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Crise em países ricos levará todos a reboque

China salvou a economia durante a recessão de 2008, mas como já dá sinais de esgotamento, não há quem nos socorra

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Rodrigo Zeidan
Xangai

​Há nuvens negras se formando no horizonte econômico mundial. Estados Unidos, Europa e China, os motores do mundo, dão sinais de estarem batendo o pino. Se isso acontecer, vamos voltar à máxima de que quando os ricos pegam resfriado, os emergentes pegam pneumonia.

Poucos países emergentes grandes estão crescendo de forma significativa (exceções são Índia, Vietnã e Polônia). Na grande crise de 2008, quem segurou a economia mundial foi a China, mas agora, com a economia chinesa dando sinais de esgotamento, não vai ter ninguém que nos salve.

Pior é que os dados sobre o crescimento chinês podem estar sendo superfaturados há anos. Estudo recente do Brookings Institute revelou que até 2008 os dados oficiais batem com o real, mas que desde então o PIB chinês estaria, na verdade, crescendo 2% a menos do que o anunciado. 

Ou seja, a China teria crescido cerca de 5% em 2018, em vez de quase 7% (fora esses dados, os que vêm do país são muito mais confiáveis). 

Mas o passado importa muito menos do que as expectativas sobre o futuro. Qualquer forte desaceleração chinesa é transmitida para o resto do mundo por meio de comércio e mercados financeiros.

As exportações chinesas caíram 4% em relação ao mesmo período do ano passado e as importações estão quase 8% menores. Isso por si só não quer dizer que a China está desacelerando fortemente, mas não é um sinal alentador.

As expectativas de investimento da indústria também estão mais fracas do que o esperado. Mas na verdade, o que importa hoje é o comportamento dos consumidores chineses (e do resto do mundo).

A China deixou de ser somente uma economia industrial para se transformar em uma economia de consumo. São os chineses que ditarão o crescimento mundial. E os sinais não são claros.

Por um lado, o consumo no ano novo chinês, equivalente a nossas vendas de final de ano, cresceu somente 8,5% em 2019, abaixo dos 12% de 2018, e a confiança dos consumidores vem caindo. Por outro lado, as vendas ainda estão crescendo acima do PIB e podem ajudar a levantar a economia chinesa e a mundial.

A fraqueza industrial chinesa já é sentida na Alemanha, país que depende sobremaneira dos mercados asiáticos. A economia alemã contraiu-se no último trimestre e as expectativas iniciais para 2019, de alta de 1,3%, já estão sendo revisadas para baixo.

Nos Estados Unidos, outro grande motor da economia mundial, os dados de emprego trouxeram uma surpresa ruim. O número de contratações no mês passado, 20 mil, veio muito abaixo do esperado, 180 mil. Isso já deve ser resultado da guerra comercial imposta por Donald Trump e outras políticas estapafúrdias.

A economia americana estava indo bem apesar, e não por causa, do seu presidente. Mas os dados recentes colocam todo o mundo de sobreaviso.

Um outro sinal de perigo é a inflação, baixa demais. Economistas se preocupam quando preços sobem pouco se isso for por causa de demanda fraca, o que parece ser o caso no mundo hoje. Na China, na Alemanha e nos EUA, a inflação está entre 1,5% e 1,7% ao ano, abaixo das metas dos Bancos Centrais desses países (2%).

Com o PIB da economia italiana ainda menor do que era dez anos atrás, as outras economias que não decolam e os problemas da Alemanha, a área do Euro, que dava alguma esperança de sair da estagnação em que se encontra desde 2008, parece que vai continuar estagnada.

É por isso que o BCE, numa medida inesperada, anunciou pacote de estímulos meses após acabar sua política de quantitative easing.

De março de 2015 até dezembro de 2018, o BCE injetou € 2,6 trilhões na economia dos países da zona do Euro, comprando títulos públicos e privados. O plano era deixar a economia europeia avançar sem mais intervenções de peso.

Mas no dia 7 de março cortou projeção para o crescimento da economia europeia, de 1,7% para 1,1%, e anunciou outro programa de estímulos por meio de mais empréstimos ba-ratos para bancos europeus.

Na China, o banco central também anunciou uma grande surpresa. Estímulos anteriores ajudaram os montantes de empréstimos no país a atingirem mais de US$ 34 trilhões (R$ 130,2 trilhões). As autoridades monetárias estavam limitando o crescimento de empréstimos. Mas mudaram e vão continuar deixando que empréstimos privados cresçam acima da inflação.

Nos EUA, o grande debate é sobre o que o Federal Reserve, o Banco Central do país, vai fazer. Até o ano passado, a autoridade monetária tinha anunciado uma lenta, mas constante, política de aumentar os juros para frear o aquecimento da economia americana. Mas, também preocupado com o cenário da economia americana e mundial, já suavizou o discurso. 

Parece que novos aumentos de juros não devem acontecer e se a economia americana entrar em recessão, os juros devem cair.

As economias mundiais se comportam em ciclos de crescimento e recessão. No Brasil, estamos saindo muito lentamente da última crise.

Nas grandes economias, se acontecer o pior, o crescimento dos últimos anos pode se traduzir em recessão, levando todo o mundo a reboque. Há nuvens negras no horizonte, agora é nos preparar se vier uma tempestade.

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