Crise no Brasil frustra efeitos da reforma trabalhista

Retomada do emprego depende de crescimento econômico, dizem especialistas

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São Paulo

A geração robusta de empregos prometida pela reforma trabalhista esbarra na frustração com o crescimento econômico do Brasil.

Pouco antes de as mudanças na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) entrarem em vigor, em novembro de 2017, a equipe do então presidente Michel Temer chegou a falar na geração de 6 milhões de vagas. 

Até agora, considerando trimestres cheios, o total de brasileiros ocupados passou de 90,3 milhões nos três primeiros meses de 2018 para 91,9 milhões neste ano, segundo dados do IBGE. Ou seja, em um ano, mais 1,6 milhão de pessoas estavam trabalhando.

Enquanto isso, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, que na largada de 2018 era projetado por analistas no Boletim Focus em 2,69%, fechou o ano passado em 1,1%. Para 2019, as expectativas já caíram de 2,53% para 1,7%.

"A reforma [trabalhista] não veio para gerar emprego, veio para facilitar a sua retomada e trazer algum alívio às empresas na crise. O que vai determinar a queda na taxa de desemprego é o crescimento econômico", diz Renato da Fonseca, gerente-executivo de pesquisa e competitividade da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

Com as famílias endividadas, diz Fonseca, a retomada econômica não virá pelo consumo. Nesses momentos, segundo ele, o governo poderia, inicialmente, aumentar seus gastos, estimulando o setor privado a entrar em um novo ciclo de investimentos. "Mas o governo está quebrado e não tem força para puxar a economia", afirma.

E a reforma trabalhista sozinha não seria capaz de oferecer esse "choque de demanda".

"Quando o governo gasta, o empresário fatura na hora. Quando o efeito vem pela reforma, não gera demanda no 'tempo zero', no momento inicial. Isso passa pelo filtro do empresário: 'Legal, está mais barato contratar, mas eu preciso produzir mais?'", diz Rafael Cardoso, economista da Daycoval Asset Management.

"Ele olha para a ociosidade da fábrica e pensa que não precisa produzir mais, o nível atual é suficiente: 'Se eu não vou vender mais amanhã, por que vou contratar hoje?'"

A persistência do desemprego em níveis altos, combinada ao avanço de vagas informais e da subutilização (que inclui trabalhadores que gostariam de trabalhar mais horas), também pode afetar outros indicadores, como a produtividade.

"É uma preocupação, que, em períodos longos de desemprego elevado, isso tenda a prejudicar a produtividade dessas pessoas uma vez que elas retornem ao mercado. Isso pode gerar prejuízos para a economia no longo prazo", diz Bruno Ottoni, pesquisador associado do FGV Ibre.

Para ele, porém, a reforma trabalhista pode sim contribuir para o mercado ao "criar vagas para quem não é aquele trabalhador típico". A iniciativa esbarrou, segundo Ottoni, em uma Justiça que demora para criar jurisprudência e nas incertezas eleitorais de 2018. 

Furar essa "bolha" de crescimento achatado, e assim, impulsionar a geração de emprego, terá de passar pelo investimento privado, nacional e estrangeiro, dizem especialistas.

Na avaliação de Cosmo Donato, economista da LCA Consultores, há espaço, com uma boa reforma da Previdência, para uma injeção de confiança que destravaria contratações de parte do setor privado. "Nada que nos faça retornar ao mercado pré-crise", diz.

"A reforma da Previdência não bate no balanço do empresário, mas bate no orçamento público e ajuda na queda dos juros no mercado. Ninguém vai demandar mais produto porque a reforma foi aprovada, mas investir pode ter um custo menor", diz Cardoso.

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