Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Setor privado de defesa e segurança tem expectativas ambíguas com gestão Bolsonaro

Empresas veem com incerteza grau de atuação do governo em investimentos que beneficiem o segmento

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São Paulo

O setor de defesa brasileiro ainda prende a respiração em relação ao governo Jair Bolsonaro (PSL), apesar da condição de capitão reformado do Exército do presidente e da miríade de militares em cargos-chave de sua administração.

“Por um lado, é um governo que defende o Estado mínimo. Por outro, entende que defesa é um setor estratégico. São pressões concorrentes”, afirma Roberto Gallo, presidente da Abimde (Associação Brasileira de Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança).

A entidade reúne 220 empresas, presentes no Rio a partir desta terça (2) na bienal LAAD, maior evento latino-americano da área.

O setor representa, pelas contas da Abimde, cerca de 4% do PIB (Produto Interno Bruto). Em 2014, última vez em que foi feito um estudo preciso, movimentou R$ 202 bilhões e empregava 60 mil pessoas diretamente, fora 240 mil indiretamente.

Cerimônia de troca de comando do Estado Maior do Exército, em 29 de março de 2019. O general Braga Netto, que comandou a intervenção no Rio de Janeiro ano passado, assumiu o comando no lugar do general Paulo Humberto Oliveira. O comandante do exército Edson Leal Pujol e o ministro do GSI General Heleno participaram. - Pedro Ladeira/Folhapress

Apesar de a maioria dos 450 expositores deste ano ser ligada ao negócio principal do evento, a defesa, a contínua crise na segurança pública brasileira tem estimulado novos negócios — nesta edição da feira, haverá de mochilas à prova de bala a bloqueadores de drones à mostra.

“Segurança é muito forte, pois há demanda constante, embora os valores maiores sejam nos grandes contratos de defesa”, diz Sérgio Jardim, organizador da LAAD.


​Lá estarão representados todos os lados de uma disputa que acompanhou a chegada de Bolsonaro, um entusiasta do armamento da população civil, ao poder.

Os filhos políticos do presidente defendem abertamente o fim do virtual monopólio que a CBC/Taurus exerce no mercado nacional de armas e munições devido às dificuldades para a importação do produto.

A empresa fabrica 1,4 milhão de armas por ano, 90% delas exportadas, faturando cerca de R$ 1 bilhão.

Eduardo, o filho deputado pelo PSL-SP, critica os problemas que a empresa enfrentou com submetralhadoras defeituosas. Já o senador Flávio (PSL-RJ) pediu a abertura do setor a fabricantes estrangeiros — se movimentam a suíça Ruag e a austríaca Glock, esta que já abocanhou uma grande encomenda de pistolas para o Rio.

A disputa também reflete uma contradição do setor. A internacionalização é vista como tendência inevitável há anos, mas os fabricantes de armas dependem de contratos estatais que buscam capacitar a indústria local.

“O capital estrangeiro aqui é bom, mas nosso plano A é que as empresas brasileiras floresçam”, mede as palavras Gallo. Aqui, o grande divisor de águas é a compra da divisão de aviação civil da Embraer pela gigante americana Boeing, acertada neste ano.

O negócio gerou também uma terceira empresa, para fabricar e vender o avião de transporte KC-390. A Embraer remanescente será uma empresa de produtos de defesa e aviação executiva.

“Com os termos que conhecemos, é difícil avaliar o impacto no setor. A Embraer é um farol para nós, tudo afeta uma cadeia produtiva que exige sofisticação, então temos de entender quais capacidades serão mantidas no Brasil”, continua o executivo.

O maior negócio anunciado no setor até aqui neste ano, por sinal, é um contraponto às dúvidas sobre a sustentabilidade da área de defesa da Embraer após a operação com a Boeing.

A Marinha informou, na quinta (28), que comprará quatro corvetas por valores hoje na casa de R$ 6,4 bilhões de um consórcio liderado pela alemã TKMS, que tem como principal sócia a empresa aeronáutica.

“O Estado tem responsabilidade, é assim no mundo todo. Temos a expectativa de que o orçamento para o setor estará preservado”, afirma Gallo. O Ministério da Defesa dispôs em 2018 de R$ 102 bilhões, mas pouco mais de 10% disso foi para investimentos.

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