Cade pede à Rede que explique mudança em política de preços

Empresa reduz taxa para lojistas e acirra concorrência no setor de maquininhas

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São Paulo

O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) enviou, nesta quinta-feira (18) ofício à Rede, do grupo Itaú Unibanco, questionando o mecanismo de funcionamento da nova política da empresa.

Na quarta, a companhia anunciou que zerou a taxa para antecipar recebíveis de lojistas que receberem pagamentos de compras com cartão de crédito à vista em terminais da empresa.

Por consequência, o prazo em que os lojistas receberão os valores depositados foi reduzido de 30 para dois dias.

A autarquia, no entanto, deu o prazo de contestação de 3 de maio. Conforme divulgado, a taxa zero de antecipação passa a valer a partir do dia 2 de maio.

O benefício é válido apenas para clientes que sejam correntistas do banco Itaú e tenham faturamento de até R$ 30 milhões ao ano. Ou seja, apenas varejistas.

Concorrentes do setor acusam a Rede de dumping, quando empresas vendem mercadorias abaixo do valor de mercado para derrubar a concorrência, e de venda casada, por combinar as contas correntes do Itaú com a aquisição da maquininha da Rede.

imagem mostra aplicativo de celular, máquina pequena e máquina tradicional
Máquinas de cartão de crédito e débito da Rede, empresa do Itaú - Divulgação

Houve manifestação oficial da Abipag (Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos). Nota assinada pelo presidente da entidade, Augusto Lins, afirma que oferta da Rede é “ato anticompetitivo com o objetivo de destruir as fintechs e inibir a competição nesse mercado” ou é uma propaganda duvidosa.

O texto ainda destaca que, de acordo com relatos, somente clientes do plano Flex poderão ter acesso à taxa zero oferecida pela Rede.

“Ao invés de competir com as fintechs e insurgentes melhorando seus produtos e o serviço oferecido aos clientes, a estratégia do Itaú, com a Rede, é de usar seu poder econômico de forma abusiva para inibir a competição e restaurar o status de monopólio”, afirma.

Segundo a Folha apurou, a Rede tem argumentado que o modelo de negócio ainda será rentável. A conta e a maquininha são obtidas de forma independente pelo cliente, o que refutaria as acusações.

GUERRA DAS MAQUININHAS

O setor de pagamento é um dos mais concorridos do país. Segundo relatório do ItaúBBA, Cielo, que já controlou a maior parte do mercado, está em constante retração e, no fim de 2018, detinha 41,7% dos clientes.

Rede é a segunda maior do setor, com 30%. Stone e PagSeguro apresentam crescimento e, juntas, têm 12,8% de participação.

A isenção na taxa de antecipação é a aposta da Rede para aumentar sua fatia no mercado frente a forte concorrência das novatas Stone e PagSeguro.

Com taxas mais acessíveis, elas têm grande aderência frente ao pequeno e médio empreendedor, foco da nova política da Rede.

A novidade representa uma grande mudança no setor. As ações da concorrência tiveram forte queda nesta sexta.

“Ou outras empresas zeram a taxa de antecipação, ou perdem mercado. Para Stone e PagSeguro, por terem o foco no pequeno e médio empreendedor, o impacto pode ser ainda maior. É um movimento bem ousado da Rede que reflete o ambiente hostil de concorrência”, afirma Thiago Salomão, da Rico Investimentos.

Para Rafael Passos, analista da Guide, a tendência é que todo o setor diminua sua margem de lucros.

"É um setor que ainda vai ganhar uma quantidade forte de players. As estratégias agressivas em busca de participação do mercado vai levar o setor a uma mudança estrutural", afirma.

Passos lembra que todas mudanças em curso são possíveis porque o Banco Central aproximou as regras do setor no Brasil às de países onde o mercado está mais desenvolvido, como os Estados Unidos.

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