Descrição de chapéu Previdência

Avanço da reforma da Previdência será mais lento do que o estimado, diz S&P

Dinâmica econômica fraca também pesa negativamente para nota de crédito do Brasil, segundo agência de risco

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São Paulo

A agência de classificação de risco S&P Global Ratings trabalha com um cenário para o Brasil de aprovação da reforma da Previdência no segundo semestre deste ano, mas o processo deve seguir em um ritmo mais lento do que o estimado inicialmente, afirmou nesta quarta-feira (8) Lisa Schineller, diretora-executiva e analista para o rating soberano brasileiro na S&P.

"Quando rebaixamos [a nota do Brasil] em 2018 foi tendo em vista um histórico de que a reforma da Previdência é complicada e difícil, independentemente de quem ganhasse a eleição", disse. "Esperamos que haverá progresso, mas mais devagar do que o estimado inicialmente."

Sede da agência de classificação de risco Standard & Poor's, em Nova York
Sede da agência de classificação de risco Standard & Poor's, em Nova York - Brendan McDermid/Reuters

A S&P cortou o rating soberano do Brasil de "BB" para "BB-" em janeiro do ano passado, citando o atraso na reforma proposta pelo ex-presidente Michel Temer.

Schineller disse que mudar o sistema de aposentadorias é tarefa árdua em qualquer lugar do mundo, mas, em um sistema com tantos partidos como o brasileiro, torna-se ainda mais importante a articulação entre governo e parlamento.

"Estamos nos estágios iniciais. Isso [aprovar a reforma] exige uma articulação política forte e bem cuidada. É uma equipe que está procurando construir alianças de um jeito diferente, o que envolve tempo e esforço", afirmou.

Ela evitou falar em valores de uma economia mínima aceitável para que o projeto tenha impacto significativo na situação fiscal do Brasil. O ministro da Economia, Paulo Guedes, fala em R$ 1 trilhão em dez anos, mas o presidente Jair Bolsonaro já sinalizou que R$ 800 bilhões poderia ser o piso.

Schineller destacou, porém, que a agência não vai colocar na conta apenas o montante total a ser economizado, mas também os impactos da reforma no curto e no médio prazo, o que seria definido pela regra de transição aprovada.

"Vamos olhar como vai impactar as contas fiscais no longo prazo, mas também no curto, o que vai vir com as regras de transição. Isso vai ter um papel importante. Claro que, quanto maior a economia... mas se for em 20 anos, pode não ajudar nos problemas hoje", disse.

Por isso, aprovar ou não a reforma da Previdência não teria impacto imediato na nota do Brasil, sinalizou Schineller. A perspectiva atual da S&P para o rating do Brasil é estável.

A diretora-executiva acrescenta que outras medidas são necessárias para lidar com o quadro fiscal do país. Cita como exemplos questões envolvendo gastos significativos com folhas de pagamentos e a situação dos estados, que "também é muito complicada", diz.

Além da fraqueza fiscal, pesa negativamente para o rating do Brasil a baixa dinâmica de crescimento da economia. "O crescimento do Brasil é mais fraco do que se olharmos para países em desenvolvimento equivalentes", disse Schineller. "Nossa visão é de uma recuperação lenta."

Embora ela reconheça que a aprovação da reforma da Previdência não deva gerar crescimento econômico no curto prazo, a mudança nas aposentadorias pode levar a um rápido movimento de confiança entre investidores e empresários.

Nesse sentido, Schineller apontou que a área de infraestrutura é peça chave para a retomada e destacou a agenda de privatizações e concessões do governo.

Julyana Yokota, diretora sênior para ratings de infraestrutura da S&P, diz que não houve uma ruptura nos planos de licitações entre os quase dois anos de governo Temer e a nova gestão, o que permitiu que o país desse uma boa demonstração de concessões já nos cem primeiros dias de governo.

"Agora, esperamos umas desaceleradas no paço das concessões. As próximas que estão em fase de planejamento devem tomar mais tempo", afirma, acrescentando que isso não é necessariamente ruim se as licitações forem bem planejadas.

Sobre o bate-cabeça do governo em outras áreas não ligadas à economia, como educação, por exemplo, Schineller disse que "nem todas as decisões políticas terão impacto na nota do Brasil".

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