Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Custo de manter reservas ficou muito menor, afirma indicado para o BC

Campos Neto diz que lucro dos bancos é compatível com o de outros países e rentabilidade já foi maior

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Brasília

A manutenção das reservas internacionais "ficou muito mais barata", afirmou o indicado do governo Jair Bolsonaro para presidir o Banco Central, Roberto Campos Neto, derrubando uma das críticas recorrentes à autoridade monetária.

Ele foi sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e teve seu nome aprovado por unanimidade, assim como o dos diretores Bruno Serra e João Manoel Pinho de Mello, que ocuparão as diretorias de Política Monetária e Organização do Sistema Financeiro.

Roberto Campos Neto durante sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado
Roberto Campos Neto durante sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado - Sergio Lima/AFP

Para ser efetivado no cargo, seu nome ainda precisa passar pelo plenário do Senado, o que estava previsto para esta terça (26). 

Ao manter títulos e moeda internacionais em caixa, o BC cria uma reserva contra especulações cambiais.

O colchão soma hoje cerca de US$ 390 bilhões. 

Manter essa reserva, no entanto, tem um custo, que sobe quando o dólar cai e também aumenta quando abre o diferencial da taxa de juros do Brasil e dos EUA.

Com a recente desvalorização do real em relação ao dólar (desde 2015) e o corte da taxa de juros brasileira, esse custo ficou negativo no horizonte de longo prazo (dez anos), ressaltou Campos Neto.

"Não cabe aqui criar especulação sobre o que será feito, mas é importante trazer esses dados, que são pouco mencionados neste debate", disse.

Em suas palavras, assim como um investimento financeiro, é preciso avaliar o custo do seguro e se vale a pena mantê-lo.

No ano passado, observou o indicado para presidir o BC, Argentina e Turquia sofreram forte corrida cambial e as reservas brasileiras ajudaram o dólar a subir menos. 

Ele não fez previsões sobre como se comportará o dólar neste ano e se o custo de manutenção das reservas seguirá em baixa ou poderão subir, caso o Brasil entre em um processo de valorização do real. 

Campos Neto foi cobrado por parlamentares do Norte do país sobre a retirada de subsídios para empresas que investem nas regiões mais pobres do país e também por parlamentares de todas as regiões sobre as elevadas taxas de juros de mercado. 

Ele afirmou não ser contra subsídios, mas defendeu transparência, para que os custos sejam mensuráveis a fim de que fiquem claros o custo e benefício.

Sobre os juros altos, Campos Neto dedicou boa parte de sua apresentação ao detalhamento do spread bancário (a diferença entre o custo de captação do banco e o custo do empréstimo). 

Segundo ele, 35% do diferencial se deve à inadimplência, 25%, aos custos operacionais, e 15%, ao lucro dos bancos.

A fatia dedicada aos lucros é, segundo ele, compatível com o praticado em outros países. 

Ele disse que mais importante do que o lucro é preciso observar a rentabilidade do negócio.

Nesse quesito, o retorno dos bancos já foi maior, disse ele, ao redor de 19%, caiu para 12% e agora está em 15%. 

"A rentabilidade voltou a subir, mas ainda está num nível bem abaixo do máximo."

Campos Neto disse que o BC vai tentar avançar na melhoria da segurança jurídica e nas garantias aos credores, assim como na redução dos entraves burocráticos à operação financeira.

Ele afirmou que, assim como empresas de outros setores, os bancos enfrentam custos elevados de operação, como encargos trabalhistas e burocráticos. 

CONCENTRAÇÃO

Ele também repetiu o discurso da gestão anterior do Banco Central, que questionava o argumento de que o mercado bancário brasileiro é excessivamente concentrado em poucas entidades financeiras.

"Precisamos distinguir competição e concentração", disse. "A concentração é semelhante à de vários países, como Alemanha e Inglaterra." 

Já na competição, disse ele, os resultados brasileiros não são muito diferentes do que o observado em países emergentes. 

"Em termos de competição bancária, apesar de ser concentrado, existe competição. No entanto, isso não gerou spread adequado", afirmou. 

"Grande parte do questionamento dos senhores é: se tem competição bancária, se tem incentivo do governo, se o BC está atento, por que a taxa de juros de 6,5% não se reflete na ponta? Por isso é importante entender o que falei sobre spread", afirmou.

Nesse quesito, Campos Neto indicou dar mais relevância à redução dos custos de intermediação por meio de novas plataformas de tecnologia, o que em suas palavras está provocando uma "desintermediação" bancária nos países mais ricos.

Sobre as fintechs, empresas de tecnologia que passaram a competir com os bancos em investimentos e agora também no mercado de crédito, ele afirmou que o efeito da competição já está aparecendo.

"O mercado de fintechs não existia há dois anos, parte da competição já está acontecendo. Existe um processo em curso que vai gerar isso, temos que monitorar para que isso seja feito de forma saudável."

Campos Neto disse que o BC está se aprofundando no desenvolvimento do mercado de pagamento instantâneo e espera resultados semelhantes ao que ocorreu no ramo das maquininhas de cartão, no qual mais de uma dezena de empresas já operam hoje.

Em sua visão, os bancos deixarão de ser empresas que prestam serviços financeiros e se tornarão prestadores de serviços de tecnologia. 

"A gente vê o fenômeno do fechamento de agências e um sistema cada vez mais digital, é o banco do futuro", disse. "O que nos falta e que precisa aprimorar bastante é a cobertura digital no país." 
 

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