Após fusão com Nissan, Renault cogita comprar Fiat Chrysler

Prioridade dos executivos é consolidar acordo já existente após prisão de Ghosn

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Paris, Londres e Nova York | Financial Times

Além de tentar reiniciar negociações sobre uma fusão com a Nissan nos próximos meses, a Renault está se mostrando interessada em adquirir outra montadora - o alvo principal seria a Fiat Chrysler - afirmaram nesta quinta (28) fontes sobre os planos da companhia francesa.

O planejamento marca uma nova estratégia após a prisão de Carlos Ghosn, ex-presidente da aliança Nissan-Renault, acusado de fraude fiscal e uso de verbas do grupo para benefício próprio. Ele nega todas as acusações.

Tanto o lado francês quanto o japonês declararam publicamente que o foco está em fazer primeiramente com que a aliança funcione, para apenas depois se pensar em uma reestruturação de capital.

A recente criação de um novo conselho para a aliança, presidido por Jean-Dominique Senard, presidente do conselho da Renault, renovou a confiança nos avanços dos planos da fusão, disseram algumas pessoas informadas sobre o que os dois lados pensam.

A combinação das duas companhias em uma só, em seguida, buscaria uma nova aquisição que adensaria seus negócios, visando uma disputa pelo domínio do mercado mundial de automóveis contra rivais como Volkswagen e a Toyota.

Duas pessoas informadas sobre o assunto disseram que Ghosn havia conduzido negociações sobre uma fusão entre a Renault e a Fiat Chrysler dois ou três anos atrás, mas que a proposta foi torpedeada pela oposição do governo francês. Essas tratativas não haviam sido noticiadas anteriormente.

A Fiat Chrysler está buscando ativamente uma parceria ou fusão, e John Elkann, presidente do conselho, já se reuniu com representantes de diversos rivais, entre os quais a PSA (Peugeot) da França, a fim de discutir possíveis acordos para fortalecer a montadora.

Outra fonte declarou que a negociação pode demorar para acontecer. "É possível que a Fiat Chrysler já tenha promovido uma fusão bem sucedida com outro grupo quando a Renault e a Nissan tiverem enfim decidido seus assuntos", disse.

Ainda que seja uma montadora de automóveis de porte médio, fabricando cerca de cinco milhões de veículos por ano, a Fiat Chrysler, que controla as marcas Jeep e Alfa Romeo, ainda assim poderia ser um alvo de custo elevado, dada sua capitalização de mercado de mais de € 20 bilhões (cerca de R$ 88,6 bilhões). A Renault, a Nissan e a terceira participante da aliança, Mitsubishi, têm valor de mercado combinado estimado em mais de €50 bilhões (R$ 221 bilhões).

Os atuais executivos do conselho da aliança formada entre Renault e Nissan. - REUTERS

Além dos planos de consolidação, Renault, Nissan e Mitsubishi também devem anunciar um novo plano estratégico, talvez antes do final do ano, que deixaria de lado as metas existentes de expandir as vendas combinadas dos três grupos a 14 milhões de veículos por ano, até 2022, de acordo com um executivo que ocupa um cargo sênior na aliança.

As metas de sinergia, que envolveriam reduzir os custos combinados das três empresas em € 10 bilhões (R$ 44,03 bilhões) até 2022, também serão "deixadas de lado" como parte da reformulação, de acordo com pessoas informadas sobre o assunto.

Como parte da revisão, as duas empresas também devem alterar a composição de seus conselhos, com a Nissan incorporando conselheiros externos representantes do acionista majoritário e a Renault reduzindo o número de integrantes de seu conselho.

Há apenas três semanas, os presidentes-executivos da Renault, Nissan e Mitsubishi fizeram aparições públicas juntos e tentaram pôr fim a meses de crise, prometendo uma parceria em que todos os colaboradores sairão ganhando.

Mas a intenção da Renault é retomar as negociações "assim que possível", de acordo com duas pessoas próximas da empresa, o que mostra que a montadora fala sério sobre pressionar por mudanças permanentes na aliança, que celebrou seu 20º aniversário na quarta-feira.

A pressão por negociações surgiu depois da tentativa de Ghosn de tornar a aliança "irreversível", em 2018, o que agravou as tensões entre Paris e Tóquio e por fim resultou na queda do homem que liderou a empresa por quase 20 anos.

Pessoas próximas da Renault e do governo francês dizem que Senard liderará a empreitada. "O primeiro trabalho dele era colocar a casa em ordem", disse uma dessas pessoas. "Ele já o fez. Agora, é estabilizar e desenvolver".

A Renault controla 43% das ações da Nissan, e o governo da França detém 15% das ações da montadora francesa, com direitos de voto duplos.

A Nissan pode estar aberta a retomar as conversas sobre reformular a estrutura de capital da aliança se Senard provar que é um parceiro de negociação digno de confiança, de acordo com pessoas próximas ao grupo japonês.

Porta-vozes da Renault e Nissan se recusaram a comentar.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.