O setor de defesa brasileiro ainda prende a respiração em relação ao governo Jair Bolsonaro (PSL), apesar da condição de capitão reformado do Exército do presidente e da miríade de militares em cargos-chave de sua administração.
“Por um lado, é um governo que defende o Estado mínimo. Por outro, entende que defesa é um setor estratégico. São pressões concorrentes”, afirma Roberto Gallo, presidente da Abimde (Associação Brasileira de Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança).
A entidade reúne 220 empresas, presentes no Rio a partir desta terça (2) na bienal LAAD, maior evento latino-americano da área.
O setor representa, pelas contas da Abimde, cerca de 4% do PIB (Produto Interno Bruto). Em 2014, última vez em que foi feito um estudo preciso, movimentou R$ 202 bilhões e empregava 60 mil pessoas diretamente, fora 240 mil indiretamente.
Apesar de a maioria dos 450 expositores deste ano ser ligada ao negócio principal do evento, a defesa, a contínua crise na segurança pública brasileira tem estimulado novos negócios — nesta edição da feira, haverá de mochilas à prova de bala a bloqueadores de drones à mostra.
“Segurança é muito forte, pois há demanda constante, embora os valores maiores sejam nos grandes contratos de defesa”, diz Sérgio Jardim, organizador da LAAD.
Lá estarão representados todos os lados de uma disputa que acompanhou a chegada de Bolsonaro, um entusiasta do armamento da população civil, ao poder.
Os filhos políticos do presidente defendem abertamente o fim do virtual monopólio que a CBC/Taurus exerce no mercado nacional de armas e munições devido às dificuldades para a importação do produto.
A empresa fabrica 1,4 milhão de armas por ano, 90% delas exportadas, faturando cerca de R$ 1 bilhão.
Eduardo, o filho deputado pelo PSL-SP, critica os problemas que a empresa enfrentou com submetralhadoras defeituosas. Já o senador Flávio (PSL-RJ) pediu a abertura do setor a fabricantes estrangeiros — se movimentam a suíça Ruag e a austríaca Glock, esta que já abocanhou uma grande encomenda de pistolas para o Rio.
A disputa também reflete uma contradição do setor. A internacionalização é vista como tendência inevitável há anos, mas os fabricantes de armas dependem de contratos estatais que buscam capacitar a indústria local.
“O capital estrangeiro aqui é bom, mas nosso plano A é que as empresas brasileiras floresçam”, mede as palavras Gallo. Aqui, o grande divisor de águas é a compra da divisão de aviação civil da Embraer pela gigante americana Boeing, acertada neste ano.
O negócio gerou também uma terceira empresa, para fabricar e vender o avião de transporte KC-390. A Embraer remanescente será uma empresa de produtos de defesa e aviação executiva.
“Com os termos que conhecemos, é difícil avaliar o impacto no setor. A Embraer é um farol para nós, tudo afeta uma cadeia produtiva que exige sofisticação, então temos de entender quais capacidades serão mantidas no Brasil”, continua o executivo.
O maior negócio anunciado no setor até aqui neste ano, por sinal, é um contraponto às dúvidas sobre a sustentabilidade da área de defesa da Embraer após a operação com a Boeing.
A Marinha informou, na quinta (28), que comprará quatro corvetas por valores hoje na casa de R$ 6,4 bilhões de um consórcio liderado pela alemã TKMS, que tem como principal sócia a empresa aeronáutica.
“O Estado tem responsabilidade, é assim no mundo todo. Temos a expectativa de que o orçamento para o setor estará preservado”, afirma Gallo. O Ministério da Defesa dispôs em 2018 de R$ 102 bilhões, mas pouco mais de 10% disso foi para investimentos.
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