Biografia expõe habilidade de Moreira Salles como diplomata

Jornalista Luis Nassif lança livro sobre o banqueiro de MG que foi embaixador

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São Paulo

"Diplomacia é questão de contatos de ordem pessoal, não há outra maneira. Sem alarde, sem ser do tipo 'estou defendendo isto ou aquilo', é conversando suavemente, socialmente."

Esse é um dos trechos de uma série de entrevistas realizadas pelo jornalista Luis Nassif com o diplomata e banqueiro Walther Moreira Salles entre 1991 e 1994.

Com base nesses depoimentos, em dezenas de entrevistas com familiares e amigos e em uma bibliografia vasta, Nassif lança o livro que leva o nome do seu biografado. É uma obra que o jornalista vem preparando, entre idas e vindas, há quase três décadas.

Moreira Salles (1912-2001) se tornou sócio da casa bancária fundada pelo pai em Poços de Caldas (MG) em 1933. Tinha apenas 21 anos. Fez da instituição, transformada em Unibanco quatro décadas depois, uma das maiores do país. 

Sua inquietude no mundo dos negócios era admirável. Investiu em ramos aparentemente inconciliáveis, da comercialização de café ao refino de petróleo, da criação de gado ao jornalismo de luxo. 
Ainda que as proezas empresariais sejam impressionantes, é o Moreira Salles diplomata quem, de fato, sai engrandecido ao fim da leitura. 

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Walther Moreira Salles em setembro de 1952 - Folhapress

Moreira Salles foi o embaixador do Brasil em Washington sob o governo de dois presidentes, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. 

No início dos anos 1950, na gestão de Getúlio, o país precisava com urgência de um empréstimo expressivo. O embaixador levou adiante uma bem-sucedida articulação com o governo democrata de Harry Truman, mas o acerto caiu por terra com a eleição do republicano Dwight Eisenhower, que pregava maior austeridade com as contas públicas. 

No início de 1953, Moreira Salles abriu intrincada negociação com John Foster Dulles, secretário de Estado dos EUA. Com sagacidade e firmeza, obteve crédito de US$ 300 milhões (US$ 2,9 bilhões em valores atuais), notícia ótima para a economia brasileira. 

Com domínio do tema e sem excessos de estilo, o trecho é narrado como um thriller das finanças por Nassif. 

Além desses dois períodos nos EUA, Moreira Salles foi uma espécie de embaixador especial de Jânio Quadros, com a missão de renegociar a dívida externa. Também atuou como ministro da Fazenda sob o governo parlamentarista de João Goulart. 

É surpreendente que alguém tenha assumido cargos importantes nas gestões de quatro presidentes de perfis tão diferentes entre si. Mais espantoso ainda é ter sido eficiente em todas essas missões.

Ele também colheu muitos êxitos na trajetória como banqueiro, mas não foram poucas as apostas que naufragaram. A biografia acerta ao apresentá-las com transparência. 

Em 1972, sob a bênção de Delfim Netto, então ministro da Fazenda, Moreira Salles, do Unibanco, e Amador Aguiar, do Bradesco, assinaram contrato que previa a fusão dos dois bancos. Resistências posteriores, porém, levaram ao cancelamento da aliança.

Nos anos seguintes, o Unibanco foi derrotado duas vezes pelo Itaú em disputas por aquisição de instituições. "Os problemas de transição da velha para a nova geração impediram a modernização prévia do banco", escreve Nassif.

Em 2008, sete anos após a morte de Moreira Salles, houve a fusão de Itaú e Unibanco. Pedro, o segundo filho do casamento de Walther e Elisa Gonçalves, foi um grandes responsáveis pela operação.

Depois de Moreira Salles, homem reservado, culto e extremamente gentil, a grande figura do livro é Elisinha, como era chamada. 

Do casamento deles, o segundo dos três de Moreira Salles, nasceram Walther (que se tornou cineasta), Pedro (banqueiro) e João (documentarista e editor da revista piauí). Fernando (editor) é filho do primeiro casamento, com a francesa Hélène. 

Com personagens complexos e histórias fascinantes, Nassif não precisaria recorrer ao truque fácil dos superlativos. A revista Sombra, que tinha Moreira Salles como sócio, "foi provavelmente a mais bela revista já editada no país", escreve o autor. Páginas adiante, ele diz que o Rio dos anos 1950 se transformava na "cidade mais divertida do planeta". 

Além disso, Nassif sucumbe a uma tentação comum entre os biógrafos: perde-se vez ou outra no fascínio por um personagem lateral e esquece o biografado por páginas.

Um esforço de concisão teria feito bem à obra de 450 páginas, o que não reduz a importância do livro sobre o homem do sul de Minas  que ajudou a construir o Brasil. 

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