Descrição de chapéu Financial Times

Carlos Ghosn indica que planejava demitir Hiroto Saikawa do comando da Nissan

No mandato de Saikawa, o desempenho da Nissan nos Estados Unidos piorou seriamente

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David Keohane Peter Campbell Kana Inagaki
Financial Times

Carlos Ghosn deu a maior indicação até o momento de que pensou em demitir o presidente-executivo da Nissan, Hiroto Saikawa, por conta da deterioração no desempenho da montadora, antes de sua detenção em novembro do ano passado.

"Quando o desempenho de uma empresa se deteriora, nenhum presidente-executivo está imune a ser demitido", ele disse à agência AFP e ao jornal francês Les Echos em uma entrevista concedida no centro de detenção onde está preso em Tóquio.

O relacionamento entre os dois executivos tinha esfriado depois que Ghosn entregou o comando executivo da empresa a Saikawa, por muito tempo seu vice, em 2016.

No mandato de Saikawa, o desempenho da Nissan nos Estados Unidos piorou seriamente, e as vendas da empresa no mercado japonês foram prejudicadas por diversos escândalos de controle de qualidade.

A margem de lucro operacional de 3,6% da companhia era a mais baixa entre quase todas as grandes montadoras de automóveis mundiais, e o grupo antecipava que seu lucro líquido anual ficasse 33% abaixo do resultado do ano anterior, em 2018.

Mas os problemas atuais da Nissan nos Estados Unidos resultam de investimento agressivo em incentivos para elevar as vendas de carros, uma política defendida fortemente por Ghosn.

Depois da detenção do ex-presidente do conselho da companhia, em novembro, Saikawa mencionou especificamente as operações "distendidas" da empresa nos Estados Unidos como um dos legados negativos da era Ghosn, quando metas otimistas de vendas eram adotadas a fim de expandir a fatia de mercado da companhia.

Os mais recentes comentários de Ghosn mostram a distância que se abriu entre os dois executivos.

Eles foram revelados poucas horas antes de uma reunião entre Saikawa e o novo presidente do conselho da Renault, Jean-Dominique Senard - um encontro que os governos da França e do Japão esperam sirva para amenizar as tensões entre os grandes parceiros de uma aliança automobilística.

Os dois conversarão como parte de uma reunião de conselho ordinária em Amsterdã.

Ainda que normalmente as reuniões sejam realizadas via teleconferência, desta vez os dois líderes comparecerão em pessoa.

Tanto a Renault quanto a Nissan afirmam em público que têm o compromisso de fazer a aliança funcionar, a despeito das tensões que afloraram depois da prisão de Ghosn.

Em uma entrevista anterior, à Nikkei Arada Review, Ghosn disse que as acusações de delitos de conduta financeira contra ele era resultado de um "complô e traição" por parte de executivos da Nissan, que queriam bloquear seu plano para uma integração mais profunda entre a empresa e a montadora francesa.

Ele disse que "existia um plano para integrar" os parceiros de aliança, que incluem também a Mitsubishi Motors, sob uma estrutura de holding - plano que ele discutiu com Saikawa em setembro.
Falando ao Les Echos, Ghosn disse que a estrutura teria se baseado em "desempenho sólido de cada empresa".

Quando perguntado se isso poderia causar problemas, Ghosn respondeu que "o desempenho da Nissan vinha decaindo nos dois últimos anos. "Se você estudar os resultados e pontos fortes da Nissan, Mitsubishi e Renault, verá que existe um problema. Eu não esperava o que aconteceu, mas tudo isso levou a traição, conspiração", ele disse.

Em declaração divulgada na quinta-feira, a Nissan reiterou que os recentes desdobramentos resultavam dos supostos delitos de consulta de Ghosn. A empresa acusou seu ex-líder de ocultar o valor de sua remuneração e de usar sua conta de despesas na companhia em proveito próprio, duas acusações que Ghosn nega.
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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