Descrição de chapéu Previdência

Dólar bate recorde de R$ 3,90 no governo Bolsonaro após estresse com Previdência

Investidor perde quase tudo que ganhou na Bolsa desde a posse; risco-país dispara

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São Paulo

A Bolsa brasileira, o dólar, o risco-país e os juros: quatro dos principais termômetros do mercado financeiro mudaram de direção bruscamente nesta semana. Voltam para os mesmos patamares do começo do governo de Jair Bolsonaro (PSL), reflexo da dúvida de investidores com a aprovação da reforma da Previdência diante da total desarticulação no Congresso.

O dólar disparou mais de 2% apenas nesta sexta-feira (22) e rompeu os R$ 3,90 pela primeira vez neste governo. A alta percentual foi a maior desde o Joesley Day, como ficou conhecido o dia seguinte à divulgação dos áudios comprometedores entre Joesley Batista e o ex-presidente Michel Temer, em maio de 2017. O episódio sepultou a reforma da Previdência do governo Temer.

O tombo desta semana não foi por falta de alerta dos especialistas. Eles dizem desde o período eleitoral que a primeira dúvida sobre o comprometimento do governo de Jair Bolsonaro com a reforma da Previdência poderia colocar fim à euforia trazida pela nova gestão.

“A piora dos preços dos ativos reflete o aumento das dúvidas, entre investidores, sobre o encaminhamento da reforma da Previdência no Congresso, em um ambiente externo que também se torna mais complexo. Sem reforma da Previdência, fica difícil cumprir o teto de despesas e, com isso, controlar o crescimento da dívida pública", disse em nota Mário Mesquita, economista chefe do Itaú Unibanco.

Em 93 mil pontos, o nível de fechamento nesta sexta, a Bolsa brasileira volta ao patamar da primeira semana após a posse de Bolsonaro. Na época, o índice Ibovespa, o mais importante do país, batia recordes dia após dia.

Depois de ter encostado os 100 mil pontos no começo desta semana, o novo patamar de fechamento é o retrato da decepção de investidores.

O Ibovespa encerrou esta sexta a 93.735 pontos, queda de 3,09%. O giro financeiro superou R$ 20 bilhões, acima da média de R$ 16 bilhões do ano e sinal claro de uma liquidação de ativos por parte de investidores. No ano, a alta acumulada é de 6,7%.

“A gente foi do céu ao inferno em uma semana”, resume Álvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais.

As perdas foram disseminadas por todos os papéis que compõem o índice. Petrobras e Banco do Brasil, estatais que se beneficiavam com a troca de governo, perderam apenas nesta sexta mais de 5%.

O risco-país medido pelo CDS (Credit Default Swap) subiu quase 9%, a 177,9 pontos. Os juros futuros também avançaram. São medidas que apontam para a desconfiança de investidores com o equilíbrio das contas do governo, mas também a piora no cenário externo.

A reforma da Previdência é considera essencial por investidores para que a dívida pública pare de crescer. Se ela aumenta, investidores exigem remuneração maior para emprestar dinheiro ao governo.

Se há um ponto que pode sintetizar a virada do mercado é a impaciência de Rodrigo Maia (DEM-RJ) com o clã Bolsonaro. Segundo a coluna Mônica Bergamo, o presidente da Câmara conversou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e avisou que a partir de agora fará “nova política”, que definiu como não fazer nada e esperar por aplausos das redes sociais. Maia nega que tenha usado tal tom, ainda de acordo com a coluna. 

O presidente da Câmara é visto como a principal força capaz de articular partidos de todos os espectros políticos em torno da reforma da Previdência, mas avisou que não fará sozinho e menos sob ataques dos filhos de Bolsonaro. 

A gota d’água teria sido o apoio ao ministro Sergio Moro (Justiça) na pauta anticorrupção, que Maia criticou publicamente nesta semana.

"Ter Rodrigo Maia, com boa articulação com direita e esquerda, é essencial", afirma Carlos Menezes, gestor da Gauss Capital.

Para ele, os próximos meses vão depender da manutenção do comprometimento de Maia na articulação e também de Bolsonaro "dar mais a mão, aparecer junto com Maia na discussão da reforma".

No final da tarde, enquanto o mercado ia para o vinagre, governistas ensaiavam uma bandeira branca a Maia. Senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), e a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), publicaram mensagens de apoio ao presidente da Câmara em redes sociais.

O presidente, que chegou dos Estados Unidos no meio da semana e agora está no Chile, disse que conversaria com Maia para entender a insatisfação.

"Queria saber o motivo pelo qual o Rodrigo Maia está saindo, estou aberto a diálogo, qual o motivo? Eu
 não dei motivo para ele sair", afirmou Bolsonaro. 

A turbulenta sexta-feira marca a virada de direção iniciada na quarta. Foi quando Bolsonaro colheu críticas, inclusive de membros de seu partido no Congresso, ao apresentar uma reforma da Previdência dos militares considerada benevolente com a classe e oferecendo uma economia pífia, apenas R$ 10 bilhões em dez anos.

Segundo Álvaro Bandeira, da Modalmais, apenas em fevereiro o governo abriu mão de R$ 7,7 bilhões em desonerações, uma amostra de quanto a cifra de mudanças para militares pode ser considerada insignificante. A reforma dos civis deve poupar R$ 1,1 trilhão em dez anos.

Houve ainda a queda de popularidade do presidente, medida pelo Ibope, marcando o pior início de primeiro mandato. 

E ainda a prisão do ex-presidente Michel Temer (MDB), que tende a mobilizar as atenções dos parlamentares, empáticos ao político e receosos sobre um novo fortalecimento da Lava Jato.

No exterior, a sexta-feira tampouco foi positiva. Após algum otimismo com a manutenção dos juros americanos no atual patamar de 2,25% a 2,50%, sinalizada pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), as principais Bolsas americanas e europeias recuaram.

Reflexo do pessimismo com a desaceleração da economia global, o motivo da manutenção dos juros nos EUA. Nesta sexta, a Alemanha divulgou dados piores que o esperado, realimentando a aversão a risco.

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