Presidente da Caixa faz plano B para Tesouro caso não consiga vender ativos

Banco tem R$ 40 bilhões a devolver, que foram injetados entre 2007 e 2013

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Brasília

O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, tem um plano B caso não deslanche no curto prazo a venda de ativos que o banco prepara e que deverá bancar o pagamento de R$ 40 bilhões que a Caixa deve ao Tesouro Nacional.

A alternativa é ampliar a oferta de empréstimos a clientes, aproveitando o atual nível de capital próprio (índice de Basileia) do banco, acumulado após dois anos seguidos de encolhimento da carteira de crédito.

Para emprestar, o banco tem que manter recursos em caixa para fazer frente a possíveis calotes. O mínimo exigido pelo acordo internacional de Basileia é de 11%, e a Caixa fechou 2018 com 20%.

Com isso, diz o executivo, é possível elevar o lucro do banco e, consequentemente, pagar mais dividendos ao seu controlador, a União. No ano passado, a Caixa pagou R$ 1,75 bilhão ao Tesouro em lucros e juros sobre capital próprio.

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Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal - André Coelho/Folhapress

"Não tenho necessidade [de pressa em vender ativos]. Tenho 20% de Basileia, poderia ter 15%, tenho um excesso de capital. E com isso já posso pagar [a União] via dividendos", disse o executivo.

"Um banco do tamanho da Caixa com 20% de Basileia é ineficiente. Qualquer livro-texto de finanças diz que esse custo é muito caro. Os grandes bancos estão entre 15% e 17%".

O ministro Paulo Guedes (Economia) já disse que espera receber de volta o dinheiro que foi injetado nos bancos públicos nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Pretende usar os recursos para abater a dívida pública, contribuindo para o ajuste fiscal.

A Caixa tem R$ 40 bilhões a devolver, resultado de seis injeções de recursos feitas por meio de IHCD (Instrumentos Híbridos de Capital e Dívida) entre 2007 e 2013.

O mecanismo foi adotado para permitir que o banco aumentasse a oferta de empréstimos sem que a União, seu controlador, tivesse que capitalizá-lo com recursos próprios.

Dessa maneira, as contas do governo não foram afetadas. Porém, a operação financeira elevou a dívida bruta, o que somado à recessão e ao aumento de gastos públicos, contribuiu para a atual crise fiscal. 

A dívida hoje é equivalente a quase 80% do PIB.

Guedes critica o crescimento acelerado dos bancos públicos ocorrido no passado e prometeu, em sua posse como ministro, "desestatizar o mercado de crédito" —ou seja, reduzir a oferta de empréstimos dos bancos estatais.

 

O plano B de Guimarães, portanto, se chocaria com as ideias do ministro.

Na opinião do analista de bancos da consultoria Austin Rating, Luis Miguel Santacreu, fazer com que a Caixa seja mais lucrativa não deveria ser um problema.

"Se não vai vender o banco [Bolsonaro disse que a privatização da Caixa não está no radar], então tem que deixá-lo crescer. Ter 20% de Basileia é o equivalente a manter a capacidade ociosa de uma indústria", disse. "Talvez o ministro Paulo Guedes tenha que ser um pouco mais pragmático".

Guimarães afirma que recebeu a determinação do ministro de vender ativos que seria sua primeira opção. Seu adversário, porém, é a instabilidade dos mercados.

"Ninguém vende uma operação grande no meio de um furacão", disse. "Quando vou fazer pagamento de IHCD tenho que ter uma base sólida e consistente. Qualquer ação tem volatilidade. Se tenho dentro do meu balanço uma [ação de ] empresa não financeira estou muito mais suscetível a Bolsa subir e cair. Não posso ter isso. Sou um banco de varejo com 100 milhões de clientes".

A ideia é abrir o capital da área de seguros, além de vender ações que a Caixa detém na Petrobras e na Paranapanema, nos moldes do que já está fazendo com as ações do IRB Brasil há dois meses.

Guimarães afirma que pretende vender as ações à miúde, sem a entrega de um bloco de controle a um ou dois compradores.

"Acredito fortemente que a gente consegue um preço maior envolvendo um maior número de agentes", disse. "No follow on [oferta adicional de ações] você visita centenas de clientes institucionais e potencialmente pode atingir 10 mil, 20 mil pessoas físicas."

Santacreu afirma que o banco também poderia vender parte de sua carteira de crédito, reciclando empréstimos já realizados por meio de operações no mercado financeiro. Com isso, elevaria o volume de dinheiro em caixa, criando mais uma forma de pagar ao governo.


"É preciso analisar esse cronograma de pagamento, porque quando se retira dinheiro do caixa de uma instituição financeira, na prática, você reduz a sua capacidade de emprestar", disse o analista.

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