EUA investigam Ford por informações incorretas sobre emissões de poluentes

Departamento de Justiça avalia se montadora subestimou efeitos de resistência do ar e fricção no desempenho de seus veículos

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Peter Campbell, Kadhim Shubber e Matthew Rocco
Londres | Financial Times

A Ford está sob investigação criminal nos Estados Unidos em um caso ligado ao teste de emissões de poluentes por seus veículos que ecoa o escândalo quanto aos motores diesel que engolfou a Volkswagen quatro anos atrás.

A montadora americana de automóveis afirmou que a investigação pelo Departamento da Justiça tinha por foco suas "estimativas de resistência ao avanço", que são cálculos sobre a resistência do ar e a fricção que seus veículos enfrentam e terminam incorporados aos testes de emissões de poluentes.

Se essas estimativas forem incorretas, o veículo usará menos combustível nos testes e com isso suas emissões de dióxido de carbono serão mais baixas do que no uso real, durante o qual a resistência do ar e fricção são mais altos.

Sede da Ford no Michigan (EUA)PAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY == - Bill Pugliano 7.nov.2008/AFP

O Departamento da Justiça americano abriu uma investigação sobre o assunto depois que a montadora revelou alguns dados voluntariamente à Agência de Proteção Ambiental (EPA) e ao Conselho de Recursos do Ar da Califórnia, em fevereiro, informou a Ford em documentos apresentados às autoridades na sexta-feira.

"A preocupação potencial não está relacionada ao uso de dispositivos manipuladores", enfatizou a Ford.

Os dispositivos manipuladores ("defeat devices") eram softwares usados pela Volkswagen de forma a alterar os controles de emissões em seus motores e registrar emissões mais baixas de poluentes em regime de teste.

A companhia alemã pagou mais de 20 bilhões de euros (R$ 87,5 bilhões) em penalidades criminais e civis, em acordos com autoridades estaduais e federais dos Estados Unidos, por conta do escândalo "dieselgate".

É cedo demais para avaliar as multas que a Ford poderia ter de pagar se for constatado algum delito.

Aconteceu um caso semelhante envolvendo as montadoras Hyundai e Kia. Elas tiveram de pagar uma indenização de US$ 350 milhões em 2014, depois de dois anos de investigação sobre informações incorretas quanto ao consumo de combustível de seus modelos, por conta de cálculos incorretos sobre a resistência ao avanço.

A Ford informou nos documentos apresentados às autoridades que havia notificado outras agências federais e estaduais dos Estados Unidos sobre o assunto.

"Estamos cooperando plenamente com todas as agências do governo. Porque esse assunto ainda está em estágio preliminar, não podemos prever o desfecho e não podemos oferecer garantias de que não haverá efeito material adverso sobre nós", a companhia afirmou.

A despeito da revelação, as ações da Ford mostravam alta de 8%, depois do anúncio de resultados muito positivos na quinta-feira, que demonstraram que o plano de recuperação mundial da companhia começa a fazer efeito.

Um estudo do Conselho Internacional do Transporte Limpo (ICCT na sigla em inglês), constatou em 2016 que estimar incorretamente a resistência ao avanço havia resultado em redução de até 15% nas emissões de dióxido de carbono de alguns modelos, em testes de laboratório.

Peter Mock, diretor executivo do ICCT na Europa, disse que no passado havia "muita manipulação de resultados" nessa área, com os fabricantes usando pneus cheios demais ou outras medidas, que não seriam práticas ou seguras para uso cotidiano, a fim de reduzir a resistência ao avanço de seus carros em condições de laboratório.

"Essa é provavelmente uma das principais maneiras de reduzir as emissões de dióxido de carbono em testes", ele disse, acrescentando que os mesmos dados sobre resistência ao avanço de um veículo são aplicados automaticamente a todos os futuros veículos semelhantes.

Kim Pittel, diretor de engenharia de emissões da Ford, disse na sexta-feira que "o Departamento da Justiça nos contatou no começo do mês e nos informou sobre a abertura de uma investigação criminal".

O Departamento da Justiça não quis comentar.

Tradução de Paulo Migliacci
 

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