Justiça determina bloqueio de R$ 100 milhões da Braskem

Objetivo é reparar danos a moradores de bairro de Maceió que começou a registrar afundamento do solo e rachaduras em imóveis

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Justiça de Alagoas determinou nesta quinta-feira (4) o bloqueio de R$ 100 milhões da Braskem, fabricante química do grupo Odebrecht.

O Ministério Público e a Defensoria Pública de Alagoas pediram o bloqueio, na terça, de R$ 6,7 bilhões, mas o juiz Pedro Ivens Simões de França limitou o valor a R$ 100 milhões.

A Promotoria ainda havia pedido o bloqueio de todas as ações da empresa negociadas em Bolsa, o que foi negado pelo magistrado. “Tal decisão afeta a esfera jurídica dos investidores espalhados pelo mundo afora”, disse o juiz na decisão.

O objetivo do bloqueio é reparar eventuais danos a moradores de um bairro de Maceió que começou a registrar afundamento do solo e rachaduras em casas e edifícios.

Desse total, o juiz determinou que R$ 29 milhões seriam destinados a eventual ressarcimento de despesas com aluguel de cerca de 2.415 imóveis que estão em situação de risco e podem ter que ser evacuados.

O valor restante seria utilizado para o atendimento de demandas emergenciais, tais como obras de engenharia, prestação de serviços médico-hospitalares, aquisição de insumos, dentre outros.

“Hoje, o panorama desenhado pelos órgãos competentes é o de desocupação de praticamente toda a população do bairro, mormente pelo receio de que, quando iniciada a quadra chuvosa, prevista para a segunda quinzena do mês de abril, tal como ocorrido no ano passado, a situação do local possa vir a ser agravada, havendo o risco iminente de ocorrer um desastre sem precedentes”, disse o juiz.

A Promotoria e a Defensoria disseram que vão recorrer da decisão para que o Tribunal de Justiça determine o bloqueio dos R$ 6,7 bilhões.

As instituições entendem que “o montante bloqueado por meio da atual liminar não é capaz de reparar os danos materiais e morais causados às milhares de famílias que, desde o ano passado, sofrem por serem obrigadas a deixar suas casas e empresas”.

A Braskem informou que está avaliando a decisão.

O Ministério Público e a Defensoria dizem ter oito indícios de que os eventos, cujas causas ainda não foram totalmente esclarecidas, têm a ver com a mineração de sal-gema feita pela Braskem na região.

Entre os oito indícios elencados pelas autoridades estão as as investigações da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais -estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia-, que indicam a possibilidade de participação da Braskem nos eventos no Pinheiro.

Os promotores e defensores usaram ainda como fundamento a declaração dada pelo presidente Jair Bolsonaro, que, em uma entrevista, disse, sem dar detalhes, que o afundamento do bairro do Pinheiro estaria relacionado à atividade de mineração.

A Promotoria cita ainda é um relatório preliminar do departamento de geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e entrevistas dadas pelo governador de Alagoas, Renan Filho (MDB-AL), e pelo senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL).

Na terça, outro juiz de Alagoas havia negado uma ação popular proposta por um advogado, que pediu que a Braskem fizesse um depósito judicial de R$ 23 milhões.

MACEIÓ, AL, 23.01.2019: Buraco com 6 metros de profundidade na residência de Joelinton Barbosa no Pinheiro. Fissuras surgiram em ruas e imóveis no bairro, em Maceió, e representam uma ameaça a cerca de 19 mil pessoas que moram na região. - Raul Spinassé/Folhapress

TREMOR

Os afundamentos e rachaduras no bairro do Pinheiro, em Maceió, são observados há pelo menos uma década. Mas os eventos se intensificaram desde março do ano passado, quando o local registrou um tremor de 2,4 pontos na escala Richter.

Desde então, algumas áreas da região foram colocadas em situação de emergência e as autoridades orientaram as pessoas a deixarem suas casas, por haver risco de morte.

A Braskem explorava, desde 1975, jazidas de sal-gema na região no entorno da lagoa Mundaú, notadamente nos bairros do Pinheiro (mais afetado pelos afundamentos), Bebedouro e Mutange. As atividades consistem na exploração de sal que é utilizado na produção de cloro e soda.

A empresa diz que colabora com as autoridades na identificação das causas do afundamento no bairro.

Em nota divulgada na terça, afirmou que "a Braskem reitera que vem, desde o início dos eventos no bairro do Pinheiro, colaborando junto às autoridades competentes na identificação das causas e que não há, até o momento, laudo conclusivo que demonstre a relação entre as atividades da Braskem e os eventos observados no bairro. A Braskem reafirma seu compromisso com a sociedade alagoana e com a atuação empresarial responsável, e de seguir contribuindo na identificação e implementação das soluções."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.