Trégua comercial entre China e EUA pode gerar perda bilionária para soja brasileira

Ministra da Agricultura informou Bolsonaro que setor deve sofrer com redução da demanda do país asiático

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Brasília

O governo Jair Bolsonaro está preocupado com perdas bilionárias que o setor agrícola do país pode sofrer com a crescente perspectiva de uma trégua comercial entre Estados Unidos e China.
 
Nesta terça-feira (26), a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, se reuniu com o presidente Bolsonaro para comunicá-lo que os produtores de soja devem ser os maiores afetados caso a trégua se confirme e as duas potências internacionais ponham fim à guerra tarifária que travam desde o ano passado.
 
O Brasil seria afetado porque a China, segundo informaram agências internacionais de notícias, ofereceu nos últimos dias comprar um adicional de US$ 30 bilhões (R$ 111 bilhões) em produtos agrícolas americanos ao ano, como parte de um acordo comercial mais amplo com os EUA.

Navio no porto de Paranaguá (PR) carregado com soja brasileira
Navio no porto de Paranaguá (PR) carregado com soja brasileira - Paulo Whitaker/Reuters

Caso se confirme, isso deve reduzir a demanda chinesa por produtos agrícolas brasileiros, principalmente a soja.
 
"Esse efeito vai ser para a próxima safra. Mas que vai ter, vai. É isso que a gente vai ter que acompanhar", disse à Folha a ministra da Agricultura, nesta quarta-feira (27).
 
De acordo com estimativas da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), as perdas neste ano para o setor podem chegar a US$ 5,5 bilhões (R$ 20,5 bilhões).
 
A associação diz que uma diminuição das compras chinesas de soja pode reduzir em até 15 milhões de toneladas o volume de exportações do produto para a China.
 
No ano passado, ainda segundo a Aprosoja, foram enviadas 69 milhões de toneladas de soja para o país asiático.
 
O diretor executivo da Aprosoja, Fabrício Rosa, afirma que, com a nova oferta de soja americana para a China, a tendência é que as exportações brasileiras do produto ao país asiático retomem aos patamares anteriores ao início da guerra comercial entre Washington e Pequim.
 
Quando o presidente dos EUA, Donald Trump, deu início à chamada guerra comercial, os chineses retaliaram e impuseram uma tarifa de 25% sobre a soja americana. Isso levou a um boom das exportações de soja do Brasil para país asiático.
 
"O Brasil vai continuar sendo o principal fornecedor de soja para a China. O Brasil é o único que têm condições de abastecer, sozinho, o mercado chinês", disse Rosa. "Os EUA, mesmo juntos com as exportações da Argentina, não conseguiriam abastecer o mercado chinês", acrescentou.
 
Assim como Teresa Cristina, o diretor da Aprosoja afirma que o impacto do novo quadro internacional sobre o mercado brasileiro seria gradual.
 
O tema gera forte apreensão no Ministério da Agricultura. Nesta quarta-feira, ao participar de uma sessão da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, Tereza Cristina disse que o acordo entre EUA e China gera "preocupação" no governo.

A ministra disse ainda que o ministério está avaliando como responder a uma possível redução da demanda por soja. Segundo ela, a pasta deve intensificar os esforços para a abertura de novos mercados para o produto brasileiro.

Colaborou Julio Wiziack

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