Hambúrguer vegetal vira moda após Beyond Meat abrir capital

Empresas do segmento correm para levar produtos alternativos ao mercado

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Lydia Mulvany Leslie Patton Deena Shanker
Chicago e Nova York | Bloomberg

A corrida do hambúrguer vegetariano pode não ser tão frenética como a das criptomoedas ou a da maconha, mas teve uma excelente largada.

Depois da surpreendente abertura de capital da Beyond Meat, as empresas do segmento estão correndo para levar seus produtos alternativos ao mercado o mais rápido possível.

A Tyson Foods confirmou que lançará dentro de alguns meses um produto proteico sem carne. A Tyson é a maior empresa de processamento de carne nos Estados Unidos, o que reforça a importância do anúncio.

O McDonald's começou a vender um hambúrguer vegetal na Alemanha; o Burger King anunciou que o Impossible Whopper, um hambúrguer vegetal, chegaria às lojas dos EUA ainda neste ano.

Em julho, a cadeia de supermercados Whole Foods começará a vender um hambúrguer vegetal produzido pela Lightlife, concorrente da Beyond Meat.

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Ethan Brown durante a abertura de capital da Beyond Meat, na Nasdq, em Nova York -  Drew Angerer - 2.mai.19/Getty Images/AFP

A Bloomberg Intelligence prevê que o sucesso da Beyond Meat levará empresas como Kellogg's, Conagra e Kraft Heinz a dedicar mais tempo a inovações no ramo de hambúrgueres de base vegetal.

A corrida pode se transformar em uma bolha, é claro, e terminar de modo tão frustrante quanto a bolha da internet na virada dos anos 2000. Mas, depois de anos como província reservada a startups e a experimentos de biólogos do Vale do Silício, a carne falsa se tornou sucesso comercial.

"As grandes empresas todas estão interessadas, e todo o mundo está reclamando por estar três anos atrasado", disse Chris Kerr, cofundador e vice-presidente de investimento da New Crop Capital, uma empresa de capital para empreendimentos que investe em companhias de produtos veganos.

E isso está acontecendo porque empresas que desenvolvem substitutos para o hambúrguer, como a Beyond Meat e a Impossible Foods, estão desenvolvendo hambúrgueres vegetais mais aceitáveis para os consumidores, mas também porque os consumidores mudaram seus hábitos e estão tentando comer menos carne.

No momento, de fato, parece haver escassez de hambúrgueres vegetais de primeira linha para satisfazer a demanda.

A rápida decisão da Tyson Foods, de primeiro investir e em seguida ingressar no mercado de carne alternativa, "é uma boa indicação de que o mercado aquecido de proteínas de base vegetal logo terá novos participantes", disse o economista Will Sawyer, que cobre a área de proteína animal no CoBank.

"Eles não serão a última empresa do segmento de carne a tentar encontrar espaço nesse mercado."

O timing da decisão da Tyson parece perfeito para o verão, que começa no dia 22 de junho nos EUA. O mesmo vale para o novo hambúrguer da Lightlife, controlada pela Maple Leaf Foods, gigante canadense do setor de carne.

De acordo com comunicado, a carne Lightlife estará disponível em milhares de lojas nos Estados Unidos, e chegará às unidades da cadeia de varejo Whole Life em julho.

O McDonald's começou vender um hambúrguer vegetal, produzido pela Nestlé, na Alemanha —um dos países que mais consomem carne.

Em seu país de origem, os planos da maior companhia mundial de restaurantes para uma alternativa à carne bovina não parecem tão claros.

O presidente-executivo da empresa, Steve Easterbrook, diz que as equipes de pesquisa do McDonald's estão estudando proteínas de base vegetal, mas que isso pode criar complicações para as cozinhas da companhia.

"Nós tentamos acompanhar de perto a demanda dos consumidores", disse ele em conversa com analistas em 30 de abril. "Nossas equipes estão atentas e vêm conversando sobre a tendência."

A divisão Morningstar Farms da Kellogg's, que já produz hambúrguer vegetal, vai lançar novos produtos que imitam carne de frango, e recentemente deu a entender que há outras novidades a caminho.

"É um mercado no qual sentimos ter o direito de vencer", disse Steven Cahillane, presidente-executivo da empresa, em conversa com analistas e investidores. "Continuaremos a inovar nele."

Nos EUA, há uma escassez de hambúrgueres da Impossible, que usa um composto extraído de soja geneticamente modificada e fermento para imitar o sangue bovino —tudo isso para produzir uma imitação mais perfeita do sabor da carne.

Os produtos da empresa são vendidos em milhares de locais, entre as quais as lojas das cadeias de fast-food White Castle e Burger King.

Embora hambúrgueres vegetais existam há muito tempo, as empresas que estão conquistando boa parte do investimento produzem alternativas muito desenvolvidas cujo objetivo é oferecer sabor tão bom quanto o da carne.

A cadeia de supermercados Aldi está entrando no mercado de proteínas de base vegetal com hambúrgueres veganos da marca Earth Grown, muito mais baratos que os produtos da Beyond Meat, vendidos por entre US$ 6 (R$ 24,6) e US$ 7 (R$ 28,7) por pacote com dois hambúrgueres de 120 gramas.

Os hambúrgueres veganos da marca Aldi Earth Grown foram lançados em 2018, e um pacote de 280 gramas, com quatro hambúrgueres, sai por US$ 2,79 (R$ 11,5), diz a empresa.

É bom apontar que os hambúrgueres vegetais ainda detêm uma fração minúscula do mercado, se comparados à proteína animal --suas vendas equivalem a menos de 1% das vendas de produtos de proteína animal. Mas algumas pessoas veem o surgimento de uma bolha.

"É uma loucura, há empresas de garagem mas também grandes companhias, e elas estão vendo o mercado mudar por causa das atitudes da geração milênio", disse Henk Hoogencamp, membro do conselho e consultor de diversas companhias de alimentos, entre as quais a startup Perfect Day, que oferece alternativas.

"Algumas delas terão sucesso, e a maioria delas falirá".

Nem todos os hambúrgueres de base vegetal se tornaram sucesso. Alguns anos atrás a rede de fast-food Wendy's tentou vender um hambúrguer de feijão preto, mas o produto não decolou. 

Em algumas regiões, os clientes se interessavam bastante, mas em outras nem tanto, disse a porta-voz Heidi Schauer.

As grandes empresas de alimentos "estão criando divisões de investimento e subsidiárias para segmentos emergentes, mas estão fazendo muito pouco, e chegaram tarde demais para acompanhar a curva", disse Lou Biscotti, que dirige a área de alimentos e bebidas do grupo de auditoria Marcum nos EUA.

Tradução de Paulo Migliacci

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