As expectativas em relação ao crescimento das vendas em 2019 começam a enfraquecer, contaminando até uma das principais datas do comércio, o Dia das Mães. 

De acordo com pesquisa da Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), vários indicadores que compõem o Índice de Consumo das Famílias (ICF) sinalizam cautela entre os consumidores, com baixa motivação para ir às compras. 

O indicador recuou 3,5% em abril e voltou à área de insatisfação. Isso significa que os consumidores estão menos dispostos a gastar do que estavam entre o fim de 2018 e os primeiros meses de 2019. 

A Fecomercio já prevê um impacto negativo nas vendas para o Dia das Mães. Preocupada em garantir que o desempenho do setor seja satisfatório no período, a entidade recomenda aos lojistas que realizem promoções para fazer o estoque girar e gerar liquidez. 

De acordo com o assessor técnico da Fecomercio, Altamiro Carvalho, a expectativa é que as vendas no Dia das Mães cresçam 3% em relação ao ano passado. No final de 2018, a estimativa era de 5% de alta.

A esperança em um cenário econômico melhor levou muitos lojistas a investir mais no começo do ano e aumentar seus estoques, segundo a Fecomércio.

"O consumidor está preocupado com a resistência do desemprego, e as taxas de juros para as pessoas físicas estão altas", diz Carvalho. 

De modo geral, o economista lembra que o ambiente da economia não sustenta a confiança das famílias em um futuro mais estável.

Nelson Tranquez Junior, diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro, tradicional ponto de venda paulistano de produtos populares, diz que o bairro permanece com o pé no freio. "Ainda estamos esperando uma luz. Não precisa ser no fim do túnel, qualquer vaga-lume já serve", diz ele. 

A temporada de liquidações, que costuma ser deflagrada após a data comemorativa, já foi antecipada por vários estabelecimentos.

A Imaginarium, especializada em artigos para presentes, criou de última hora uma promoção para o Dia das Mães. Segundo Newton Soares, presidente da rede, além da ação planejada para a data, a marca decidiu fazer uma segunda promoção para alavancar as vendas, que já se mostravam sem forças para subir o esperado.

"Todo o mundo entrou o ano muito otimista, mas as coisas no plano macroeconômico não estão se desenrolando e tivemos de olhar para dentro", afirma. 

Nas compras acima de R$ 129,90, o cliente tem desconto em uma bolsa —com um adicional de R$ 129,90, leva o produto, que custa R$ 259. Nas compras acima de R$ 180, ganha de presente creme para mãos. 

Desde que a oferta começou, Soares diz que a vendas das bolsas, que são best-sellers da marca, duplicou. 

A expectativa é que as vendas desse ano sejam 5% maiores que as de 2018. "Não é o ideal. O bom é crescer dois dígitos", afirma.

De acordo com a Fecomercio, deve haver uma queda nas compras de eletrônicos para o Dia das Mães. Na pesquisa, os consumidores dizem estar menos propensos a comprar bens duráveis.

A rede de supermercados Extra, no entanto, ainda acredita que eletrônicos e smartphones serão os presentes mais procurados na data. Para superar a alta nas vendas de TV durante a Copa, a rede investiu para dar descontos mais agressivos no que batizou de Pink Friday --versão materna da Black Friday. A meta da rede é ter um crescimento acima de 10% no período, também com promoções. 

"Na Black Friday já teve um 'esquenta' no aplicativo, e na Pink vamos pelo mesmo caminho. Os anúncios começam na semana que vem", diz Christiane Cruz Citrângulo, diretora de marketing do Extra. A executiva também diz esperar vendas mais altas no setor de têxtil. 

Segundo a Fecomercio, entre os segmentos analisados, os consumidores estão mais dispostos a gastar com roupas.