Rede aposta em descontos e delivery para desbancar Starbucks na China

Modelo econômico da Luckin Coffee permite preços mais baixos e faz americana lançar promoções

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Pequim | AFP

A Starbucks chegou à China há 20 anos, com a promessa de inaugurar uma unidade nova no país a cada 15 horas. Mas depois surgiu a Luckin  Coffee, uma audaciosa rival local para a gigante americana fundada em Seattle, disposta a destroná-la abrindo um café a cada 3,5 horas.

A dinâmica empresa emergente conseguiu conquistar consumidores com seus numerosos cupons de desconto, dirigidos diretamente aos estudantes e trabalhadores de escritórios, que gostam de pedir seu café pelo celular e apanhá-la na loja, ou receber o pedido em domicílio.

Funcionária em unidade da Luckin Coffee, rede chinesa criada em 2017
Funcionária em unidade da Luckin Coffee, rede chinesa criada em 2017 - Fred Dufour/AFP

E, enquanto a Starbucks costuma operar grandes pontos de venda equipados com sofás, ideais para quem quer trabalhar ou se encontrar com amigos, as lojas da Luckin  Coffee são em geral mais minimalistas.

Algumas das unidades da rede da empresa são relativamente grandes e contam com poltronas elegantes e de design refinado. Mas a maioria é exígua, sem mesas, balcões ou caixas registradoras, porque todos os pagamentos são realizados pelo celular.

Esse modelo econômico permitiu que a Luckin oferecesse preços mais baixos que os da concorrência. Um café latte não custa mais de 24 yuans (R$ 14), nas lojas da rede, enquanto na Starbucks ele custa 31 yuans (R$ 17).

Os consumidores que pedem cafés usando os apps de seus celulares podem pagar digitalizando um código QR.

“É prático. Não há grandes filas de espera. E, além disso, você não precisa esperar sentado enquanto preparam o café”, disse Yu Qian, analista financeiro radicado em Pequim.

“A grande vantagem de ter esse tipo de ponto de venda é que pagamos muito menos em aluguéis que os nossos concorrentes”, disse à AFP Reinout  Schakel, diretor de estratégia da Luckin.

Criada em 2017, a empresa anunciou em janeiro do ano passado que planejava abrir 2.500 cafés na China naquele ano e chegar ao final de 2018 com 4.500 unidades.

Em comparação, a Starbucks tem 3.600 unidades no país. A gigante americana abocanha 80% do mercado chinês de cafeterias, que movimenta US$ 3,4 bilhões (R$13bilhões) ao ano, segundo o grupo de pesquisa Euromonitor.

Mas a Luckin Coffee tem confiança.

Ainda que os chineses em média bebam apenas quatro ou cinco xícaras de café por ano, o exemplo dos países vizinhos demonstra que existe potencial, aponta Schakel.

No Japão e na Coreia do Sul, onde, como na China, o chá é a bebida tradicional, o café conseguiu ganhar terreno. O consumo médio de café nos dois países é 300 xícaras por habitante/ano.

A China é o segundo maior mercado da Starbucks, atrás dos Estados Unidos, e o que registra maior crescimento.

A gigante americana abriu seu maior ponto de venda mundial em Xangai, no fim de 2017.

Mas chegou tarde ao setor de entregas em domicílio, muito mais desenvolvido nas grandes cidades chinesas do que no Ocidente.

Depois de perceber como a Luckin vinha ganhando terreno, a Starbucks se associou em julho ao aplicativo Ele.me, gigante chinês do setor de entregas de comida.

“Cobrimos mais de 2.000 pontos de venda em 30 cidades”, disse à AFP Derek Ng, diretor de comunicações da Starbucks China.

A concorrência obrigou a gigante americana a voltar seu foco aos cafés dirigidos a um público mais endinheirado, lojas conhecidas como Starbucks Reserve, e a lançar promoções próprias, disse Hu Yuwan, analista do grupo de pesquisa Shanghai Daxue Consulting.

“Somos concorrentes da Starbucks? Provavelmente, de certo modo”,afirmou Schakel.“Mas não faz diferença para nós que a demanda venha de novos consumidores ou de fregueses da Starbucks.”

A Luckin se financia com recursos do fundo de investimentos Centurium Capital (fundado pelo ex-diretor do fundo Warburg Pincus na China) e do fundo de investimento nacional de Cingapura, GIC, entre outros.

A companhia arrecadou cerca de US$ 400milhões (R$1,5 bilhão) em duas rodadas de capitalização em 2018 e afirma que seu valor de mercado foi estimado em US$ 2,2 bilhões (R$ 8,3 bilhões).

Já começam a circular rumores sobre uma possível abertura de capital da companhia, na Bolsa de Hong Kong. Mas a Luckin prefere guardar silêncio a respeito, por enquanto.

Tradução de Paulo Migliacci

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