Em fevereiro, completamos três anos de taxa de desemprego acima de 10%. Infelizmente, depois da longa recessão que nos abateu, o mercado de trabalho ainda não conseguiu dar sinais de saída dos patamares elevados em que nos encontramos.
Para isso acontecer, será necessário que o crescimento se recupere com mais rapidez.
De fato, este também será o terceiro ano seguido de crescimento fraco do PIB, com recuperação de apenas 4,5% desde o final de 2016, após a queda história de 11% entre o fim de 2013 e dezembro de 2016.
A recuperação lenta se dá porque os instrumentos disponíveis de estímulo à demanda, especialmente as políticas fiscal e monetária, estão engessados. A fiscal, por ser a origem de toda nossa crise, e a monetária, porque a Selic, para cair mais do que já caiu, depende da aprovação da reforma da Previdência.
Sem estímulos de demanda que costumam ser rápidos, o governo Michel Temer (MDB) e agora o de Jair Bolsonaro (PSL) optaram corretamente pelas mudanças do lado da oferta, que aumentam a produtividade.
Em geral, tais mudanças são lentas, com impactos difusos ao longo dos anos na economia, gerando resultados no mercado de trabalho também com mais lentidão.
Pode parecer que seja a opção errada, mas em geral reformas que mexem na produtividade são aquelas que conseguem gerar crescimento mais sustentável e, consequentemente, mais emprego.
Algumas reformas importantes já foram feitas, como a trabalhista e o cadastro positivo, que tende a gerar queda de spread bancário e mais crédito e consumo no futuro.
Outras terão de vir, especialmente a reforma tributária, para trazer mais eficiência para a economia, após a aprovação da reforma da Previdência, a mais importante.
Essa certamente não é uma condição suficiente de recuperação da economia, mas necessária para que se estabilize a trajetória fiscal do país, permitindo que a taxa de juros caia mais ainda no futuro.
Mas um elemento novo a entornar o caldo já espesso apareceu neste ano. Para investir e contratar, as empresas demandam horizonte estável em uma economia. As reformas ajudam nisso, mas também será necessário que a conjuntura política ajude.
Os tumultos que se acumulam entre Executivo e Legislativo são ruídos que afugentam investidores e podem manter o clima de incerteza, mesmo com a reforma da Previdência aprovada.
O horizonte para o mercado de trabalho pode se manter nublado caso a política não encontre logo seu rumo.
Sergio Vale é economista-chefe da MB Associados
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