Warren Buffett admite que pagou demais pela Kraft

O investidor e o grupo brasileiro 3G Capital adquiriram a empresa em 2015 por US$ 62,6 bilhões

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James Fontanella-Khan Eric Platt
Nova York

Warren Buffett admitiu pela primeira vez que o grupo Berkshire Hathaway pagou demais para fundir a Heinz à Kraft, em uma rara admissão de fracasso da parte de um investidor conhecido por seu toque de Midas.

A admissão surgiu dias depois que sua companhia contabilizou uma redução de bilhões de dólares no valor de seu investimento na problemática fabricante americana de bens de consumo. "Pagamos demais pela Kraft", disse Buffett em entrevista à rede de notícias CNBC, acrescentando que "estávamos errados de um par de maneiras quanto à Kraft Heinz".

Buffett e o grupo de investimento brasileiro 3G Capital adquiriram a Kraft em 2015, para fundi-la com a Heinz, em uma transação que avaliou a Kraft em US$ 62,6 bilhões. No momento da fusão, a companhia combinada tinha valor de mercado de US$ 89 bilhões; na segunda-feira, seu valor havia caído a US$ 41,6 bilhões.

"Qualquer coisa, ou quase qualquer coisa, pode ser boa a um determinado preço, mas não todas as coisas", disse o chamado Oráculo de Omaha. "E todas as coisas podem ser ruins, a um determinado preço. Se você paga demais, paga demais, e isso não muda".

Kraft Heinz é controlada pelo fundo brasileiro 3G e pela Berkshire Hathaway
Kraft Heinz é controlada pelo fundo brasileiro 3G e pela Berkshire Hathaway - Arnd Wiegmann/Reuters

As ações da Kraft Heinz tomaram um tombo na sexta-feira, depois que ela anunciou que reduziria o valor contábil de seus ativos em US$ 15 bilhões e reduziria seus pagamentos de dividendos, e revelou que estava sendo investigada pela Securities and Exchange Commission (SEC), agência federal que regulamenta os mercados de valores mobiliários dos Estados Unidos, por suas políticas contábeis.

A Berkshire Hathaway, que detém participação de 26,7% na Kraft Heinz, no sábado constituiu uma provisão de US$ 3 bilhões para perdas por deterioração em seu investimento —como parte de um dos maiores prejuízos trimestrais na história da companhia.

Buffett declarou ontem que Jorge Paulo Lemann, cofundador do 3G, era "um ser humano absolutamente excelente", mas evitou responder perguntas sobre novas transações com o grupo comandado por ele.

Sua admissão de fracasso na aquisição da Kraft contrasta fortemente com os fortes elogios que ele fez no passado à Kraft Heinz e aos seus parceiros do 3G, encarregados da gestão do grupo. "Esse é meu tipo de transação, unindo duas organizações de classe mundial e gerando valor para os acionistas", disse o investidor bilionário no momento da fusão.

Buffett no passado descreveu Lemann, que foi tenista profissional, como um dos empreendedores mais efetivos do planeta. Conhecido por tomar o controle de companhias de bens de consumo em crise e cortar agressivamente os custos de suas operações a fim de maximizar os lucros, o 3G era visto por Buffett como um operador magistral.

"Eles se impõem padrões de desempenho excepcionalmente elevados e nunca estão satisfeitos, mesmo quando seus resultados excedem em muito os da concorrência", escreveu Buffett em uma carta aos investidores em 2014.

Mas seu relacionamento com os parceiros brasileiros se deteriorou depois de uma oferta hostil fracassada da Kraft Heinz pela aquisição da Unilever, por US$ 143 bilhões, em 2017. Buffett é conhecido há muito tempo por sua oposição a tomadas hostis de controle acionário.

Depois do colapso da tentativa de aquisição da Unilever, as ações da Kraft Heinz sofreram queda acentuada. Isso resulta em parte das dificuldades da companhia para se adaptar às mudanças nas preferências dos consumidores, que Buffett admitiu na segunda-feira.

"Os dois lados julgaram erroneamente a luta entre varejo e marcas, para determinar quem ganharia terreno sobre quem", ele disse, em referência a cadeias de varejo que promovem marcas próprias de preferência a marcas controladas por empresas como a Kraft Heinz. "Quando a Amazon e o Walmart estão na briga, é como uma briga de elefantes. E os ratinhos são pisoteados".

O 3G enfatizou que seu foco agora é investir em seus negócios, e está confiante em que o pior já passou. Mas analistas de Wall Street questionaram se a empresa havia mesmo deixado os problemas para trás.

"Acreditamos que os negócios da Kraft estejam enfrentando desafios maiores do que seus gestores admitem", disse Brittany Weissman, da administradora de investimentos Edward Jones. "O 3G Capital não tem um histórico de promover alta de vendas e lucros sem realizar aquisições, e essa é a nossa preocupação".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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