FMI diz que perspectiva de crescimento global é precária em meio a tensões comerciais

Comércio encolheu 0,3% e perspectiva de crescimento ficou abaixo do esperado, divulgou a OMC

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Washington, Genebra e Londres | Reuters e Financial Times

O FMI (Fundo Monetário Internacional) afirmou nesta terça-feira (02) que o crescimento global perdeu força em meio às tensões comerciais e condições financeiras mais apertadas, mas que pausas nas altas dos juros ajudarão a impulsionar a atividade a partir do segundo semestre de 2019.

A diretora-gerente da entidade, Christine Lagarde, disse que a economia global está "instável" após dois anos de crescimento estável, com a perspectiva "precária" e vulnerável ao comércio, Brexit e choques dos mercados financeiros. Lagarde se pronunciou na Câmara de Comércio americana em Washington, antes das reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial.

"Em janeiro, o FMI projetou crescimento global para 2019 e 2020 em torno de 3,5%, menos do que no passado recente, mas ainda razoável. Desde então, ele perdeu mais força", declarou Lagarde. 

Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), em 2018

Há dois anos, a instituição observou que 75% da economia global estava recuperando o crescimento. "Para este ano, esperamos que 70% (...) experimentem uma desaceleração", explicou. Legarde ressaltou que a recuperação esperada para o final de 2019 é frágil.

Ela disse ainda que o FMI não prevê uma recessão global a curto prazo, e que o "ritmo mais paciente de normalização da política monetária" do Federal Reserve (sistema de bancos centrais dos Estados Unidos) fornecerá algum impulso para o crescimento no segundo semestre de 2019 e em 2020.

Lagarde alertou, entretanto, que anos de dívida pública alta e taxas de juros baixas desde a crise financeira de 2008 deixaram espaço limitado em muitos países para agirem quando a próxima contração chegar e que, portanto, os países precisam fazer uso mais inteligente da política fiscal.

Isso significa atingir um equilíbrio melhor entre crescimento, sustentabilidade da dívida e objetivos sociais, além de agir para lidar com a crescente desigualdade através da construção de redes de segurança social mais fortes.

Ela previu nova pesquisa do FMI mostrando que o aumento das barreiras comerciais está prejudicando o investimento em fábricas, maquinário e projetos de criação de empregos.

Lagarde também disse que o FMI revisou sua análise dos impactos da guerra comercial entre EUA e China, mostrando que se todo o comércio entre as duas maiores economias do mundo estiver sujeito a tarifas de 25%, o Produto Interno Bruto dos EUA cairá até 0,6%, enquanto o da China recuará até 1,5%.

O FMI, que deve divulgar em 9 de abril sua nova previsão para a economia global, alerta há mais de um ano contra a guerra comercial entre Estados Unidos e a China com implicações para o crescimento global.

A guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais se materializou no ano passado com impostos aduaneiros punitivos recíprocos em centenas de bilhões de dólares em mercadorias.

Apesar de rodadas de negociações e do que parecem ser gestos de boa vontade entre os países, o conflito cria um clima de incerteza, causando turbulência nos mercados e corroendo a confiança dos investidores. 

Lagarde observa também que a economia global poderia se beneficiar das medidas anunciadas pelas autoridades chinesas para estimular a expansão da sua economia, que registrou em 2018 taxa de crescimento de 6,6%, a menor em 28 anos. 

Observando que "muitas economias não são suficientemente resilientes", ela reiterou a necessidade de se preparar para a próxima recessão, erguendo barreiras de proteção e adotando as reformas necessárias enquanto a economia ainda está relativamente bem. Na frente comercial, ela mais uma vez pediu a remoção de barreiras alfandegárias.

Com base em uma análise feita por economistas do FMI sobre a situação de 180 países nos últimos 60 anos, Christine Lagarde observou que "a integração comercial claramente impulsionou o investimento".

"Por outro lado, as barreiras tarifárias degradam significativamente o investimento e o emprego", concluiu.

Comércio também teve recuo

O comércio mundial encolheu 0,3% no quarto trimestre de 2018 e deve crescer 2,6% neste ano, abaixo da expansão de 3% em 2018 e da estimativa anterior de 3,7%, informou a OMC (Organização Mundial de Comércio) nesta terça-feira (02).

Em sua previsão anual, a OMC disse que o comércio tem sido pressionado por novas tarifas, crescimento econômico mais fraco, volatilidade nos mercados financeiros e condições monetárias mais apertadas em países desenvolvidos. A organização estimou em setembro que o crescimento em 2018 seria de 3,9%, contra 4,6% em 2017.

"Com as tensões comerciais em alta, não se deve ficar surpreso com esse cenário. O comércio não pode desempenhar seu papel total de guiar o crescimento quando vemos níveis tão altos de incerteza", disse o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, em comunicado.

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Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), durante entrevista à Folha no Fórum Econômico Mundial para a América Latina, em 2018 - Folhapress

"Claro, há outros elementos, mas o aumento das tensões comerciais é o principal fator", disse ele em entrevista à imprensa. "Acho que é bastante óbvio que as tensões entre Estados Unidos e China têm um grande papel".

Ele se recusou a prever o impacto da saída do Reino Unido da União Europeia.

Embora o volume de comércio tenha crescido lentamente em 2018, o valor em dólares aumentou 10%, para US$ 19,48 trilhões (R$ 75,34 trilhões), em parte devido a um aumento de 20% nos preços do petróleo, disse a OMC.

O valor das negociações de serviços comerciais cresceu 8%, para US$ 5,80 trilhões (R$ 22,43 trilhões)  em 2018, diante do forte crescimento das importações na Ásia.

O volume de comércio de produtos deve crescer com mais força em economias em desenvolvimento neste ano, com expansão de 3,4% nas exportações contra 2,1% em economias desenvolvidas.

Mas a previsão é altamente incerta, com o número de crescimento global de 2,6% sendo o ponto médio de uma faixa que vai de 1,3% a 4%. A taxa real de crescimento pode ser ainda maior ou menor se as tensões comerciais piorarem ou melhorarem, disse a OMC.

Petróleo subiu 27%, para US$ 68 (R$ 263), na última sexta (29); Aumento é a maior alta trimestral em dez anos - REUTERS

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