Lucro da MRV sobe, mas construtora queima caixa após atrasos no Minha Casa Minha Vida

Lançamentos e vendas avançam no 1º trimestre; crescimento poderia ser maior, diz diretor financeiro

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São Paulo

Os atrasos nos repasses do governo para o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) levaram a MRV Engenharia, maior construtora residencial do país, a queimar caixa nos três primeiros meses do ano, algo que não acontecia há 26 trimestres (mais de seis anos). Também houve impactos nos lançamentos e nas vendas, apesar de ambos os indicadores registrarem crescimento.

A MRV consumiu R$ 19 milhões de seu caixa no primeiro trimestre, enquanto no mesmo período do ano anterior houve geração positiva de R$ 86 milhões. 

"É o resultado de um volume de repasses menor e um volume de construção maior, ou seja, eu gastei mais dinheiro para construir as unidades do eu que recebi", explica Ricardo Paixão, diretor executivo financeiro da MRV.

O programa de habitação popular Minha Casa Minha Vida oferece imóveis subsidiados, dependendo da renda dos compradores, e a taxas de financiamento abaixo da média do mercado. Nas faixas 1,5 e 2, a maior parte desse subsídio (90%) é bancada pelo FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço); os outros 10% vêm do Tesouro Nacional. 

Um decreto do início do ano, no entanto, limitou as despesas mensais do governo de janeiro a março a 1/18 do total previsto na lei orçamentária de 2019, em vez do tradicional 1/12. 

"Com o contingenciamento, o Tesouro não colocou todos os 10% que deveria, e a Caixa [Econômica Federal] não podia contratar [projetos] mesmo tendo os 90%", diz Paixão. ​

Com isso, o volume de empreendimentos da MRV contratados no primeiro trimestre deste ano caiu 42% em relação a 2018​. A queda nas contratações freia os lançamentos, porque a construtora não lança sem a obra estar financiada.

Ainda assim, os lançamentos da MRV subiram 36% em relação a 2018, para R$ 1,1 bilhão em VGV (Valor Geral de Vendas) —soma do valor potencial de comercialização de todas as unidades de um empreendimento. Mas Paixão afirma que a alta poderia ter sido ainda maior se os repasses tivessem ocorrido normalmente.

O mesmo acontece no caso das vendas, que cresceram 6% no primeiro trimestre, somando R$ 1,3 bilhão no período.

No MCMV, o cliente só é "repassado" para a Caixa se a obra estiver financiada e com o imóvel ainda na planta —fora do programa, o comprador entra no financiamento bancário após o empreendimento ser concluído. 

A MRV vem adotando a prática de só computar uma unidade como "vendida" após ela ser repassada da construtora para o banco, em uma tentativa de zerar distratos (cancelamento da compra) em seu balanço.

Com os problemas no processo de contratação, as unidades compradas pelos clientes e repassadas para a Caixa recuaram 27%. Um "volume substancial" de vendas, segundo a construtora, não pôde ser reconhecido no resultado do primeiro trimestre. 

Segundo Paixão, a situação gerada pelo bloqueio foi normalizada em março e o novo contingenciamento do governo não afeta a construtora, que não opera na faixa 1 do programa (para famílias com renda até R$ 1.800 mensais).

"As notícias mais recentes atingem zero [a MRV], não teve [novo] contingenciamento e não tem obra parando", diz Paixão.

Apesar do engasgo no início do ano, ele considera que o primeiro trimestre foi "muito bom" para a companhia. 

Paixão destaca o lucro líquido do período, que avançou 18%, para R$ 189 milhões, e o crescimento de 23% na receita operacional líquida, proveniente do aumento de 24% nas unidades construídas. Foram 9.880 produzidas no primeiro trimestre. 

As despesas comerciais subiram 9,8%, enquanto os gastos gerais e administrativos cresceram 1,3%. Apesar de não haver redução nominal, Paixão observa a diluição dos gastos com uma receita maior.

As despesas com vendas, gerais e administrativas em relação à receita operacional líquida —uma métrica de eficiência—, por exemplo, recuaram 4,2 pontos percentuais e atingiram o menor patamar desde o segundo trimestre de 2015.

O ROE (retorno sobre o patrimônio líquido), importante medida para os acionistas de uma empresa, subiu de 11,5% no ano passado para 15,6%. 

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