Cobrir a reforma da Previdência é como pilotar um carro da Fórmula 1

Editora do caderno Mercado conta como foi destrinchar proposta para os leitores

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São Paulo

Fazer a cobertura jornalística de uma reformulação constitucional com a complexidade da reforma da Previdência é como disputar uma corrida de Fórmula 1 —é preciso trocar pneus, abastecer, acelerar com precisão técnica sem derrapar nas curvas na tentativa de chegar na frente dos concorrentes.

Acompanhar o anúncio das medidas foi por si só uma prova de resistência física.

No dia 20 de fevereiro, data marcada para a divulgação, repórteres de São Paulo e Brasília estavam a postos antes das 8h para monitorar a movimentação no Congresso.

Já se sabia que haveria um ritual oficial para a entrega do texto, com a presença do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, e de representantes da Câmara e do Senado. Dessa solenidade sairiam a imagem do dia e eventuais falas, mas tudo com caráter institucional.

A prioridade era colocar os olhos sobre o texto final. Soube-se depois que o governo havia produzido 23 versões da PEC (Proposta de Emenda Constitucional). Uma delas tinha vazado dias antes, e havia grande expectativa sobre eventuais alterações. 

Uma apresentação simplificada, com tabelas e gráficos, só foi publicada às 10h18 no site do Ministério da Economia. 

A estratégia do governo de oferecer, na largada, um resumo didático agilizava a produção dos infográficos, parte trabalhosa e obrigatória da cobertura, porque são as imagens que facilitam a leitura e a compreensão de temas complexos como esse.

O auge do dia, porém, foi a atípica coletiva organizada para explicar as mais de 80 páginas —40 com as normas e outras 40 de justificativas.

Coletivas duram, em média, uma hora. As mais longas podem passar de duas horas. A da nova Previdência está entre as mais longas já realizadas. 

Em Brasília, cinco técnicos do Ministério da Economia ficaram mais de quatro horas à disposição dos jornalistas, que tiveram o desafio de apresentar dúvidas à medida que tomavam conhecimento das propostas.

A certa altura, puxaram uma cadeira para acomodar o secretário de Previdência, Rogério Marinho, que apareceu sem aviso para se juntar ao grupo.

Nesse primeiro dia, quase 30 profissionais da Folha e do Agora, integrados na cobertura, produziram reportagens, análises, gráficos e fotos em tempo real para a live, que depois foram consolidados no jornal. No dia seguinte, a edição impressa da Folha publicou nove páginas com as principais medidas.

As minúcias da PEC, porém, só começaram a ser destrinchadas nas semanas seguintes por repórteres e colunistas que se debruçaram sobre o calhamaço legal. Compreender cada detalhe da reformulação de uma Constituição exige paciência e tempo. É preciso comparar as normas vigentes com as alterações propostas —artigo por artigo, parágrafo por parágrafo. O trabalho ainda exige a consulta de advogados, acadêmicos e técnicos de diferentes áreas.

Foi dessa segunda etapa que se extraíram as alterações mais arrojadas e transformadoras da proposta, como a desconstitucionalização de boa parte das regras previdenciárias.

Na Fórmula 1, a corrida termina em uma hora e meia. No caso da PEC da Previdência, ninguém ainda sabe exatamente como e quando vamos todos cruzar a linha de chegada.

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