Futuro avião supersônico deverá ser mais silencioso que o aposentado Concorde

Barulho gerado pelo rompimento da barreira do som impede voo sobre áreas populosas

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Sonia Wolf
Paris

Cinquenta anos depois do primeiro voo do Concorde, o avião supersônico ainda causa fascinação. Há projetos em desenvolvimento para uma nova aeronave nos Estados Unidos, mas o futuro avião de grande velocidade deverá ser mais silencioso para se adaptar às normas de poluição sonora.

Nos anos 1970, o franco-britânico Concorde decolava com um nível sonoro de 119,4 decibéis —algo inaceitável hoje em dia devido às normas internacionais— e o estrondoso "bang" supersônico gerado quando rompia a barreira do som proibia que que sobrevoasse as zonas habitadas.

A velocidade de cruzeiro do avião era de Mach 2,04 (2.500 km/h, cerca de duas vezes a velocidade do som).

"Os interesses econômicos de projetos de aviões executivos supersônicos só podem ser confirmados se a legislação permitir o sobrevoo de terras [habitadas], e o obstáculo é o 'bang'", afirma Gérald Carrier, responsável pelo departamento de aerodinâmica aplicada do Onera, o centro francês de pesquisas aeroespaciais.

Concorde decola do aeroporto de Heathrow, em Londres, em 2003
Concorde decola do aeroporto de Heathrow, em Londres, em 2003 - Adrian Dennis - 24.out.03/AFP

"O foco de pesquisa da Nasa está centrado neste obstáculo há dez anos", diz Carrier. Segundo ele, o avanço nessas pesquisas permite pensar que uma aeronave supersônica de baixo nível sonoro poderá ser alcançada.

Em julho do ano passado, Nasa e Onera firmaram uma parceria em pesquisa sobre esse ruído supersônico. O Concorde, que foi um fiasco comercial, deixou de voar em 2003.

Brune Hamon, chefe de desempenho ambiental de aeronaves na órgão francês que regula a aviação civil, afirmou que, desde a década de 60, foi possível reduzir em 75% o ruído de aviões subsônicos (ou seja, que voam abaixo da velocidade do som).

Hoje, afirma, europeus e americanos não chegam a um consenso na comissão criada pela Oaci, a agência da ONU especializada em transporte aéreo, para definir as normas acústicas para um futuro avião que volte a romper a velocidade do som.

"Os europeus querem que os supersônicos respeitem as normas de subsônicos, e os americanos querem que o padrão permita que seus projetos de aeronaves entrem no mercado", diz Hamon.

A posição americana a favor de uma norma mais flexível, afirma, seria vista como um retrocesso e com forte reação popular.

Em relação ao "bang" —cuja intensidade é similar à de explosões no fim de fogos de artifício, segundo Hamon—, a Europa contribui para um projeto chamado Rumble, destinado a ajudar a Oaci para definir um padrão aceitável para o ruído supersônico.

Modelos

Várias start-ups dos EUA projetam aviões supersônicos do tamanho de um jato particular, como Aerion, o mais avançado, com capacidade de entre 8 e 12 passageiros; o Spike s-512, com a mesma capacidade; e o projeto Boom, o mais ambicioso, que visa transportar entre 45 e 50 passageiros.

A Boeing, também dos Estados Undios, revelou em junho seu conceito de um avião "hipersônico", para voar em Mach-5 (cinco vezes a velocidade do som) dentro de 20 ou 30 anos.

Dois meses antes, a Nasa assinou um acordo com a Lockheed Martin para o desenvolvimento de um "Avion-X" Supersonic, cuja missão é superar a barreira do som sem produzir o "bang" e, assim, voar áreas mais povoadas.

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