Vale lucra R$ 25,6 bi em balanço ainda sem efeitos de Brumadinho

Empresa fecha 2018 com receita de R$ 134 bilhões, 24% acima de 2017

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Rio de Janeiro

A Vale fechou 2018 com lucro líquido de R$ 25,6 bilhões, alta de 45,5% com relação ao registrado no ano anterior. Divulgado com uma fita preta de luto impressa na capa, o balanço da companhia não trouxe ainda impactos da tragédia de Brumadinho (MG), que ocorreu no dia 25 de janeiro.

A companhia diz que os impactos serão contabilizados no primeiro trimestre de 2019. Até o momento, autoridades contabilizam 216 mortos e 89 desaparecidos. Com maiores restrições de segurança, minas com capacidade para produzir 92,8 milhões de toneladas por ano estão fora de operação.

"A Vale ainda está avaliando os passivos potenciais que podem surgir da ruptura da Barragem I. Devido ao estágio preliminar das diversas alegações e contingências, não é possível determinar um conjunto de resultados ou estimativas confiáveis da exposição potencial", diz a empresa, no relatório.

"Os custos incorridos até o momento são principalmente relacionados a doações, indenizações iniciais, assistência humanitária, equipamentos, consultores jurídicos, entre outros", completa. 

Logo da mineradora Vale em Brumadinho, Minas Gerais
Logo da mineradora Vale em Brumadinho, Minas Gerais - Adriano Machado/Reuters

O documento cita ainda gastos adicionais de R$ 5 bilhões para descaracterizar barragens com alteamento a montante, com as de Brumadinho e Mariana (MG), que se rompeu em 2015, deixando 19 mortos e um rastro de destruição que chegou ao litoral capixaba.

A empresa diz também que dará baixa no valor dos ativos da mina Córrego do Feijão, onde estava a barragem que se rompeu em Brumadinho, e de outros ativos relacionados a barragens a montante no Brasil, "resultando em uma perda contábil, que impactará o balanço patrimonial e a demonstração do resultado da companhia". 

A divulgação do resultado de 2018 foi adiada após a tragédia de Brumadinho. Ao contrário de anos anteriores, a mineradora optou por arquivar os documentos na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) depois do fechamento do mercado —e não no início do dia. Também não distribuiu vídeos de executivos comentando o resultado.

O desempenho da companhia em 2018 foi beneficiado pela desvalorização do real ante do dólar durante o ano, que amplia a receita em moeda nacional de produtos vendidos no mercado internacional. Apenas no quarto trimestre, a Vale lucrou R$ R$ 14,5 bilhões, alta de 472% com relação ao mesmo período do ano anterior. 

A empresa fechou o ano com receita de R$ 134 bilhões, 24% acima do registrado em 2017. O Ebitda (medida que mede a geração de caixa de uma empresa) cresceu 24,6%, para R$ 61 bilhões. 

Responsável por operações como a de Brumadinho, a área de Minerais Ferrosos teve Ebitda de R$ 54,2 bilhões, 25% a mais do que no ano anterior, segundo a empresa, devido a efeitos da variação cambial, maiores preços e volumes de venda.

Em 2018, a Vale produziu 384,6 milhões de toneladas de minério de ferro, 5% a mais do que no ano anterior. Após o desastre de Brumadinho, a companhia suspendeu voluntariamente as operações em dois complexos produtores e foi obrigada pela Justiça a paralisar três outras minas.

As paralisações cortaram um volume equivalente a 24% de sua produção em 2018, cenário que gera preocupações entre municípios dependentes da mineração e trabalhadores da cadeia produtiva do setor. 

A companhia fechou o ano com dívida líquida de US$ 9,6 bilhões (cerca de R$ 37 bilhões, pela cotação do fim do ano), atingindo a meta de reduzir a dívida abaixo dos US$ 10 bilhões (cerca de R$ 39 bilhões).

A redução da dívida e o foco na remuneração aos acionistas eram as principais bandeiras do presidente afastado da companhia, Fabio Schvartsman, que assumiu em maio de 2017 e se afastou em fevereiro a pedido da força-tarefa que investiga o rompimento da barragem em Brumadinho.

Em uma das primeiras declarações após o desastre, ele anunciou a suspensão do pagamento de dividendos e de processo de recompra de ações. O balanço de 2018 mostra, porém, que a companhia já havia distribuído aos acionistas antecipadamente mais do que os 25% do lucro liquido obrigatórios por lei.

Em 20 de setembro, foram pagos R$ 7,7 bilhões a titulo de juros sobre o capital próprio - segundo a própria Vale, volume "significativamente acima do limite legal", que somaria R$ 6,7 bilhões, considerando o resultado anual. 

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