Na contramão do país, estados do Sul têm crescimento na indústria

Particularidades da economia da região explicam desempenho blindado mesmo com crise

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Porto Alegre

Enquanto a indústria nacional teve queda de 1,3% em março, os três estados do sul foram os únicos que tiveram alta nas quatro bases de comparação da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) Regional divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (8).

No acumulado dos últimos 12 meses, o Rio Grande do Sul teve o maior crescimento (6,7%), seguido por Paraná (4%) e Santa Catarina (3,7%). Todos os demais estados tiveram queda —o Pará teve alta de 7% no acumulado, mas os outros três índices da pesquisa índices foram negativos. O saldo ficou negativo em nove dos quinze locais pesquisados.

A indústria da região Sul alcançou resultado positivo porque se manteve “blindada" por particularidades das produções locais. Entre elas, a vocação dos polos industriais para atividades que tiveram alta no mês, economia aberta à exportação para escapar da estagnação interna e câmbio que favoreceu concorrência com importados.

O resultado negativo dos demais estados, segundo Rafael Cagnin, economista do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), tem relação com o tipo de indústria desenvolvida. “O resultado depende de qual atividade a região concentra, de qual é o arranjo produtivo local. Assim, se a atividade do polo teve forte queda nacional, ele pode ter uma queda mais abrupta e retração no estado”, explica.

Os produtos do fumo tiveram uma alta de 14,8% no país, de acordo com o IBGE. O índice colabora com o Rio Grande do Sul, que concentra a indústria do setor, por exemplo.

O estado também é um dos casos beneficiados pela taxa de câmbio desfavorável, explica Adalmir Antonio Marquetti, professor da Escola de Negócios da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

“A questão cambial ajuda setores da indústria gaúcha. O preço dos produtos importados aumenta e os produtos locais podem concorrer no mercado interno e externo”, explica. A lógica vale tanto para produtos calçados como para tratores, ambos produtos fabricados no estado, por exemplo.

Além disso, Marquetti explica que a própria crise do estado é uma das razões para o maior crescimento no RS. “A indústria gaúcha sofreu mais. A crise bateu forte. O processo de recuperação, mesmo lento, vai refletir no crescimento. Os números anteriores eram muito ruins”, disse.

Em Santa Catarina, o setor de máquinas e equipamentos é o que tem alavancado a indústria, de acordo com Henrique Reichert, economista do Observatório da Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina).

“Nos últimos anos, o que segurava a economia catarinense era o setor de alimentos e têxtil. Agora se vê a recuperação no setor mais pesado, de bens de capital”, diz Reichert, citando a “diversificação” da indústria no estado.

No Paraná, a diversidade da produção também colaborou para o crescimento da indústria, segundo Júlio Suzuki, diretor de pesquisa do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social). 

A isso, soma-se a exportação de produtos como carnes, rações e caminhões, que fugiram do mercado nacional. “Aqueles estados mais voltados à demanda interna, estão enfrentando mais dificuldades”, explica.

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