Não é por que uma ação caiu que ela está barata, resume o professor Michael Viriato, do núcleo de finanças do Insper, sobre a atual situação da Vale.
É como ele explica por que o pequeno investidor que não tem ações não deveria comprá-las agora, mesmo após o tombo de quase 25% registrado na segunda-feira (28).
Foi o primeiro pregão após o rompimento da barragem em Brumadinho (MG), na sexta-feira (25), que deixou 65 mortos e outros 282 desaparecidos. Nesta terça-feira, as ações tiveram leve alta.
"Só vão surgir notícias negativas nos próximos dias, então o fluxo de surpresas não vai ser agradável", afirma Viriato.
Por isso, as perspectivas para a empresa e o valor das ações podem piorar bastante no curto prazo, ainda que o cenário de longo prazo ainda seja visto de forma positiva.
Já Francisco Levy, diretor da Planejar, a associação de planejadores financeiros, considera que, apesar dos riscos, é pouco provável que o tombo de mais de 20% reflita igual perspectiva de piora para a companhia. Para ele, pode ser, sim, uma oportunidade de compra.
No mercado financeiro, a visão sobre investir na companhia muda conforme apetite a risco, vinculação com corretoras e perspectivas sobre impactos financeiros que a tragédia causará na empresa.
As análises das principais corretoras indicam que a Vale tem dinheiro em caixa para pagar todas as punições sinalizadas até aqui e mesmo despesas adicionais. Portanto, os riscos ao investidor seriam pequenos.
"No curto prazo pressão de sociedade é muito grande, não se consegue estimar quanto a Vale vai ter de perda financeira. Esse é o ponto que traz volatilidade para o papel", diz Rafael Passos, analista da Guide, reforçando que a situação financeira da empresa segue confortável.
A XP Investimentos escreveu em relatório que mantém sua recomendação de compra para a ação da Vale.
Há uma semana, o analista-chefe da corretora, Karel Luketic, havia atualizado a recomendação de investimento na mineradora projetando que ela tinha potencial de alcançar R$ 70 por ação --o cenário mais otimista apontava a R$ 85.
Na Guide, o preço-alvo era R$ 65, que está mantido, segundo Passos.
O ambiente macroeconômico da empresa não se modificou, como preço do minério de ferro ou a demanda pelo produto da companhia, e por isso não haveria justificativa para uma revisão apressada nas condições da Vale.
Mas alguns fatores já estão mudando, dizem aqueles que recomendam manutenção (para quem comprou no passado) ou a venda dos papéis em mãos.
Eles consideram que o preço futuro da ação necessariamente vai mudar.
Além do aumento das despesas para reparar o dano causado e multas, haverá uma demanda para que a empresa gaste mais com manutenção de barragens, na tentativa de evitar uma nova tragédia.
Seguradoras provavelmente cobrarão mais da companhia daqui pra frente, já que esse é o segundo episódio de rompimento de barragem em pouco tempo --a Vale tem metade da Samarco, a responsável pela tragédia de Mariana.
Há ainda o risco de aumento de custo da dívida, com rebaixamento da empresa pelas agências de classificação de risco. A Fitch cortou a nota para o último degrau que garante o selo de bom pagador, enquanto Moody's e Standard & Poor's colocaram o rating em revisão para rebaixamento.
Essas novas despesas têm potencial de afetar o desempenho da companhia no futuro, inclusive reduzindo futuro pagamento de dividendos --que foi suspenso no final de semana.
A política agressiva de distribuição de lucros era usada pela XP e pela Ativa Investimentos para justificar a compra de ações da companhia.
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