 
Nele, a GM alerta funcionários de que novos investimentos locais dependem de um doloroso plano para a operação voltar a lucrar no país, após as fortes perdas dos últimos três anos.
 
Zarlenga escreveu que o braço brasileiro vive um momento crítico e que 2019 será um ano decisivo para a operação, levantando temores entre sindicatos de que unidades no Brasil poderiam ser fechadas.
 
A carta de Zarlenga cita comentários recentes feitos pela presidente mundial da montadora, Mary Barra, sobre desafios na América do Sul, onde a GM é líder. "Não vamos continuar empregando capital para perder dinheiro", disse ela.
 
Questionados sobre a possibilidade de fechamento das unidades de São José dos Campos e São Caetano do Sul, os prefeitos disseram que o desinvestimento leva à inoperância das linhas de produção.
 
"[Zarlenga] deu uma explicação clara de que a situação na indústria automobilística não funciona assim. O que existe é desinvestimento e, no momento em que optamos por isso, o ciclo de um produto acaba e ela [a fábrica] deixa de ter importância", afirmou Ramuth.
 
"Em um primeiro momento, não se cogitou o fechamento de fábrica. Cogitou-se a possibilidade de novos investimentos, mas é notório que, não os trazendo, vai levar ao fechamento gradativo das plantas", disse Cidão.
 
Em 2014, Barra esteve no Brasil para anunciar a aplicação de R$ 6,5 bilhões até 2019, dinheiro que seria usado para modernizar fábricas e lançar novos carros. Um ano depois, em plena crise, a montadora divulgou que dobraria a aposta.
 
O investimento total seria de R$ 13 bilhões em um período maior, entre 2014 e 2020. Ao menos R$ 4,5 bilhões foram aplicados até o ano passado. Mas ainda há um valor não especificado que deveria ser investido na renovação dos produtos.
 
Para Luiz Carlos Prates, o Mancha, do sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos, a situação financeira da GM é estável no momento e não há necessidade de demissões. "Esse projeto de reestruturação busca descarregar nas costas dos trabalhadores uma crise que não existe", disse.
 
Segundo os prefeitos, o "ponta pé inicial" para as negociações foi dado pela GM e novas reuniões devem ocorrer. "O trabalho agora tem que ser feito de forma ágil e rápida. Temos pouco tempo para que todos os atores cheguem a um entendimento", disse Ramuth.
 
A diretoria da GM se encontra novamente com representantes dos metalúrgicos de São José às 15h desta terça, e com o sindicato de São Caetano às 9h de quarta-feira (23). Os sindicalistas esperam que, nessas reuniões, sejam apresentadas pautas mais claras, que seriam, então, encaminhadas a assembleias da trabalhadores.  ​
 
A GM fabrica o carro mais vendido no Brasil atualmente, o Chevrolet Onix, produzido na fábrica de Gravataí (RS) e que fechou 2018 com mais de 200 mil unidades emplacadas.
 
No início do ano passado, a GM anunciou investimento de R$ 1,2 bilhão, como parte do plano total até 2020, para modernizar a fábrica de São Caetano do Sul e ampliar sua capacidade anual de 250 mil veículos para 330 mil. Uma nova linha de SUV inicia em dezembro, segundo Auricchio Júnior.
 
De acordo com dados divulgados pela General Motors, o último grande investimento na fábrica de São José dos Campos ocorreu em 2010, quando R$ 800 milhões foram aplicados para produzir a geração atual da picape S10 e o utilitário Trailblazer. A unidade tem 4.800 funcionários e trabalha atualmente em dois turnos.
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