Huawei diz que EUA subestimam companhia e pede ajuda da Europa

Governo Trump impôs restrições à fabricante de eletrônicos de origem chinesa

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Pequim e Bruxelas

O fundador da Huawei considerou nesta terça-feira (21) que Washington subestima sua empresa, enquanto o presidente Donald Trump faz tudo que é possível há meses para bloquear as ambições internacionais da gigante chinesa das comunicações.

"Os políticos americanos, com sua forma de atuar, demonstram que subestimam nossa força", declarou Ren Zhengfei em entrevista à imprensa transcrita ao vivo por meio do aplicativo móvel da CCTV, a televisão estatal chinesa.

Há uma semana, Washington decidiu proibir que as empresas americanas comercializem no setor de telecomunicações com empresas estrangeiras consideradas de risco para à segurança nacional, entre elas a Huawei.

Mulher caminha em frente a logo da Huawei
Fabricante de eletrônicos chinesa tem sofrido restrições do governo americano - Emmanuel Dunand/AFP

Número dois mundial de smartphones e líder da tecnologia 5G (a quinta geração de tecnologia móvel), a Huawei é alvo do governo Trump desde 2018, num contexto de guerra comercial e de rivalidade tecnológica entre Pequim e Washington.

"A rede 5G da Huawei não será afetada. Em matéria de tecnologia 5G, para que as outras empresas alcancem a Huawei será preciso dois ou três anos", prometeu Ren Zhengfei, referindo-se aos grupos americanos e europeus.

Depois que Trump incluiu a Huawei em sua lista suja, o Google –cujo sistema Android equipa a maior parte dos smartphones do mundo– anunciou que cortaria os laços com o grupo chinês.

Assim, a chinesa deixaria de ter acesso a alguns serviços do Android e aos populares aplicativos Gmail e Google Maps. 

Neste cenário, um representante na Europa da Huawei pediu nesta terça aos europeus que não fiquem de braços cruzados diante do ataque da administração americana.

"Não é unicamente um ataque contra a Huawei. É um ataque contra a ordem liberal baseada em regras", disse  Abraham Liu à imprensa, advertindo que, no futuro, algo parecido pode acontecer "a qualquer outra companhia internacional".

Ele prometeu ainda que a companhia vai se esforçar para dissipar as dúvidas sobre os supostos riscos de espionagem da parte do grupo chinês.

"Dada a importância do 5G, como líder do setor, a Huawei está disposta a assinar acordos de não espionagem com os governos e clientes em todos os países da UE", ressaltou.

Liu disse ainda que a companhia chinesa é vítima de intimidação dos Estados Unidos e que está trabalhando com o Google para combater restrições comerciais impostas por Washington.

"Eles [Google] têm motivação zero para nos bloquear. Estamos trabalhando em conjunto com o Google para descobrir como a Huawei pode lidar com a situação e o impacto da decisão do Departamento de Comércio dos EUA", disse Abraham Liu, representante da Huawei para as instituições da UE.

"A Huawei está se tornando a vítima de intimidação pela administração dos EUA. Isso não é apenas um ataque contra a Huawei. É um ataque à ordem liberal, baseada em regras", acrescentou Liu.

Empresas afetadas

A decisão de Washington também afeta várias empresas americanas. E grandes fabricantes de semicondutores, como a Qualcomm e a Intel, informaram a seus funcionários que também deixarão de vender para a Huawei, de acordo com a agência de notícias Bloomberg.

A proibição de comércio imposta pelos Estados Unidos poderia ser um grande golpe para as grandes empresas americanas que fornecem semicondutores ao grupo chinês, segundo especialistas do setor.

"Também poderia ter um efeito paralisante na Huawei", considera Roger Kay, analista da Endpoint Technologies Associates. "Se não tiverem bases financeiras sólidas, poderão entrar num círculo fatal. Mas se, pelo contrário, tiverem os bolsos cheios, poderão escapar".

Os usuários de telefones da Huawei em todo o mundo se perguntam agora se poderão continuar acessando os serviços do Google em seus dispositivos.

Diante dessas preocupações, Washington pareceu querer reduzir as tensões e na segunda-feira decretou um prazo de 90 dias antes de impor sanções.

Ren Zhengfei considerou nesta terça que a medida tem "pouco sentido" e anunciou que seu grupo e o Google "discutem" para buscar soluções para a proibição.

Washington afirma suspeitar que a Huawei permite que os serviços de inteligência chineses usem seu material para espionar as comunicações em redes móveis em todo o mundo.

Mas, para a gigante das telecomunicações, Donald Trump tenta fundamentalmente impedir o desenvolvimento de uma empresa considerada tecnologicamente avançada demais. 

A Huawei também está no centro de uma crise diplomática no Canadá, aliada dos Estados Unidos, desde a prisão em dezembro, a pedido de Washington, da diretora financeira do grupo chinês, Meng Wanzhou. 

A diretora, que é filha de Ren Zhengfei, é suspeita de violar as sanções americanas sobre o Irã.

"Nós sacrificamos uma pessoa, uma família. E isso por um ideal: alcançar as cúpulas mundiais", disse o fundador da Huawei nesta terça-feira. "E para atingir esse ideal, mais cedo ou mais tarde haveria um conflito com os Estados Unidos".

Com agências de notícias

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