Procuradoria suspeita de fraude em operação financeira envolvendo Correio Braziliense

Operação Circus Máximus investiga procedimentos do BRB para reestruturar a dívida do jornal

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Brasília

Uma operação financeira feita pelo BRB, banco estatal de Brasília, para salvar o jornal Correio Braziliense entrou na mira da Procuradoria da República no Distrito Federal, que investiga suposto esquema de pagamento de propina a dirigentes da instituição.

Documentos da Operação Circus Máximus, deflagrada na última terça (29), registram que há suspeita de corrupção e fraude em operação para reestruturar a dívida do jornal, que pertence aos Diários Associados. O grupo enfrenta crise financeira, com atraso de salários e de benefícios devidos aos funcionários.

A Polícia Federal deflagou operação para investigar esquema de pagamento de propina a diretores e ex-diretores do Banco de Brasília (BRB) em troca de investimentos em empreendimentos
A Polícia Federal deflagou operação para investigar esquema de pagamento de propina a diretores e ex-diretores do Banco de Brasília (BRB) em troca de investimentos em empreendimentos - José Cruz/Agência Brasil

Na terça (29) e na quarta-feira (30), a Polícia Federal prendeu 11 pessoas, incluindo o presidente licenciado do banco, Vasco Gonçalves, e mais quatro dirigentes da instituição, suspeitos de ganhar R$ 40 milhões em comissões para facilitar investimentos em grupos privados.

Também estão na prisão empresários suspeitos de pagar as propinas e de lavar dinheiro do esquema, entre eles Diogo Cuoco, filho do ator Francisco Cuoco.

O foco da operação policial foi a liberação de recursos para um fundo de investimentos em participações (FIP) voltado para a construção do extinto Trump Hotel, no Rio de Janeiro.

Relatórios da Procuradoria, no entanto, dizem que pode ter havido pagamento de subornos em outros dois negócios, entre eles a tentativa de evitar a falência do Correio.

“Esses agentes [diretores do BRB], já devidamente detalhados, permanecem na instituição e, como se demonstra por pelo menos três empreendimentos suspeitos (FIP LSH, FIP SIA e reestruturação da dívida do Correio Brasilienze), organizaram uma indústria de propinas e favorecimentos para investimentos em detrimento do procedimento técnico e da boa gestão que se espera das instituições financeiras”, diz trecho de documento da Procuradoria.

A reestruturação da dívida envolveu a emissão de debêntures (títulos de dívida) e a criação de um fundo de investimentos.

Reportagem do site Metrópoles, publicada nesta quinta (31), diz que o Correio, já endividado, não tinha condições de obter crédito por falta de garantias. Pelos critérios do BRB, estava enquadrado na classificação de risco A-, insuficiente para obter os R$ 56 milhões pretendidos.

Diante das restrições, segundo a reportagem, os diretores buscaram uma solução sob medida para ajudar o jornal: mudaram o Manual de Risco da BRB DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários) e o requisito exigido para que a operação fosse autorizada passou a ser A-.

A Circus Máximus se baseia em provas e depoimentos de dois delatores, que citaram o financiamento do Correio como “potencial foco de irregularidades”.

O empresário Ricardo Rodrigues, que admitiu ilicitudes no projeto do Trump Hotel, disse “ter conhecimento de dentro do mercado” que, na reestruturação da dívida do Correio, “houve atuação da organização criminosa” do BRB.

Já Funaro teria sido convidado para investir no “fundo Correio Braziliense de forma ilícita”.

O caso é tratado num inquérito ainda em curso.

Na decisão em que autorizou medidas judiciais, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal em Brasília, diz que a operação financeira do BRB com o Correio ainda vigora, havendo renegociação de dívidas de 2018 a 2020.

Essa foi, para ele, uma das justificativas para autorizar prisões, pois o grupo criminoso poderia estar ainda atuando dentro do banco.

Procurado pela Folha, o Correio informou, em nota, que a emissão de debêntures "foi uma operação estruturada, que seguiu todas as regras do mercado financeiro".

Ressaltou que "toda a operação foi balizada em garantias reais e que a empresa não foi alvo de nenhuma medida investigativa" relativa à Operação Circus Máximus.

"O Correio vai procurar as autoridades para se colocar à disposição e esclarecer qualquer dúvida. Em seis décadas de atuação, o jornal sempre se pautou pela transparência e pela defesa dos interesses da sociedade", acrescentou.

Também por escrito, o BRB alegou que “apoia e coopera integralmente com todos os órgãos competentes que conduzem a operação”.

“O BRB está adotando todas as medidas judiciais cabíveis, visando preservar o banco e suas empresas controladas”, afirmou.

O banco explicou que todos diretores que tiveram o pedido de prisão decretado pela Justiça Federal foram “devidamente destituídos dos cargos”.

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