Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan, sai da cadeia após pagar fiança

O também ex-presidente da Renault e da Mitsubishi deu garantias de que permaneceria em Tóquio

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O ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn (de boné azul claro) é escoltado enquanto sai da Casa de Detenção de Tóquio após sua libertação sob fiança em Tóquio em 6 de março de 2019.
O ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn (de boné azul claro) é escoltado enquanto sai da Casa de Detenção de Tóquio após sua libertação sob fiança em Tóquio em 6 de março de 2019. - Behrouz Mehri/AFP
Tóquio | Reuters

O ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn, deixou a prisão nesta quarta-feira (6) após pagar fiança de R$ 34,3 milhões. Ele é acusado de má conduta financeira no Japão.

O ex-titã da indústria automobilística mundial estava preso na Casa de Detenção de Tóquio desde 19 de novembro

O Tribunal Distrital de Tóquio disse que Ghosn pagou a fiança de 1 bilhão de ienes —uma das mais altas do Japão— depois que a Justiça rejeitou o último recurso dos promotores para mantê-lo na cadeia.

Em um comunicado, Ghosn se declarou "infinitamente agradecido" aos amigos e parentes pelo apoio. 

"Sou inocente e estou realmente decidido a me defender vigorosamente em um julgamento justo contra estas acusações sem fundamento", afirmou.

Ele é "um homem muito marcado por esse episódio", mas que tem "a firme vontade de lutar para reconhecer sua inocência e recuperar sua dignidade", afirmou na tarde desta quarta-feira o advogado da família Ghosn, François Zimeray.

No Japão é incomum que uma pessoa acusada de abuso de confiança consiga a liberdade antes da definição da data de seu julgamento ou até mesmo antes do início do processo.

Para conseguir a libertação de seu cliente, o novo advogado de Ghosn, Junichiro Hironaka, sugeriu uma vigilância por câmeras e que o réu tenha meios de comunicação limitados com o exterior.

"Apresentamos a proposta de um dispositivo que torna impossível uma fuga ou a supressão de informações", afirmou Hironaka.

Segundo Zimeray, Ghosn teve "as comunicações (em sua casa) interceptadas, não tem acesso à internet e seus passaportes foram confiscados" e ele não pode discutir alguns assuntos com sua família.

Questionado sobre a possibilidade uma entrevista coletiva, Zimeray afirmou não ser plausível no curto prazo, "porque é um homem que precisa de readaptar a uma vida normal".

Em tese, de acordo com juristas, a Promotoria ainda tem a possibilidade de voltar a pedir a detenção do ex-diretor geral das montadoras Nissan e Renault com base em outras acusações.

Descontente com a rejeição dos pedidos de liberdade sob fiança anteriores, Carlos Ghosn decidiu mudar em fevereiro sua equipe de defesa, antes de abordar a fase de preparação do julgamento, que deve acontecer dentro de alguns meses.

Mais cedo na quarta-feira, um carro da Embaixada da França, onde Ghosn​ detém a nacionalidade, chegou ao centro de detenção enquanto helicópteros de mídia giravam no céu. Centenas de repórteres, fotógrafos e equipes de TV estavam reunidos do lado de fora da instalação, muitos dos quais tinham acampado durante a noite para garantir posições.

Cercado por seguranças e vestido com um uniforme de operário e um boné azul, o rosto de Ghosn ficou escondido por óculos grossos e uma máscara do tipo cirúrgico. Ele conseguiu evitar muitos dos repórteres que acampavam no local antes de ser levado embora em uma pequena van.

Ele enfrenta acusações de violação agravada de confiança e sub-relatar sua compensação em cerca de US$ 82 milhões na Nissan por quase uma década. Se condenado por todas as acusações, ele enfrenta uma sentença máxima de até 15 anos de prisão, disseram os promotores.

O ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn
O ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn - Jiji Press/AFP

CRONOLOGIA

19.nov.
Presidente do conselho da Nissan, Carlos Ghosn é preso por supostas violações financeiras no Japão; o diretor da Nissan Greg Kelly também é detido, suspeito de envolvimento no caso

21.nov.
Tribunal de Tóquio mantém as prisões de Ghosn e de Kelly por 10 dias

22.nov.
Conselho da Nissan tira Ghosn da presidência do colegiado e Kelly da direção da montadora

25.nov.
Ghosn se pronuncia pela primeira vez desde a detenção e nega as acusações

26.nov.
Conselho de administração da Mitsubishi Motors remove Ghosn da presidência do colegiado

30.nov.
Tribunal de Tóquio aceita estender até 10 de dezembro a detenção de Ghosn

10.dez.
Procuradores de Tóquio indiciam oficialmente Ghosn por subdeclarar sua renda e prorrogaram sua detenção. Nissan também é indiciada por apresentar declarações financeiras falsas

11.dez
Tribunal de Tóquio rejeita recurso apresentado pelos advogados de Ghosn para ele ser libertado

12.dez.
Tribunal brasileiro decide que Ghosn deve ter acesso a apartamento no Rio de Janeiro para recuperar pertences

13.dez.
Nissan afirma que Ghosn e seus representantes não têm direito a acessar o apartamento do Rio e que o conteúdo de três cofres existentes no imóvel pode conter evidência contra o executivo. Na mesma data, o conselho administrativo da Renault ratifica Ghosn como presidente da multinacional

14.dez.
Nissan informa que representantes de Ghosn recuperaram documentos do apartamento corporativo no Rio

20.dez.
Tribunal de Tóquio decide não prorrogar a prisão de Carlos Ghosn

21.dez.
Promotoria de Tóquio faz nova acusação econsegueimpedirasoltura do empresário. Kelly, porém, deve deixar a cadeia

23.dez.
Justiça japonesa decide prolongar a detenção de Ghosn por mais dez dias

25.dez.
Tribunal autoriza liberdade de Greg Kelly, sob fiança de R$ 2,4 milhões

31.dez.
Prisão de Ghosn é prorrogada por mais 10 dias

2019​

8.jan.
Ghosn faz primeira declaração pública desde prisão e diz que foi detido injustamente

11.jan.
Promotoria apresenta novas acusações contra Ghosn

17.jan.
Tribunal de Tóquio nega pedido de liberdade sob fiança, e Ghosn deve permanecer detido até março

20.jan.
Ghosn aluga apartamento e oferece uso de monitoramento eletrônico para deixar prisão

22.jan.
Justiça nega novo pedido de liberdade sob fiança de Ghson

24.jan.
Ghosn renuncia à presidência da Renault, e executivos da montadora francesa e da Michelin assumem seu lugar

30.jan.
Em primeira entrevista desde prisão em novembro, Ghson diz que executivos da Nissan usaram conspiração e traição para barrar integração com Renault

7.fev.
Renault apura se Ghosn usou contrato com Versalhes para pagar casamento

12.fev.
Ghosn renuncia aos postos de presidente do conselho e de presidente-executivo da Renault, mas se mantém como diretor

13.fev
Principal advogado de Carlos Ghosn, o ex-promotor Motonari Otsuru, pede demissão. Ele é substituído por Junichiro Hironaka

15.fev
A Ordem dos Advogados do Brasil envia documento à federação japonesa de advogados pedindo intervenção no caso do executivo, afirmando que ele seria vítima de tortura

4.mar
Família e advogados de  Ghosn enviam documento para grupo da ONU apontando violações na prisão do executivo

5.mar
Carlos Ghosn tem pedido de fiança aceito pela Justiça japonesa, que fixa pagamento no valor de cerca de R$ 34 milhões e exige monitoramento do executivo por câmeras

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