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Caso Vale ilustra o risco de investidor comprar ação de apenas uma empresa

Diversificação com papéis de pelo menos cinco companhias atenua impactos em caso de crises

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São Paulo

Um investidor que tivesse R$ 10.000 em ações da Vale na quinta-feira (24) anterior ao rompimento da barragem da companhia em Brumadinho (MG) teria terminado a segunda-feira (28), o primeiro pregão após o episódio, com R$ 7.550.

Teria perdido, portanto, 24,5% do valor investido em apenas um dia, a queda da companhia naquele pregão.

Já um investidor que dividisse suas aplicações seguindo o Ibovespa, principal índice acionário do país e no qual a Vale tem participação de cerca de 10%, teria visto os mesmos R$ 10.000 virarem R$ 9.771, ou 2,29% menos.

Essa comparação ilustra um conselho repetido com frequência por planejadores financeiros: diversificar investimentos é mais seguro do que aplicar em uma única ação.

A Vale é apenas o exemplo mais recente de como um fato isolado pode gerar dor de cabeça para quem aposta tudo em um papel — além de mostrar que a compra e a venda de ações não devem ocorrer por impulso.

“A teoria dos portfólios está aí desde o final da década de 1950, e ela mostra com cálculos que é mais vantajoso diversificar: quando uma ação cai, existem as que sobem”, diz George Sales, professor de Finanças do Ibmec SP.

Na semana passada, não havia entre os analistas quem cravasse que a Vale enfrentaria problemas realmente graves em consequência do estouro da barragem de Brumadinho (MG). 

Para quem tinha a ação da companhia e não vendeu naquele dia de violenta queda, a projeção dos especialistas é que há boas chances de recuperação das perdas. Após o tombo, corretoras reforçaram a recomendação de compra do papel, apesar de revisarem para baixo o potencial de ganho —um reflexo dos custos jurídicos, ainda não claros, da tragédia. 

Os investidores devem ficar atentos a outros casos de oscilações que destoam da dinâmica do mercado acionário e podem alimentar a ambição do dinheiro fácil.

Desde setembro, por exemplo, os papéis da empresa de armas Taurus registram atípica valorização, em parte por causa da expectativa de que o governo Bolsonaro vai ampliar o mercado de armas.

A ação subiu de R$ 2,00 para R$ 15. Atualmente, está em R$ 4, indicando, na avaliação de analistas, que a disparada não refletia resultados e perspectivas efetivamente melhores para os negócios.

“O que impulsionou a forte valorização da empresa foi uma simples especulação. Só que o investidor tem que olhar para empresa em si, se ela é saudável, se gera lucro”, diz Rafael Panonko, analista-chefe da Toro Investimentos.

A alta não sustentada embute ainda a decisão dos controladores da companhia de vender uma participação na Bolsa. Indica, na visão de especialistas, que nem os donos da empresa acreditam nela.

“A ação sobe 10% num dia, e o investidor pessoa física vê a alta com os olhos de quem vai ganhar dinheiro fácil. Mas, quando o movimento é o contrário, machuca”, diz Panonko.

Analistas consideram que, ao escolher cinco ações, o investidor já conseguiria uma diversificação capaz de reduzir danos de eventos isolados de uma empresa na carteira de investimentos.

Com R$ 10.000 é possível fazer essa distribuição entre papéis de empresas. Aplicações em renda variável devem representar apenas uma pequena parcela dos recursos investidos —de 5% para investidores de perfil moderado a 20% entre aqueles mais arrojados.

Um investidor moderado que deseja ter R$ 10.000 na Bolsa deveria ter acumulado R$ 200 mil em patrimônio.

A estratégia de aplicação desses recursos varia conforme o planejador financeiro e o interesse do investidor em acompanhar as empresas.

Para quem deseja acompanhar o mercado com frequência e decidir em quais papéis investir, a sugestão é seguir carteiras mensais recomendadas por corretoras.

Todo começo de mês, os analistas selecionam ações que consideram ter potencial de ganhos. Para Sales, do Ibmec, o ideal é ler vários relatórios, selecionar companhias que mais se destacam e formar a própria carteira.

Ao fim de um mês, é preciso rever os investimentos seguindo a mesma técnica. Se a maioria das corretoras retirou um determinado papel da carteira, provavelmente as perspectivas podem ter se modificado, mesmo após uma alta expressiva, e é importante vendê-lo para evitar perdas.

“Bolsa não é longo prazo. O dinheiro é investido por um tempo mais longo, mas o acompanhamento é feito no curto prazo”, diz Panonko.

Essa visão não é, porém, unânime entre os especialistas. Para Cesar Caselani, professor de finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas), o pequeno investidor deveria assumir um compromisso de mais longo prazo com o investimento após um esforço de estudo sobre as companhias.

Ele lembra que corretoras ganham dinheiro a cada compra e venda de papel, o que ajuda a explicar por que existem recomendações de negociações frequentes de papel.

Ele sugere que se tenha uma visão do valor daquele negócio. “Identificar boas empresas e ficar com elas. Quanto mais se gira a carteira, maior o custo de corretagem para o investidor”, diz Caselani.

Para isso, é preciso avaliar o mercado em que a companhia está inserido, e as condições de negócio. Além disso, é preciso conhecer as regras de governança e se é uma empresa idônea.

“Não pode ser uma escolha leviana. Se for leviano num mercado com esse nível de risco, vai perder dinheiro”, complementa Caselani.

Nas duas situações, de trocas mensais ou longo prazo, é preciso saber a hora de vender a ação. O caso brasileiro mais emblemático de prejuízos causados a investidores é o da OGX, de Eike Batista. 

A petroleira abriu capital quando estava em fase pré-operacional —ou seja, ainda não produzia. Em 2010, as ações chegaram a valer mais de R$ 2.000. Sem encontrar o produto nos poços perfurados, os papéis viraram pó.

“Nunca vamos conhecer alguém que ganhou sempre. Se o barco está afundando e não tem perspectiva de melhora, é preciso vender. Na hora em que se para de analisar e começa a torcer, aí há um problema”, complementa o professor da FGV.

Existe no radar do pequeno investidor um outro caso traumático, o da Petrobras.

Com a euforia da descoberta do pré-sal, a estatal atraiu muita gente. Mas depois, as ações passaram a cair, processo que se acelerou com a operação Lava Jato. O cenário de perdas só mudou após a troca de governo, em 2016. 

Oito anos depois, o preço do papel voltou ao patamar de 2010, mas longe da máxima histórica nominal. 
“O investidor pessoa física demora a tomar a decisão de encerrar a posição e realizar prejuízo. Ele acha que vai voltar a subir”, afirma Panonko.

Como investir em ações

Sozinho

  • É preciso ter conta em corretora de valores
  • Escolha pelo menos cinco ações, para diversificar o risco
  • A escolha pode ser feita a partir dos relatórios mensais que as corretoras enviam a clientes e publicam em seus sites
  • Compare as recomendações para ver quais coincidem
  • Pesquisa sobre a empresa e acompanhe o noticiário, que pode mudar as condições da companhia
  • Siga também as recomendações de venda, as condições da empresa podem ter mudado
  • Também é possível fazer escolhas de empresa com objetivos de mais longo prazo, mas é preciso acompanhar a empresa de perto

Via fundos de ações

  • Por um fundo de ação, o investidor delega a um gestor a tarefa de selecionar as melhores ações e investir
  • Há cobrança de taxa de administração, que remunera o gestor, e de performance, que dá a ele parte do ganho em caso de desempenho muito superior ao indicador do mercado
  • 2% a 3% sobre o patrimônio costuma ser uma taxa de administração dessa classe de fundo
  • Existem diversos tipos de fundos de ações: os que investem em ações mais negociadas (blue chips), as de menor valor de mercado (small caps) ou de empresas pagadoras de dividendos, por exemplo
  • Para investir via fundos de ações, o investidor precisa acreditar que o gestor tem condições de tomar melhores decisões que a média do mercado

Via ETFs

  • ETFs são fundos que copiam índices da Bolsa
  • É possível comprar uma cota desses fundos em Bolsa, da mesma forma que se compra uma ação
  • O mais famoso é o Bova11, que replica o Ibovespa
  • Por ser um fundo passivo, sem o trabalho de um gestor, tem taxa de administração mais baixa, menos de 1% ao ano
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