Uma nova paralisação dos caminhoneiros seria um desastre para uma economia cuja velocidade de reação já é colocada em dúvida em meio à falta de articulação do governo em torno da reforma da Previdência.
A percepção é que a fragilidade do governo pode, mais uma vez, abrir espaço para que a categoria se sinta fortalecida a fazer novas exigências sob o risco de, não atendida, parar.
Nesse contexto, as expectativas de empresários e consumidores seriam, mais uma vez, as mais atingidas. "Seria muito ruim para a economia", diz Claudio Frischtak, sócio da Inter B.
Segundo ele, a paralisação ocorrida em maio de 2018 foi um dos elementos importantes, ao lado das incertezas trazidas pelo ambiente eleitoral, para que as expectativas de crescimento deixassem o patamar de 3% em direção à alta de apenas 1,1% no ano.
"Eis que, quase um ano depois, temos um governo democraticamente eleito demonstrando enorme fragilidade, desta vez pela dificuldade de governar, e eu não sei se isso não pode ser um estímulo a uma nova paralisação."
Cerca de 65% da carga nacional é transportada por rodovias, diz Frischtak. Quando se exclui o minério de ferro, cujo transporte é feito basicamente por ferrovias, esse percentual sobe para cerca de 80%.
"Uma greve dos caminhoneiros pode gerar desabastecimento imediato. Somos reféns da categoria", diz Frischtak.
O setor agropecuário, por exemplo, encerrou 2018 estagnado, e a paralisação ajudou nesse movimento.
Estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria) calculou que o tabelamento do frete rodoviário —um dos principais impactos da paralisação— provocou redução de R$ 7,2 bilhões no PIB, o que significa queda de 0,11%.
Alessandra Ribeiro, sócia da área de macroeconomia da Tendências Consultoria, lembra que a produção industrial caiu mais de 10%, mas se recuperou no mês seguinte.
Para Ribeiro, as sequelas mais fortes foram sentidas sobre a confiança, em especial a do consumidor, e daí para a economia. Sem confiança, o consumo, componente fundamental para fazer a economia voltar a avançar, se retrai.
"Uma nova paralisação mataria a confiança do consumidor, que já caiu em meio à turbulência política",diz Ribeiro.
"Seria um risco grande num governo cuja popularidade já está em queda. Pensando num movimento que quer extrair o máximo do governo, nada melhor do que fragilidade."
Flávio Serrano, economista sênior do banco de investimento Haitong, diz ser difícil estimar o efeito sobre o PIB, mas concorda que expectativa e confiança seriam atingidas.
Algumas empresas, porém, detalharam os estragos causados pela paralisação nos balanços mais recentes. Na JBS, a perda foi de R$ 112,9 milhões; na BRF, R$ 85 milhões, e, na Celulose Irani, R$ 5,6 milhões.
Uma nova paralisação seria catastrófica, diz Valdemar Kovaleski, presidente do sindicato de avicultores de Santa Catarina. O estado, um dos maiores polos do setor no país, viu sua produção cair 11% em 2018.
"Você pega um setor convalescente da crise de 2018 e recebe uma nova avalanche. O governo precisa estar preparado para lidar com a crise."
A paralisação teve efeito sobre todos os setores industriais, embora os de bens de consumo tenham sofrido mais, diz José Velloso, presidente-executivo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).
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