Incerteza econômica adia investimentos no país, diz presidente do BC

Para Campos Neto, após eleição, houve princípio de otimismo, mas o mercado entendeu não haver trajetória fiscal compatível

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (16) que o Brasil ainda não conseguiu se livrar das incertezas econômicas, o que explica o adiamento das decisões de investimento no país.

As declarações foram feitas em audiência na comissão mista do Orçamento, no Congresso Nacional.

Segundo ele, após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL), houve um princípio de otimismo com a economia, mas, a seguir, os agentes do mercado entenderam que o país não tinha uma trajetória fiscal compatível. “Não existe país com inflação baixa e juros baixos e inflação ancorada com fiscal ruim”, disse.

Presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto
Presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto - Raphael Ribeiro/Banco Central

“Viemos de um mundo de grandes incertezas no passado, mas não conseguimos nos livrar das incertezas. As incertezas continuam no ar. E acho que isso explica um pouco esse adiamento da decisão de investir”, disse.

“Acho que, quanto mais nós formos capazes de sinalizar aos investidores que estamos falando sério sobre a disciplina fiscal e que vamos resolver esse problema, mais rápido eles sentem confiança para investir.”

Na avaliação de Campos Neto, isso vai acontecer quando o governo conseguir aprovar e implementar as reformas fiscais, como a da Previdência, tributária e outras que melhorem o ambiente de negócios para poder investir.

“Frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória de inflação num horizonte relevante para a política monetária”, disse.

Ao ser questionado pelo deputado federal Alexis Fonteyne (Novo/SP) sobre argumentos da oposição de que usar as reservas internacionais para pagar a Previdência acabaria com o déficit, Campos Neto afirmou que isso seria "uma forma rápida e ligeira de perder a credibilidade de forma acelerada e de colocar o país numa espiral de piora."

"O que não podemos fazer é tomar a solução de saída fácil. Nós tivemos várias experiências no passado, onde ou se privilegiou ter um crescimento excessivamente baseado no fiscal, no engordamento da máquina pública, que gerou uma alocação de recursos ineficiente e problemas que estamos vendo aí, com inúmeras empresas com dificuldade de pagar dívida, corrupção, Lava Jato", complementou. Campos Neto afirmou que não há mais espaço para usar essa ferramenta.

Campos Neto também comentou a possibilidade de ser criado um comitê de política cambial, semelhante ao Copom. Para ele, como o país adota um regime cambial flutuante, não faria sentido ter uma decisão colegiada sobre o câmbio.

"Nós não temos meta de câmbio, por isso que não temos um comitê de cambio. Não usamos política cambial para fazer política monetária", disse.

O presidente do BC reconheceu ter ficado decepcionado com o crescimento econômico do primeiro trimestre, embora acredite em uma retomada. O recuo nos três primeiros meses já foi sinalizado na ata da última reunião do Copom (comitê de política monetária do BC), que manteve os juros em 6,5% ao ano.

Na quarta-feira (15), o indicador de atividade econômica do Banco Central recuou 0,68% nos três primeiros meses do ano, o que levou analistas a revisarem as projeções de crescimento econômico para este ano.

Na comissão, Campos Neto voltou a defender o projeto de autonomia do Banco Central. Para ele, se aprovada no Congresso, a medida reduziria as incertezas econômicas e poderia ajudar a reduzir os juros no país.

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