Jovens chineses deixam cultura de trabalho de 72 horas por semana

Especialistas criticam a cultura do 996, que prevê 12 horas de trabalho, seis vezes por semana

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Xangai (China) | Reuters

Por mais de seis anos, Qi Yaqian foi uma integrante orgulhosa da chamada tribo 996 de tecnologia da China, trabalhando à noite e aos finais de semana no Nuomi, um site de negócios em grupo.

Mas quando sua filial fechou em 2017, ela buscou uma carreira menos estressante. Ela agora mora em sua cidade natal no interior da Mongólia, onde aluga cabanas para turistas.

Qi não é a única jovem chinesa a questionar o valor de trabalhar longas horas no setor de tecnologia. Em abril, protestos de empegados do setor contra o excesso de horas extras surgiram online, provocando reação de magnatas como o bilionário Jack Ma, da gigante de ecommerce Alibaba.

Os protestos apontam para uma mudança de mentalidade na indústria de tecnologia, cuja inclinação por longas horas tem sido elogiada pelos executivos ocidentais como uma razão para a ascensão econômica da China.

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Prédio comercial em Xangai - Hector Retamal/AFP

Mas a mudança também pode ter um custo para as empresas, dizem investidores de risco e analistas. De acordo com o site de busca de emprego Maimai, a tecnologia foi o único setor entre os 13 pesquisados a ver mais pessoas saindo do que entrando entre outubro de 2018 e fevereiro de 2019.

"Um dos maiores custos de uma organização é a alta rotatividade de funcionários. Uma cultura menos focada em horas também pode se tornar mais eficiente se o foco for voltado para saída versus entrada", disse Rui Ma, investidor que financiou startups na China e na América do Norte.

O termo 996 refere-se ao trabalho das 9h às 21h, seis dias por semana. Para algumas empresas, o trabalho 996 tornou-se um distintivo de honra e os pesos-pesados do Vale do Silício, como Mike Moritz, da Sequoia Capital, destacaram a longa jornada como uma vantagem competitiva da China em relação aos Estados Unidos.

Por outro lado, uma reação ao 996 surgiu publicamente em abril, quando um grupo de programadores lançou um protesto online contra a prática. Os defensores do protesto publicaram uma lista de empresas que exigem longas horas extras, no qual aparecem grandes nomes como Baidu, Tencent, e o app de entregas Ele.me.

O protesto provocou um debate público sobre horas de trabalho na indústria de tecnologia da China e estimulou reações de pelo menos dez magnatas chineses da tecnologia, incluindo Ma, que inicialmente defendeu a prática. A mídia estatal chinesa disse que o 996 viola as leis trabalhistas do país, que exigem uma semana média de trabalho de 44 horas.

Apesar de exceções, como Qi, os executivos estão céticos que a semana de trabalho de 996 está morta.

O resultado das discussões a respeito podem levar à repressão dos funcionários que fazem protestos ou podem tornar mais flexíveis, elevando salários e oferecendo benefícios adicionais, disse Ben Qiu, advogado de Loeb & Loeb, que assessora negócios de risco na China.

Críticos da prática argumentam que a cultura do 996 não é um bom presságio para o futuro do setor, especialmente se a China quiser ultrapassar concorrentes como os Estados Unidos.

"Se o que você precisa da equipe é criatividade, precisa deixar sua equipe ir para casa, assistir a um filme, ir a um encontro, procurar uma livraria, viajar, descansar, criar filhos", disse Sun Fang, que implementou uma política estrita de "não há horas extras" em sua empresa de software XMind.

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