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Queda na incerteza leva analistas a convergir sobre perspectiva para o PIB

Aproximação entre projeções pode contribuir para um aumento dos investimentos

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São Paulo

O início deste ano tem registrado a menor discordância entre analistas sobre as perspectivas de crescimento da economia desde 2007.

Se mantida, a aproximação entre as projeções pode contribuir para um aumento dos investimentos ao indicar um cenário menos incerto para empresários.

A distância entre as estimativas mais otimistas e mais pessimistas de variação do PIB (Produto Interno Bruto) em 2019 recuou de quase 3 pontos percentuais no início de dezembro de 2018 para 1,7 ponto percentual em meados de janeiro.

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Telas da Bovespa, em São Paulo - Diego Padgurschi /Folhapress

Atualmente, a expectativa mais positiva de expansão é 3,5%, e a mais negativa, 1,8%, segundo dados da pesquisa Focus, do Banco Central.

É normal que a dispersão entre as projeções de desempenho econômico para o ano que começa caia à medida que os dados do fim do ciclo anterior sejam conhecidos. 

Indicadores divulgados revelam com maior clareza a intensidade e a direção do nível de atividade. Mas, mesmo considerando essa tendência usual, o grau de divergência entre os economistas neste início de fevereiro é o menor em mais de uma década. Nesse mesmo período em 2018, o hiato entre as visões mais extremas dos analistas era, por exemplo, de 2,9 pontos percentuais.

Já no início de fevereiro de 2016, em meio a uma das piores recessões do país, a distância entre as projeções chegou a 3,9 pontos percentuais. Os mais pessimistas naquele momento esperavam queda do PIB de 4,59%, enquanto os mais otimistas previam um recuo de 0,7%.

A tendência atual de maior convergência entre visões diferentes tem sido puxada pela queda concomitante tanto do otimismo quanto do pessimismo extremos.

Se, por um lado, dados frustrantes revelam um cenário de atividade corrente mais fraco do que o esperado, por outro, a redução da incerteza política pode estar animando os mais céticos.

"Não tem o cenário PT, o que reduz muito o quadro pessimista, mas a economia ainda não reagiu tudo aquilo, o que corta o otimismo", resume Fernando Montero, economista-chefe da corretora Tullett Prebon.

Economistas do mercado financeiro —que informam suas projeções atualizadas de indicadores econômicos semanalmente ao BC— temiam, em sua maioria, uma vitória petista. Havia receio de que a oposição do partido a reformas como a da Previdência não fosse apenas retórica de campanha.

"A turbulência política do ano passado dava a ideia de uma incerteza muito grande, que foi diminuindo ao longo do tempo", diz Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

Quando as pesquisas de intenção de voto começaram a apontar alta chance de eleição de Jair Bolsonaro, expectativas mais altas de crescimento voltaram a aparecer. Ainda antes do primeiro turno, a projeção máxima de expansão do PIB em 2019 atingiu 4,5%.

"Os mais afoitos passaram a esperar um PIB explosivo já neste ano", afirma Vale.

A divulgação recente de dados mostrando a fraqueza persistente da indústria e do mercado de trabalho funcionou, no entanto, como balde de água fria no otimismo extremo, contribuindo para o recuo das expectativas mais altas.

Por outro lado, afirma Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, entre os mais pessimistas, havia uma dose de preocupação também em relação ao compromisso de Bolsonaro com reformas, apesar de seu discurso mais liberal do que o do PT.

Ela cita como exemplo o fato de que Paulo Guedes —principal assessor do presidente na campanha e atual ministro da Economia— não colocou grande ênfase na importância da reforma da Previdência durante a campanha.

"Isso mudou. Notamos uma grande curva de aprendizagem dele [Guedes] desde então. Dá para perceber isso em seu discurso, no esforço para diálogo com todos os Poderes e nas indicações de assessores", afirma Zeina.

Isso estaria contribuindo para a alta mais recente do piso das expectativas do PIB. A economista afirma que ela própria esperava alta de cerca de 1,5% do PIB neste ano, mas revisou sua projeção recentemente para 2%.

Segundo Zeina, a maior convergência sinaliza para empresários —que acompanham as análises econômicas— um cenário de maior previsibilidade após anos de grande incerteza.

Isso pode facilitar o planejamento de investimentos, mas, para que se converta em um fluxo mais intenso de gastos, é preciso que reformas importantes sejam aprovadas de fato.

"Há expectativa positiva, mas o começo do ano não chancela um 2019 espetacular. Como a reforma da Previdência, caso passe, será só no segundo semestre, os efeitos positivos reais na economia devem ficar mais concretos só em 2020", afirma Vale.

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