Descrição de chapéu Financial Times

Beyoncé ganhou mesmo US$ 300 milhões com entrada da Uber na Bolsa de NY?

Cantora teria recebido ações equivalentes a US$ 6 milhões como forma de remuneração em 2015

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Jamie Powell
Londres | Financial Times

Ontem, circulava pela internet, à maneira viral típica, uma história de que Beyoncé teria faturado US$ 300 milhões (R$ 1,2 bilhão) com a oferta pública inicial (IPO) de ações da Uber, que até o momento vem se provando desastrosa.

O assunto foi coberto por publicações financeiras respeitáveis como Mercury News, Metro, Yahoo Finance e  NME (revista de música britânica).

É difícil localizar a fonte original da informação, mas há indicações de que ela estaria em um artigo do The New York Times sobre a Uber publicado em 3 de maio:

"E Khosrowshahi [diretor-executivo da Uber] evitou extravagâncias como contratar Beyoncé para shows em eventos internos da empresa, ao contrário do que Kalanick [fundador da Uber] fez em 2015, ao custo de US$ 6 milhões em 'restricted stock units'" (remuneração baseada em ações ou RSU, na sigla em inglês).

O valor de US$ 6 milhões foi reproduzido por diversos veículos de mídia.

Internautas discutiam na internet suposto ganho da cantora com abertura de capital da Uber
Internautas discutiam na internet suposto ganho da cantora com abertura de capital da Uber - Robyn Beck/AFP

Um retorno de 4.900% é algo com que a maior parte dos executivos de capital para empreendimentos só pode sonhar, presumindo que o cálculo esteja correto. Mas como apontou Jake, um amigo da coluna Alphaville no Twitter, os números não batem:

Em dezembro de 2014, a Uber emitiu US$ 1,2 bilhão em ações de Série E, quando sua avaliação de mercado era de US$ 40 bilhões. O valor emitido foi elevado a US$ 2,8 bilhões em fevereiro de 2015. Na metade daquele ano, a companhia realizou uma rodada de capitalização série F, no valor de US$ 1 bilhão, de acordo com a Crunchbase; seu valor foi estimado em US$ 50 bilhões.

As séries são as rodadas de investimento em startups, quando elas ainda não têm ações negociadas em Bolsa e buscam investidores para expandir a companhia.

As sucessivas injeções de dinheiro em startups de capital fechado costumam ser nomeadas com letras do alfabeto, sendo a letra A a primeira rodada de investimento. A série E e F, por exemplo, já indicariam estado avançado de maturação da empresa e valor de mercado bilionário.

O valor estimado da companhia em US$ 50 bilhões se traduz em cotação de US$ 39,64 por ação, de acordo com uma reportagem recente do Financial Times. Para comparação, o valor de mercado atual da Uber é de US$ 69,47 bilhões, de acordo com dados da S&P Capital IQ.

Assim, presumamos que Beyoncé tenha recebido suas RSUs a um preço de US$ 35, inferior ao da avaliação da Uber em julho, mas superior ao de sua cotação em dezembro de 2014 (usando como base os números registrados na rodada de capitalização série F).

Isso daria a ela um retorno de 18%, ao preço de fechamento das ações da Uber ontem, US$ 41,29. Ou cerca de US$ 1 milhão a mais que o valor bruto de US$ 6 milhões que ela teria recebido como cachê. Um retorno de 18% em quatro anos se traduz em taxa composta anual de 4%. Um tanto menos impressionante do que a imprensa vem noticiando.

Para que Beyoncé tivesse obtido um retorno de 4.900%, ela teria de ter recebido suas RSUs a um preço significativamente inferior ao que foi aplicado aos investidores naquelas duas rodadas de capitalização –um grupo que inclui Microsoft, M SA Capital, Valiant Capital Partners e Sherpa Capital. E é fácil imaginar que ofertas assim generosas para artistas da música, por menor que fosse seu valor em dólares, não teriam caído bem junto aos investidores da Uber. Mas talvez estejamos errados.

Pouco importa: aceitar pagamento em ações, de preferência a dinheiro, continua a ser uma jogada de negócios inteligente da parte de Queen Bey, e portanto ela merece elogios por ter feito essa aposta. Afinal, receber retorno, ainda que modesto, sobre seu investimento é melhor que receber retorno nenhum. O que vem sendo o caso até agora para aqueles que investiram na Uber em 2017, quando a companhia foi avaliada em US$ 68,8 bilhões.
 
Financial Times, tradução de Paulo Migliacci, com São Paulo

 
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